Leituras para distrair
Um sujeito vestindo um saiote
estampado e tocando uma gaita de foles. Essa será a primeira lembrança
trazida pela palavra “escocês”, quando não for o uísque.
O saiote chama-se Kilt e Tartan é o nome do tecido em xadrez.
Eu sempre pensei que aquela vestimenta fosse uma tradição de identificação dos
clãs escoceses, até aprender que a tal “tradição” é fake.
Mesmo aqueles rituais com os caras de saiotes tocando a gaita
de foles, tudo aquilo é uma tradição inventada (1). Uma fake
que pegou. Sobre o uísque, ainda tenho
muito o que aprender.
Lembro esse assunto ao pensar no Dia Nacional da Cachaça, 13
de setembro, celebrado em data que resgata
uma revolta por conta da corte portuguesa proibir a produção e o comercio da
cachaça no Brasil.
Não foi um movimento qualquer, contudo apesar da importância
cultural da nossa popular cachaça, cuja história é aderente à própria história
da formação do nosso país, a revolta, onde se foi buscar a data de referência
para o Dia Nacional da Cachaça, nada teve de brasileira e muito menos foi popular.
Foi uma trama de proprietários portugueses, latifundiários, senhores
de escravos, fiéis à coroa e circunstancialmente indignados com as políticas tributárias
da corte que prejudicavam os seus negócios. Na ocasião não existia sequer conceito
de brasilidade ou de cidadania brasileira.
As circunstâncias que levaram à revolta nos anos seiscentos
estão bem distantes dos aspectos que fizeram a cachaça tornar-se o que se
tornou: um símbolo cultural da identidade brasileira, bebida nacional com centenas
de designações pelo país afora, produzida em todas as unidades da federação,
presente em todas as nossas representações artísticas e literárias e objeto de
interesse e de uma quantidade enorme de estudos e pesquisas universitárias.
Assim, a relação direta de uma “revolta” com o Dia Nacional
da Cachaça sem as devidas mediações históricas poderá ser a invenção de uma
tradição. Mas, isso faz parte da história do mundo, um bom tema para se
conversar lambendo umas.
(1) HOBSBAWN,
Eric; RANGER, Terence. A invenção das tradições. Paz e Terra – RJ, 1997.
Publicado originalmente em "Pinga nos III" - 33 - Agosto - Setembro 2025, um jornal da Confraria de Cachaça Copo Furado Rio de Janeiro.
Para saber mais sobre esse assunto: Uma revolta sem heróis ; Um golpe gonçalense
Salve, Jorsan: Unidos beberemos! Sozinhos também! Abração do Crenato.
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