domingo, 11 de novembro de 2018

Conversas para um terceiro turno - Parte 3 de 3


Opinião

Esses registros não são conclusivos nem completos. São uma tentativa de organizar reflexões sobre possíveis ações e posicionamentos a propósito de alguns tópicos que estão na pauta política.

Parte 3/3 – Somos a afirmação dos nossos projetos (Tempo estimado de leitura 5 minutos)

Queremos uma Petrobrás nacional e pública explorando o petróleo nosso. Porque o sistema Petrobrás  é um poderoso instrumento econômico para a sustentação de um projeto social carente de recursos. Não apenas aqueles advindos das privatizações ou de contribuições fiscais, mas também aqueles obtidos pela exploração do negócio do petróleo. Além do mais, só um controle público do sistema Petrobrás permitirá que essa mega instituição seja vetor de orientação de políticas públicas como educação, geração de postos de trabalho, indústrias de base, indústria naval, desenvolvimento de ciência e tecnologia,  de educação, e de estímulo a indústria nacional, entre outros.

Queremos a manutenção e a reapropriação das nossas grandes estatais. Essas empresas são empreendimentos de porte que foram realizados a custa do trabalho e da riqueza produzida pelos brasileiros. Elas são recursos de indução e fomento de políticas públicas. Queremos usufruir e aproveitar esses recursos em benefício da nossa sociedade. Não concordamos em abrir mão desses recursos, privatizando-os para que sejam destrinchados como filé e osso e explorados como negócios lucrativos pelo capital multinacional.

Queremos uma educação pública de qualidade e universalizada. Uma educação formadora de uma sociedade  pensante e crítica. Com cidadãos habilitados para desenvolverem suas capacitações nos campos diversos da atividade humana. Queremos uma educação que não discrimine preconceituosamente as atividades manuais e intelectuais, mas a educação que queremos deve ir bem além da formação de mão de obra para nos processos de produção, mas consumível e descartável conforme os interesses das corporações.[6]

Queremos uma legislação trabalhista que resguarde e amplie direitos e ganhos de quem efetivamente produz a riqueza que são os trabalhadores. Essas questões não podem estar à mercê de negociações circunstanciais onde as correlações de forças são absurdamente desiguais, especialmente no estado atual do desenvolvimento dos meios de produção. O conflito capital x trabalho não é de natureza ética ou moral. É uma decorrência do modo de produção. É absolutamente falsa a expectativa de que  os acionistas, os proprietários ou os dirigentes das grandes corporações tenham qualquer compromisso com garantias de emprego e ganhos para os trabalhadores sem uma obrigação institucional. Isso porque essas garantias são congenitamente conflitantes com suas naturezas e com os seus  objetivos de garantia e aumento das taxas de lucros.

Queremos garantia de previdência e assistência social porque a vida e a saúde dos trabalhadores não são eternas. Ainda que fossem, entendemos que o ser humano deve ter no trabalho uma realização e não uma relação escravizada sem qualquer perspectiva e despejado em cova rasa, ao fim da vida, como material inservível. Queremos tratar sobre o que é necessário para assegurar esse projeto. Sobre quem tem mais ou menos capacidade de contribuição. Sobre quais os condicionantes e obrigatoriedades de contribuição, etc. Além do mais, grande parte da nossa sociedade ainda vive em condições de saúde reelações de trabalho praticamente medievais. Nossa ordem de prioridades é inversa daquela que busca esse assunto a partir das necessidades para a viabilização de empresas e corporações.

Queremos mudar duas frações malditas: 5/95 e 6/100. No Brasil, os 5% mais ricos detêm a mesma fatia de renda que os demais 95% da população. Além disso, numa população de 210 milhões de habitantes, as seis pessoas mais ricas concentram, juntas, a mesma riqueza que os 100 milhões mais pobres. Alterar essas relações deve ser, para nós, uma obrigação. Essas relações ainda são agravadas quando quando se analisa as tributações sobre esses concentradores de riquezas versus o restante da sociedade. Ninguém deveria ficar indiferente a esses números. Eles são tão absurdos que chegam a ser inacreditáveis, mas resultam de trabalhos realizados por pesquisadores sérios, com divulgação pública e baseados em dados da receita federal [7].

Precisamos, sim, de enormes empreendimentos. Água, energia, transportes, agricultura, pecuária, indústria pesada, tecnologia de ponta. Nosso país tem recursos para tal e isso significa imperativamente projetos de vulto e até de impacto ambiental. Mas, o nosso fim é a distribuição da riqueza e usufruto dos seus benefícios. Não queremos destruir o país. Não alcançaremos os nossos objetivos destruindo os nossos recursos. Destruir recursos naturais é um meio que só atende ao projeto de concentração. Essas devem ser as referências que nos orientarão na tratativa dos projetos que avançam na destruição dos nossos ecossistemas.

 [6]
Jornal da Band entrevista o presidente eleito Jair Bolsonaro - Publicado em 29 de out de 2018 –Nessa entrevista o presidente eleito expõe sua visão de uma educação exclusivamente para a qualificação profissional técnica. Explicita que “a filosofia de Paulo Freire deve ser deixada de lado”. Ver trecho 11m 46s - Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=ltUN6iBMroQ>.Acessado em 04/11/2018.

[7]
Seis brasileiros concentram a mesma riqueza que a metade da população mais pobre – Jornal El País – 25/09/2017 – Matéria sobre a concentração de riqueza no Brasil baseada em estudo realizado pela Oxfam – Disponível em < https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/22/politica/1506096531_079176.html> Acessado em 04/11/2018.
Oxfam (Oxford Committee for Famine Relief ) International  - Confederação de organizações reconhecida internacionalmente - atua em mais de 90 países. https://www.oxfam.org.br/
Perfil da Desigualdade e da Injustiça Tributária - com Base nos Declarantes do Imposto de Renda no Brasil  2007—2013. Realizado pela Oxfam e Instituto de Estudos Socioeconômicos – INESC – Brasília – 2016 – Disponível em https://www.oxfam.org.br/sites/default/files/arquivos/livreto_injustica_tributaria_pt_v2_web_-final.pdf Acessado em 04/11/2018

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