Leituras para distrair
Nas
religiões de origem africanas, e também em outras que nem sei exemplificar, há
um ritual comum: o banho de descarrego.
Com águas puras ou misturadas com sais ou ervas, o
banho de descarrego é um ritual que limpa. Descarrega as chamadas “energias”
negativas do indivíduo. Limpa o sujeito. Prepara-o para novas adversidades.
Em
minha casa, na infância, ele era feito em uma bacia. Sem compreender direito o
que estava ocorrendo, em pé, na bacia, pelados, éramos banhados com uma cuia utilizada
para despejar sobre nós a água que
escorria na própria bacia.
O banho de descarrego não é uma novidade nas
praticas religiosas, cada uma delas, ao seu modo e com suas peculiaridades, tem
o seu banho. Na macumba (muitos religiosos umbandistas e similares não gostam
que se refira à religião por esse termo) é assim. O banho descarrega e alivia.
Daí o seu nome.
Os
maravilhosos sambistas Arlindo Cruz,
Sombrinha e Sereno compuseram um hino que diz assim:
Vovó
Maria me ensinou que é muito bom, muito legal tomar um banho de ervas, tomar um
banho de sal. Uns tomam banho de lua, uns tomam banho de sol, uns tomam banho
de chuva, lá no no fundo do quintal ... Mas pra se ter a certeza que banho só
traz axé, seja banho de cheiro, banho de arruda, banho de guiné ... o mais
importante é a fé. Se você é de rodar ou se é de bater tambor, faça o favor,
tome um banho de Abo.
Na língua
yorubá, o banho de ervas é um banho de Abo.
Foi
a sensação que tive hoje, 19/06/2021, após a manifestação contra o Bozo
genocida. Um banho de Abo. No último dia 29 de maio eu estava prejudicado. A porra da Covid me
pegou no dia 27, mesmo protegido (suponho) pelas duas doses de coronavacs que
já havia tomado, e não pude comparecer. Mas, hoje eu fui. Que coisa boa!
Concentrei
no monumento Zumbi, "fim" da
passeata que descia a Presidente Vargas
desde a Praça Onze até não sei onde.
Talvez Candelária. Quando caminhei, antes da passeata iniciar, já tinha gente até a altura do Campo de
Santana. A passeata saiu às 12 horas e ainda estava chegando gente.
Eu
dispersei na altura da Uruguaiana - não sei dizer sobre o movimento dali para
frente. Vi poucos velhinhos. Muitos jovens, não necessariamente garotos. Entre
30 e 40 anos. Foi um banho que lavou um pouco a alma. Impressionante como a
máquina reclama. Estou bem acostumado a caminhar e ainda assim achei cansativa.
Melhor idade é o caralho! Velhice é foda! Segui ao lado da galera do PSTU e
configurei-me no modo COVID: junto sem estar misturado.
Ainda
trouxe para casa raiva e ódio por esse governo escroto, mas os penduricalhos,
aqueles que nos fazem mal e trazem
tristeza e depressão ficaram por lá. Junto com aquela meninada que sassaricava
e batia tambores. Que apostava a vida naquela mobilização.
Que
bom que me transformei nessa coisa, nesse militante inconformado. Tomara que eu
continue assim. Hoje, estranhamente, sou mais emotivo. As tantas passeatas,
caminhadas e agitações que participei não me fizeram indiferente, tipo: de já vu. Acho bom que seja assim.
Uma
moleca em pernas de pau, ao meu lado, consegue fazer trejeitos que eu não faria
nem se assistido por um treinador pessoal. Precisamos de outras manifestações
como essa. O Bozo e seus seguidores cairão se forem derrotados nas ruas. Não
chorei, mas a voz embargou quando ouvi as repetidissimas palavras de ordem. A
máscara permitiu confortavelmente os disfarces.
Fora
Bozo! Fora filho da puta! Não importa se “... _você é de angola é de ketu ou de nagô. Faça o favor, tome um banho
de Abô_...” Faremos um mundo melhor.
Foi
um bom jeito de celebrar o aniversário do meu companheiro Hercílio que vive lá
em Recife.
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