segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Copacabana - 21/09/2025

 

Opinião

 

Cheguei tarde no ato em Copacabana, ontem, domingo - 21/09/2025. Tive outro compromisso. Mas, fiz questão de comparecer para que a ferramenta da USP que contabiliza multidões incluísse a minha careca. Ainda assim, no período em que estive lá, teve Caetano, Ivan Lins, Zeca Baleiro, Frejat, outros . . . e Chico. Quem poderia pedir mais?

Festa boa e fim de festa especial, nada de bagaço da laranja. A cara de uma geração, a minha, certamente , talvez a nossa. As pessoas passavam cantando emocionadas. Bonito de ver.

O que mais ouvi e li  foram comentários falando da emoção. Até mais do que críticas políticas. Pudera! Um “revival” com a galera que participou desse evento é coisa de "machucar" o coração da nossa geração. Aprendemos assim.

As repercussões políticas saberemos depois. A direita fascista, incluindo alguns deputados petistas – esse fato não deveria ser esquecido - não teve constrangimentos em avançar seu projeto na Câmara dos Deputados. Assim, não creio que as manifestações tenham sido suficientes para inibi-los. O Senado, por sua vez, ainda  está com o pé atrás. Nosso papel é esse: pressionar.

Ouvi a indicação de um jornalista sugerindo que não deveríamos generalizar o termo "congresso". Afinal, 133 deputados votaram contra a PEC da bandidagem. Acho que faz sentido, pensarei nisso, mas é irresistível não traduzir  a sigla PCC como Primeiro Comando do Congresso.

O desdobramento da minha participação será ouvir, ver e ler os noticiários e como esses fatos reverberam. Outro dia registrei um comentário sobre a alternativa de fazermos atos musicais em vez dos enfadonhos discursos polítricos que não agregam nada e ninguém.

Uma amiga observou: "se essa história de comícios musicais colar, já pensou que desgraceira vai ser os comícios com Chitãozinho, Xororó, Gustavo Lima e por aí?"

Também tinha pensado nisso. Apavorei-me! #####


Um complemento

 O que me apavora não tem a ver com o conteúdo, preferência ou preconceito musical. Ao contrário, estou entre os admiradores da pluralidade artística em nosso país que vejo como mérito, especialmente no caso da música.

Não cago regras sobre qualidade artística, gosto é gosto, e tem gosto pra tudo. A minha avó dizia: “_mais vale um gosto que dez vinténs_”. Apavora-me é a consciência da capacidade de mobilização dos artistas sertanejos que citei, além de outros – que sequer conheço – e que são apoiadores, estimuladores ou apenas participantes de eventos patrocinados pela direita fascista, como já acontece em diversas cidades do país.

Os meus ídolos musicais (que ainda são os mesmos), talvez nossos, nunca foram artistas de mobilizar multidões, em que pese o brilhantismo de suas capacidades artísticas. E nesse aspecto, a direita leva uma enorme vantagem.

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sábado, 13 de setembro de 2025

Nem brasileira, nem popular

 Leituras para distrair

Um sujeito vestindo um saiote  estampado e tocando uma gaita de foles. Essa será a primeira lembrança trazida pela palavra “escocês”, quando não for o uísque.

O saiote chama-se Kilt e Tartan é o nome do tecido em xadrez. Eu sempre pensei que aquela vestimenta fosse uma tradição de identificação dos clãs escoceses, até aprender que a tal “tradição” é fake.

Mesmo aqueles rituais com os caras de saiotes tocando a gaita de foles, tudo aquilo é uma tradição inventada (1). Uma fake que pegou. Sobre o uísque,  ainda tenho muito o que aprender.

Lembro esse assunto ao pensar no Dia Nacional da Cachaça, 13 de setembro, celebrado  em data que resgata uma revolta por conta da corte portuguesa proibir a produção e o comercio da cachaça no Brasil.

Não foi um movimento qualquer, contudo apesar da importância cultural da nossa popular cachaça, cuja história é aderente à própria história da formação do nosso país, a revolta, onde se foi buscar a data de referência para o Dia Nacional da Cachaça, nada teve de brasileira e muito menos foi popular.

Foi uma trama de proprietários portugueses, latifundiários, senhores de escravos, fiéis à coroa e circunstancialmente indignados com as políticas tributárias da corte que prejudicavam os seus negócios. Na ocasião não existia sequer conceito de brasilidade ou de cidadania brasileira.

As circunstâncias que levaram à revolta nos anos seiscentos estão bem distantes dos aspectos que fizeram a cachaça tornar-se o que se tornou: um símbolo cultural da identidade brasileira, bebida nacional com centenas de designações pelo país afora, produzida em todas as unidades da federação, presente em todas as nossas representações artísticas e literárias e objeto de interesse e de uma quantidade enorme de estudos e pesquisas universitárias.

Assim, a relação direta de uma “revolta” com o Dia Nacional da Cachaça sem as devidas mediações históricas poderá ser a invenção de uma tradição. Mas, isso faz parte da história do mundo, um bom tema para se conversar lambendo umas.

(1) HOBSBAWN, Eric; RANGER, Terence. A invenção das tradições.  Paz e Terra – RJ, 1997.

Publicado originalmente em "Pinga nos III" - 33 -  Agosto - Setembro 2025, um jornal da Confraria de Cachaça Copo Furado Rio de Janeiro.

