sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Não confundir ingênuos com traidores

Leituras para distrair

Um grande amigo mandou-me de presente um texto para leitura. Partilhamos as mesmas aspirações sobre as questões sociais, estivemos juntos em várias empreitadas defendendo nossas ideias, desenvolvemos uma forte amizade pessoal e, naturalmente, aprendemos a trocar impressões e reflexões, especialmente quando o horizonte fica com um aspecto de tempo ruim, quando é difícil  identificar o melhor caminho a seguir. 

O texto chegou em boa hora. O autor é um poeta argentino chamado Alejandro Pablo Rubino, pelo menos até onde pesquisei. Digo isso porque este texto também foi divulgado como da autoria de outro poeta argentino, mais conhecido, chamado Paco Urondo. Acho que é uma dessas confusões típicas da internet.
Recebi o texto em português, mas sem o registro do tradutor. Achei uma boa tradução, embora eu mesmo tenha trocado uma ou outra palavra caracterizando a minha versão. Mas, o texto original está em seguida para quem se interessar.
Vale o conteúdo. Gostei muito. O título é “Instruções para enganar o mau tempo” . O autor usou a expressão “capear el mal tiempo”. O termo espanhol “capear” se refere ao movimento que os toureiros fazem com a capa para ludibriar, enganar ou distrair os touros em suas pelejas. Acho que diversos companheiros com quem tenho trocado conversas também gostarão de ler. Então resolvi registrá-lo no blog.

################
Instruções para enganar o mau tempo
Autor: Alejandro Pablo Robino

Em primeiro lugar, não se desespere e em caso de agitação não siga as regras que o furacão quererá lhe impor.
Refugie-se em casa e feche as trancas quando todos os seus estiverem a salvo. 
Compartilhe o mate e a conversa com os companheiros, os beijos furtivos e as noites clandestinas com quem lhe assegure ternura.
Não deixe que a estupidez se imponha. 
Defenda-se. 
Contra a estética, ética. 
Esteja sempre atento.
Não lhes bastará empobrecê-lo, e quererão subjugá-lo com sua própria tristeza.
Ria ostensivamente.
Tire sarro: a direita é mal fudida.
Será imprescindível jantar juntos a cada dia até que a tormenta passe.
São coisas simples, mas nem por isso menos eficazes.
Ao seu lado diga bom dia, por favor e obrigado.
E tomar no cu quando o solicitem de cima.
Atire com o que tiver, mas nunca sozinho.
Eles sabem como emboscá-lo na solidão desprevenida de uma tarde.
Lembre que os artistas serão sempre nossos. E o esquecimento será feroz com o bando de impostores que os acompanha. 
Tudo vai ficar bem se você me ouvir.
Sobreviveremos novamente, estamos maduros. 
Cuidemos das crianças que eles quererão amoldar.
Só é preciso se munir bem e não amesquinhar amabilidades.
Devemos ter à mão os poemas indispensáveis, o vinho tinto e o violão.
Sorrir aos nossos pais como vacina contra a angústia diária.
Ser piedosos com os amigos.
Não confundir os ingênuos com os traidores. E, mesmo com estes, ter o perdão fácil quando voltarem com as ilusões acabadas.
Aqui ninguém sobra.
E, isto sim, ser perseverantes e tenazes, escrever religiosamente todos os dias, todas as tardes, todas as noites.
Ainda sustentados em teimosias se a fé desmoronar.
Nisso, não haverá trégua para ninguém.
A poesia dói nesses filhos da puta.

###############

Instrucciones para capear el mal tiempo
Autor: Alejandro Pablo Robino

En primer lugar, no se desespere y en caso de zafarrancho 
no siga las reglas que el huracán querrá imponerle. Refúgiese en la casa 
y asegure los postigos una vez que todos los suyos estén a salvo.
Comparta el mate y la charla con los compañeros, 
los besos furtivos y las noches clandestinas, con quien le asegure ternura.
No deje que la estupidez se imponga. Defiéndase. A la estética, ética.
Esté siempre atento. No les bastará empobrecerlo 
y lo querrán someter con su propia tristeza. 
Ríase estentóreamente. Mófese: la derecha está mal cogida.
Será imprescindible cenar juntos cada día hasta que la tormenta pase.
Son cosas simples, sencillas, pero no por ello, menos eficaces.
Diga hacia el costado buen día, por favor y gracias. Y la concha de tu madre
cuando lo soliciten desde arriba. Tírele con lo que tenga, pero nunca solo.
Ellos saben cómo emboscarlo en la desprevenida soledad de una tarde.
Recuerde que los artistas serán siempre nuestros. Y el olvido 
será feroz con la comparsa de impostores que los acompaña.
Todo va a estar bien si me hace caso. Sobreviviremos nuevamente, 
estamos curtidos. Cuidemos a los pibes que querrán podarlos.
Solo es menester bien pertrecharse y no escatimarnos amabilidades.
Deberemos dejar a mano los poemas indispensables, el vino tinto y la guitarra.
Sonreírles a nuestros viejos como vacuna contra la angustia diaria.
Ser piadosos con los amigos. No confundir a los ingenuos con los traidores.
Y aún con estos, tener el perdón fácil para cuando vuelvan con las ilusiones forreadas.
Aquí nadie sobra. Y eso sí, ser perseverantes y tenaces, escribir religiosamente 
todos los días, todas las tardes, todas las noches. Aún sostenidos en terquedades
si la fe se desmorona. En eso, no habrá tregua para nadie.
La poesía les duele a estos hijos de puta.

################

Nenhum comentário:

Postar um comentário