domingo, 8 de dezembro de 2024

Força de Trabalho, Exploração e Lucro

Leituras para distrair

No modo de produção capitalista, o trabalhador não vende o seu trabalho. Ele vende a sua força de trabalho por um salário e por uma jornada acertada entre as partes, e o comprador, o patrão, se apropria da mercadoria que a força de trabalho produzir durante o tempo a que tem direito.

Essa relação salário x força de trabalho  que é legalmente aceita, faz parecer que o salário representa uma troca  de dinheiro por trabalho quando não é isso que ocorre, isso é uma ilusão.

Não se trata de uma compra do “trabalho” em troca de salário, mas a compra do direito de uso da “força de trabalho” por um determinado tempo, uma jornada. Cotidianamente tratamos o salário como se fosse o pagamento do trabalho quando o salário é o preço da venda da força de trabalho. Trabalho e força de trabalho são coisas distintas.

O capitalista, patrão, comprador da força de trabalho, pode também comprar diversas outras mercadorias e armazena-las (materiais, ferramentas, máquinas, instalações etc.). Não faria sentido, mas deixadas por si, elas ficarão alocadas onde estiverem e do jeito que estiverem, pelo tempo que forem deixadas lá, e sujeitas ao desgaste natural dos materiais de sua composição.

Podem até serem valorizadas no mercado de trocas se houver escassez de algumas,  mas a tendência e probabilidade maior é o desgaste e desvalorização. Elas não produzirão nenhum outro valor.

Contudo, se o tal comprador, capitalista, reunir certas mercadorias com a mercadoria força de trabalho que ele também tenha comprado, outras mercadorias poderão ser produzidas, e o capitalista poderá levar essas novas mercadorias ao mercado de trocas para vende-las.

A nova mercadoria, produto do uso da força de trabalho, é trocada ou vendida a por um preço maior – geralmente bem maior - do que aquele que o trabalhador recebeu pela venda do uso de sua força de trabalho (esse é o objetivo).

O capitalista então faz a compensação de todos os seus gastos, incluindo os salários que pagou, e se apropria do excedente chamando-o “lucro” que ele sempre buscará aumentar (a rigor, a busca do capital é sempre maximizar uma relação chamada “taxa de lucro”).

A criação de uma nova mercadoria que pode ser vendida por valor maior que o empenhado pelo capitalista na aquisição de meios de produção e de força de trabalho, só é possível pela característica especial da força de trabalho. Só ela – a força de trabalho - é capaz de fazer um novo valor acontecer.

Contudo,  esse mecanismo não é tão evidente. Geralmente, nem o próprio trabalhador ao se deparar com a mercadoria que produziu reconhece nela o seu trabalho. E essa alienação é tão significativa que, em geral, olhamos em volta para as coisas do mundo sem refletir que cada uma delas, sem exceção, salvo os elementos da natureza, só existe porque há na sua composição o trabalho humano, o produto da força de trabalho de alguém ou de muitos.

Essa distância, essa alienação,  entre o trabalhador e o produto da sua força de trabalho, ou seja, o seu trabalho efetivado, passa a impressão que o mundo material existiria sem o esforço do trabalho humano. E uma impressão que, apesar de falsa, é cada vez mais forte nesses tempos de internet, redes sociais, plataformas de trabalho e inteligência artificial.

O programa computacional mais bem elaborado, a máquina mais sofisticada e inteligente ou a cachaça mais saborosa não existiriam sem a força de trabalho humano.

Essa ilusão ignorante interessa a um dos lados da luta de classes: o capital. A aparência que o lucro surge por si só, do nada, com vida própria, como um parto virginal, sem cópula, é conveniente na medida em que esconde o mecanismo de exploração da força de trabalho.

Sob outro olhar (o “nosso”), na medida em que o trabalhador nada recebe desse excedente que só a sua força de trabalho é capaz de produzir e produziu, aquilo  que o capitalista chama de lucro, trata-se de fato de um mecanismo de exploração. É a parte do produto do seu trabalho que o trabalhador não recebe, embora, vale insistir, ele tenha negociado legalmente a venda da sua força de trabalho ao preço de um salário.

Na história da economia (economia capitalista seria um pleonasmo), até hoje, há mais de 150 anos, apesar das várias tentativas, nenhum teórico conseguiu apresentar outra justificativa para a origem do lucro.

Karl Marx, que dedicou parte significativa de sua vida ao estudo dessas relações, desvelou esse mistério, tão conveniente para os capitalistas, e registrou seus estudos e anotações que se desdobraram em 3 volumes sob o título geral “O Capital - Crítica da Economia Política”.

Não é por outro motivo que os economistas clássicos odeiam o velho Mouro e tentam disfarçar suas formulações e excluir suas análises e conclusões, embora nunca tenham conseguido.

A pergunta “de onde vem o lucro?” deixa economistas e capitalistas apavorados. Por isso, fogem do Mouro como o diabo da cruz. ### 

Nenhum comentário:

Postar um comentário