sábado, 13 de setembro de 2025

Nem brasileira, nem popular

 Leituras para distrair

Um sujeito vestindo um saiote  estampado e tocando uma gaita de foles. Essa será a primeira lembrança trazida pela palavra “escocês”, quando não for o uísque.

O saiote chama-se Kilt e Tartan é o nome do tecido em xadrez. Eu sempre pensei que aquela vestimenta fosse uma tradição de identificação dos clãs escoceses, até aprender que a tal “tradição” é fake.

Mesmo aqueles rituais com os caras de saiotes tocando a gaita de foles, tudo aquilo é uma tradição inventada (1). Uma fake que pegou. Sobre o uísque,  ainda tenho muito o que aprender.

Lembro esse assunto ao pensar no Dia Nacional da Cachaça, 13 de setembro, celebrado  em data que resgata uma revolta por conta da corte portuguesa proibir a produção e o comercio da cachaça no Brasil.

Não foi um movimento qualquer, contudo apesar da importância cultural da nossa popular cachaça, cuja história é aderente à própria história da formação do nosso país, a revolta, onde se foi buscar a data de referência para o Dia Nacional da Cachaça, nada teve de brasileira e muito menos foi popular.

Foi uma trama de proprietários portugueses, latifundiários, senhores de escravos, fiéis à coroa e circunstancialmente indignados com as políticas tributárias da corte que prejudicavam os seus negócios. Na ocasião não existia sequer conceito de brasilidade ou de cidadania brasileira.

As circunstâncias que levaram à revolta nos anos seiscentos estão bem distantes dos aspectos que fizeram a cachaça tornar-se o que se tornou: um símbolo cultural da identidade brasileira, bebida nacional com centenas de designações pelo país afora, produzida em todas as unidades da federação, presente em todas as nossas representações artísticas e literárias e objeto de interesse e de uma quantidade enorme de estudos e pesquisas universitárias.

Assim, a relação direta de uma “revolta” com o Dia Nacional da Cachaça sem as devidas mediações históricas poderá ser a invenção de uma tradição. Mas, isso faz parte da história do mundo, um bom tema para se conversar lambendo umas.

(1) HOBSBAWN, Eric; RANGER, Terence. A invenção das tradições.  Paz e Terra – RJ, 1997.

Publicado originalmente em "Pinga nos III" - 33 -  Agosto - Setembro 2025, um jornal da Confraria de Cachaça Copo Furado Rio de Janeiro.

Para saber mais sobre esse assunto: Uma revolta sem heróis ; Um golpe gonçalense

Um comentário :

  1. Salve, Jorsan: Unidos beberemos! Sozinhos também! Abração do Crenato.

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