sexta-feira, 16 de março de 2018

Para Marielle e Anderson


Opinião
Impossível conter a emoção. Duas vidas que se foram. Tristeza e luto para os seus familiares, amigos e companheiros próximos de luta e militância. Mas, os assassinatos da vereadora carioca e do seu motorista também são uma lição para os demais militantes que partilhamos dos mesmos ideais de luta. É assim que o sistema reage quando sente que batemos forte. E não nos iludamos, só avançaremos batendo forte. Já está claro que, nesse processo, a apregoada democracia é o primeiro valor que a reação manda para o espaço e que a tentativa de eliminação política é ato recorrente. Mas, quando conseguimos levar a disputa para as ruas, num campo onde as máscaras já não disfarçam as intenções, então a coisa muda. A reação parte para a eliminação física. Foi isso que aconteceu com a companheira vereadora Marielle e, consequentemente, com o motorista Anderson cujo trabalho era realizar o seu trasnsporte.

A dor amanheceu em nossa porta. A enorme quantidade de pessoas que se concentrou em frente à Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro desde a manhã de hoje, 15/03/2018 e, mais tarde, em frente à Assembleia Legislativa atendeu com garra às palavras de ordem que apelavam os nomes de Marielle e  Anderson, mas também com grande dificuldade. Responder “Presente!” e “Sempre!” não foi simples, na medida em que muitos dos gritos de resposta foram embargados por choros contidos de integrantes de uma multidão visivelmente emocionada, apesar de coesa pelo desejo de transformar a nossa realidade.

Façamos desse fato uma reflexão sobre ocorrências similares pelo Brasil a fora e que, embora gravíssimas, não repercutem como os fatos do Rio de Janeiro, nem nos emociona tão fortemente, porque ocorrem distantes do nosso cotidiano, em ambientes que para nós são quase não lugares.

Outros companheiros tem sido assassinados em rincões do país onde enfrentam jagunços e milícias, quando não se deparam com a própria força policial estatal que realiza sem constrangimentos o papel de cães de guarda de sistemas corruptos. São muitos os casos onde trabalhadores são obrigados a assistir a degradação emocional, a tortura e até a eliminação física de outros que se destacam como líderes em suas reivindicações. Situações que, para nós, aparecem como fatos distantes, geralmente com narrativas filtradas por  editorias de jornais  que banalizam os acontecimentos. Devemos imaginar a dor daqueles companheiros como aquela que sentimos hoje.

O evento do Rio de Janeiro é uma lição. Nós estamos com a razão, embora sejamos vulneráveis, mas não estamos sós. A identificação política que se expressou, hoje, na Cinelândia e na Praça XV vai bem além do Rio de Janeiro, e deu mostras que há um núcleo de identificação política e cultural que pode nos permitir avançar para uma sociedade melhor. Mas, é preciso seguir em frente batendo forte e metendo os dedos nas feridas. Essa será a maior homenagem que poderemos prestar a esses tantos companheiros que sofreram duras penas por não se dobrarem e imporem os seus direitos e as suas reivindicações.

Companheiros militantes da liberdade e da solidariedade! Presentes! e Sempre!


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