Opinião
Esses
registros não são conclusivos nem completos. São uma tentativa de organizar
reflexões sobre possíveis ações e posicionamentos a propósito de alguns tópicos
que estão na pauta política.
.
Parte 2/3 - Como
atuar nesse cenário? (Tempo estimado de leitura 5 minutos)
Um ponto
importante em relação à nossa forma de atuação deve ser o ajuste das nossas expectativas.
Não há fato que indique a possibilidade de uma reversão brusca do quadro político
(pelo menos, até agora). Ainda estamos no período de outorga do poder
resultante das urnas. A partir da posse, em janeiro 2019, o governo eleito terá
acesso pleno aos instrumentos de poder. O novo governo representa um poderoso
sistema político que tem entre os seus objetivos eliminar as representações de
esquerda em nosso país. Isso foi dito e repetido ao longo da campanha. Então, o
correto é supor que ele atuará com toda a força e competência, que já
demonstrou ter, para excluir qualquer possibilidade de oposição. Essa expectativa não quer dizer que devemos aceitar o fato
como um vaticínio divino. Ao contrário, nossa ação deverá ser enfrentar e
revidar, além de promover as atividades que façam avançar o projeto de
sociedade que queremos. Mas, sem desespero nem fantasias. Com uma visão clara
sobre o que está ocorrendo.
Outra ação
importante e necessária de realizar será a manutenção do volume da oposição. O
resultado eleitoral apontou uma diferença percentual de 10,3% que corresponde a
cerca de 10,7 milhões de votos. Considerando os interesses que representa e com
o seu perfil, o novo governo deverá cagar e andar para as proporções do
resultado. Mas, não desistirá desse alvo, dessa massa de eleitores que declarou
explicitamente o voto contra ele. Será um equívoco tratar esses eleitores como uma
massa atrelada por um cabresto de oposição. Mesmo ela estará em disputa e
precisará ser mantida como aliada. Ela é a base de qualquer esperança de
transformação. Não fará sentido tentar
angariar novos opositores sem a preocupação de manter e consolidar a base de
oposição identificada no processo eleitoral.
A tarefa
mais difícil: aumentar o volume de opositores sem esperar ou torcer pelo pior.
Sair das bolhas. Tentar conversar com pessoas que endossaram a proposta
fascista. Aturar e superar argumentos que já contestamos. Mas,
há uma diferença que pode ser positiva. Antes, as discussões incluíam a
disputa de candidaturas que em muitos casos prejudicava as discussões. A tarefa
agora é promover o debate de teses, propostas e projetos tentando identificar
potenciais adeptos e distingui-los dos fascistas ideológicos.
É preciso
construir aquilo que os partidos não
lograram construir. Um engajamento de oposição com visão crítica e ciente dos
sujeitos políticos e dos seus interesses. Esse trabalho precisa ser permanente.
No período eleitoral, que é curto e determinado, é válida a interpretação do “voto conquistado”, mas no cotidiano social isso é
um erro. O governo eleito utilizará os recursos que já utilizou durante a
campanha eleitoral e, ademais,
contará com os instrumentos de poder
para a propaganda das suas teses. Vizinhos, familiares, colegas de trabalho,
conhecidos comuns. Nas campanhas tentamos identificar esses grupos para ganhar
votos. Agora e em todo o período que vem pela frente precisamos formar grupos e
promover discussões sobre os principais temas políticos. Se não fizermos isso
ficaremos isolados, e até mesmo alguns poderão ser cooptados pela propaganda da
situação.
Pensar.
Refletir. Elaborar. Revisar. Traduzir. Interpretar. Argumentar. Contrapor. Mais
do que nunca. Orientar o eixo dos debates para os temas políticos e para as propostas e ações que valorizamos. Qualificar
o governo eleito a partir de suas ações. As adjetivações do tipo bom, honesto,
mau ou corrupto podem estar corretas, mas são reduções que não deixam espaço
para conversas e que despertam as rejeições que favoreceram os votos na direita.
Não nos cabe fazer alardes precipitados diante do anúncio de algumas nomeações
de composição do governo. Não temos qualquer poder de veto ao projeto fascista.
Ele governará com os seus quadros. O
real significado das suas nomeações tem sido desvelado, até mesmo na imprensa
internacional. Não precisamos fazê-lo. A gritaria precipitada só servirá como
filtro e soará como um alerta para o governo aprimorar as suas escolhas, mas sem
mudar o seu projeto. Além disso, conforme a gritaria, o passo seguinte poderá
ser a cobrança de nosso compromisso com uma nova indicação. Uma armadilha. Agindo
assim, seremos os idiotas úteis. [4] [5]
Uma atuação
mais engajada deverá ser feita a partir do movimento organizado nas diversas
dimensões, especialmente os partidos e os sindicatos. Caberá ao movimento
organizado empenhar-se para que ocorra a ocupação dos espaços e o debate
público das questões que devem ser trazidas para as ruas. Será preciso que
estejam dispostos a isso e não se percam no conforto das negociações de
gabinetes, com ar condicionado e cafezinhos. A palavra de ordem “ele não” foi
derrotada nas urnas, isso é um dado da realidade. Então, o que precisamos
promover como objetos da mobilização social são as nossas propostas, as nossas
críticas e as contradições do governo – que certamente serão muitas. A rejeição
ao governo eleito virá como consequência. A nossa tarefa é fortalecer esse
movimento, essa dinâmica para dias que
imaginamos estejam por vir. É assim que nos cabe contribuir. Haverá também uma
dinâmica dos dias reais, mas essa será promovida pelas ruas, como tem sido
historicamente.
Referências
[4]
“Jair Bolsonaro promises senior job to judge who
jailed his rival (Jair Bolsonaro promete emprego a juiz que prendeu seu rival” – Manchete do The Sunday
Times (Times) replicada em importantes jornais do mundo
inteiro desvela aspectos do governo eleito. No caso, a recompensa recebida pelo
juiz que chutou o pau da barraca para
garantir a prisão de Lula. Disponível em <https://www.thetimes.co.uk/article/jair-bolsonaro-promises-senior-job-to-judge-who-jailed-his-rival-5zc26t7p8>
Acessado em 11/11/2018
[5]
“Até
os mitos desiludem “ – Observações em coluna de Luis Fernado Verissimo em
jornal O Globo sobre “recompensa (se não é, parece) por ter
despachado o Lula para a cadeia ligeirinho e publicado a delação do Palocci
contra o Lula dias antes da eleição” – Disponível em < https://oglobo.globo.com/opiniao/desilusoes-23218971#ixzz5WHgMHAVb>
- Acessado em 11/11/2018.
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