Para saber mais sobre esse assunto: Uma revolta sem heróis ; Um golpe gonçalense

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Êxtase e Agonia

 Opinião

Se o dia 09 de setembro, último, foi um dia de êxtase para a militância da esquerda, com os votos de Xandão e Dino condenando a cúpula fascista pela prática do golpe, o dia seguinte foi de agonia e desânimo com o voto do peruquento Fux.

O voto de Fux no não foi apenas um voto em favor do Bozo e da cúpula fascista, mas também um voto de desqualificação dos trabalhos de acusação da PGR, da relatoria, e até das investigações da Policia Federal. Foi também um voto de estímulo para a sanha golpista que não terminou com os atos de 8 de janeiro de 2023, mas que permanece viva e pululante entre as bancadas de oposição no congresso nacional.

A quarta-feira (10) foi um dia de frustração que pareceu que não iria terminar, com aquela figura escrota fazendo uma descrição dos fatos que deixou perplexas até mesmo as bancadas de defesa, embora elas tivessem uma certa expectativa otimista contando com algumas divergências já anunciadas pelo próprio Fux.

Contudo, surpresa! Boquiabertos e impedidos de fazer intervenções por um acordo preliminar proposto pelo próprio peruquento, a moçada da primeira turma do STF, assim como toda a militância progressista sofreu um dia torturante. A vontade comum era que o peruquento declarasse logo a absolvição da malta criminosa, desde que acabasse com o martírio provocado pela leitura do seu voto.

Os jornalistas que acompanham os trabalhos no STF com suas fontes e análises erraram feio. Todos subestimaram suas avaliações sobre o Fux. Nem os mais pessimistas imaginavam que ele desceria até onde foi. Se fosse o caso, se fizesse parte do processo, o peruquento seria capaz até de declarar que nunca existiu uma pandemia, nem as 700 mil mortes para as quais colaborou a prática genocida da cúpula fascista que ele absolveu.

Fica uma questão: será que também estarão erradas as expectativas em relação aos votos de Cármen Lucia e de  Zanin?

Hoje, 11/09, é data simbólica. Em 1973 o golpe no Chile e a morte de Allende. Em 2001 a derrubada das torres gêmeas nos EUA. Como será, para nós, esse 11 de setembro de 2025? #####

terça-feira, 9 de setembro de 2025

Por um DJ engajado!

 Opinião

Estive presente na Marcha dos Excluídos (RJ) que esse ano incluiu em seus temas a manifestação contra a anistia dos fascista que estão sendo julgados no STF. A concentração para a Marcha foi na esquina das ruas Uruguaiana e Presidente Vargas, no centro da cidade, em ponto vizinho ao tradicional desfile militar que ocorreu no mesmo dia, 07/09/2025.

Em conversa com uma amiga, ao lado do carro de som onde desfilavam as “intervenções” de dois minutos dos representantes das entidades participantes do evento, surgiu uma questão:

 

Por que os discursos nos atos políticos da esquerda são tão chatos, tão desimportantes, e quase insuportáveis?

 

Salvo em situações ou oradores super especiais, não presto a mínima atenção aos discursos nos atos políticos, embora tenha que tolerá-los, contribuindo com a minha presença porque a quantidade de manifestantes valoriza o ato.

Discursos talvez sejam importantes para o gado direitista que via de regra precisa ser hipnotizado e guiado pelos ditos influencers. A galera da esquerda que comparece aos atos políticos não está lá por um impulso inconsequente nem atendendo a um chamado messiânico. Aliás, se for assim, a meu juízo é melhor que não compareça. Os participantes sabem o que estão fazendo lá, não precisam desse tipo de convencimento,  e as tais “falações” não contribuem com nada.

Na concentração, entre os discursos aporrinhantes  que ouvi, um orador, certamente sem ter o que falar, mas sem abrir mão de ocupar o microfone,  fez recomendações para que eu estivesse atento ao meu voto em 2026.

Puta que pariu!  Saio num domingo ou feriadão para engrossar e referendar um ato político que acho importante, e ouço uma recomendação desse tipo de um boquirroto que perdeu a oportunidade de ficar calado. Tenha paciência!

Seria bom se os coordenadores dos atos, via de regra emergentes das organizações sindicais, mudassem suas abordagens. Quem sabe uma cantoria, uma música, uma festa. Já estamos em campo, precisamos mais dos cantos e dos batuques de animação para as lutas do que essas falações água de batata, que só enchem o saco sem despertar a atenção de um único participante, e sem agregar uma vírgula sequer às nossas motivações.

Por razões históricas, o repertório musical nacional está repleto de obras de fundo e motivações políticas que embalam multidões de militantes em seus primeiros acordes. Seus refrões dizem muito mais que os recorrentes e insípidos discursos de representantes de entidades,  na medida em que são sínteses emocionais e poéticas de desejos e de experiências de lutas.

Não se trata de excluir completamente os discursos, há a necessidade de divulgar informações, apoios, participações etc. Contudo, vale resgatar que as cantorias políticas já decorrem justamente dos discursos e dos enfrentamentos. Em coro e por serem populares, são capazes de elevar as manifestações a um patamar bem superior de participações. Precisamos de um DJ engajado!  ###