segunda-feira, 7 de julho de 2025

Baixar a cabeça, e dizer muito obrigado

 Opinião

Seria interessante se os elaboradores da campanha que furou bloqueios da mídia questionando o Congresso e usando como mote a questão do IOF, agregassem às publicações  itens propositivos de uma pauta progressista.

A campanha despertou a militância, chacoalhou a mídia e abalou próceres da direita que se fazem passar por centristas liberais comprometidos com a democracia e com o progresso social, além de outros discursos falaciosos. Contudo, a campanha precisa também atingir e angariar adeptos entre a população que tem se declarado crítica do governo, e que não está engajada nas disputas políticas no nível de abstração partidária .

O caminho para essa mudança de patamar é recolher, na própria realidade das necessidades populares, questões que estão entravadas pelo bloqueio político da direita, e divulgá-las como itens específicos de uma pauta que precisa ser viabilizada.

O discurso de Lula de gratidão com o Congresso que aprovou 99% dos encaminhamentos do governo é enganoso, joga contra os elementos vitoriosos da campanha  e precisa ser substituído.

O Congresso, se assim o quiser, tem como se aproximar da população necessitada. Para tanto, tem que trocar a prática recorrente de legislar para os ricos e aprovar pautas concretas (os exemplos são vários) de interesse da população.

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domingo, 6 de julho de 2025

A pancada foi forte e foi sentida

 Opinião

 

Não sei se os memes de reação ao Congresso no caso IOF chegaram a romper as bolhas direitistas e as do gado bozista, tenho dúvidas, mas certamente romperam as bolhas da mídia tradicional (jornais e tvs), além do próprio Congresso.

Talvez pela primeira vez no atual mandato presidencial  isso tenha ocorrido. Outras oportunidades não foram aproveitadas.

A pancada foi forte e foi sentida. Personagens importantes, além dos editoriais,  saíram dos seus disfarces para declarar que esses enfrentamentos não deveriam existir, que isso é colocar a população contra a população etc. Como se houvesse uma simetria entre a riqueza e a pobreza no país.

Outros questionam uma alegada ética dizendo que a esquerda está se igualando às práticas da direita. Iluminam a forma deixando, convenientemente, na sombra os conteúdos.

Acho que isso é uma onda, um momento. Uma oportunidade que precisaria ser mais e melhor aproveitada pelo governo. Avalio que esse aproveitamento está insuficiente. A onda passará.

O governo precisa chutar essa bola que está quicando na sua frente. É nesses momentos que Lula cresce, a história já mostrou isso.

Os memes precisam continuar. Estão ótimos, comunicativos e, o mais importante, estão consistentes, sem a necessidade de conteúdos fakes.

Essa história de reconciliação é uma armadilha. Cu (sem acento) não faz trato com pica!

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quinta-feira, 19 de junho de 2025

Garrafinha, rodinha e vulcão

 

Leituras para distrair

 

Dia desses, em conversa com um marceneiro amigo que tem a difícil missão de inventar um armário para a minha diminuta casa, ele contou que sua iniciação profissional foi a construção de barraquinhas caseiras de vendas de fogos de artifícios no período de festas juninas.

A lembrança da minha infância em Saigon foi imediata. Embora não tenha determinado o meu destino profissional, algumas vezes eu também fiz barraquinhas para vender produtos juninos. As barraquinhas faziam parte do cenário daquele período especial que se estendia desde as festas de Santo Antônio, no início de junho, até São Pedro e Santana, no final de julho.

Na construção usávamos caixotes de frutas que eram pequenos, leves, descartáveis e de madeira sem valor. Assentados com a maior dimensão na vertical e com abas superiores em "V"' invertidos, imitando telhados de casinhas, eram ocupados com os produtos oferecidos para a venda. O conjunto era encapado com papel de embrulho (papel manilha) a título de decoração.

As “barraquinhas” diferenciavam-se segundo padrões capitalistas. Nas pouquíssimas vezes em que fiz, eram bem simples e com suprimento mínimo para vendas: fósforos de cor, estrelinhas, estalinhos e bombinhas. Mas, havia barraquinhas de grande porte. Bem decoradas, iluminadas com lanternas juninas e com diversidade de produtos para a venda. Vendiam “cabeça de nêgo”  e “garrafinha” que eram bombas de maior poder explosivo do que as bombinhas tradicionais.

Sofisticadas, as maiores barraquinhas vendiam diversos tipos de fogos de artifício: “rodinha”, “vulcão”, “busca-pé”  e “balão japonês”. Aos olhos de hoje tudo aquilo seria um absurdo. Fogos e explosivos nas mãos e comercializados por crianças nas portas de suas casas.

A rotina era montar a barraquinha na calçada, em frente de casa, e avançar a noite aguardando algum comprador, ao mesmo tempo em que observávamos o céu procurando por balões apagados ou apagando, caindo para corrermos atrás.

Os pais eram coniventes. Não por prática desleixada ou pelo lucro que viesse a ser obtido com as vendas nas barraquinhas e que, aliás,  era praticamente nulo. Mas, principalmente porque preferiam um moleque na calçada, proprietário  e responsável pelo seu negócio, do que em lugares distantes, vagabundeando com os demais, trocando experiências e se formando como homens mais rápido do que a criação familiar gostaria.

Hoje, nas regiões que conheço e convivo, as barraquinhas de fogos deixaram de existir, de ser brincadeiras infantis e opcionais, partes do universo das comemorações juninas. As crianças deixaram de brincar de comerciantes e muitas delas precisaram virar comerciantes de verdade. Barraquinhas foram trocadas por  pacotinhos de chicletes, saquinhos de amendoins, doces e bugigangas. Uma atividade de sobrevivência e obrigatória, imperativa de uma sociedade que degenerou da pobreza para a miséria.

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segunda-feira, 26 de maio de 2025

Crescentia cujete

Leituras para distrair

 

Aprendi que existe uma árvore chamada Cuieira cujo fruto é o(a) coité, cabaça ou cuia. Nunca vi. Para mim foi um aprendizado tardio, fruto de curiosidade e busca de refinamento de conceitos. Bem antes disso, aprendi que o(a) coité também pode ser construída a partir de casca de coco verde, ressecada,  após a extração do miolo e um subsequente polimento.

Em minha casa de infância tinha coités. Eram feitas de cascas de coco ressecadas, polidas e pintadas com algum adorno. Podem ser adquiridas em casas de produtos para a religião umbanda.

Com um pouco de cachaça, e cumprindo os rituais seguidos pelos meus pais, elas eram colocadas embaixo das nossas camas por falta de espaço no pequenino quarto de dormir de 3 meninos onde um altar disputava espaço com uma cama de solteiro e um beliche.

Para nós, as coités eram uma aporrinhação. Eu e meus irmãos tínhamos como obrigação a limpeza da casa, e uma de nossas tarefas diárias era varrer o chão interior, além da limpeza da poeira dos móveis.

Apesar da prática diária, ao passar a vassoura embaixo das camas lá se ia uma vassourada na porra da coité que nunca era lembrada. Não falhava uma. A bagunça nem era grande, a cachaça já havia evaporado, mas era um inconveniente. Além de ganhar uma bronca pela falta de atenção, tínhamos que refazer a obrigação religiosa interrompida com a vassourada descuidada.

A situação era recorrente, sem crises nem frescuras, fazia parte da rotina. A bronca era pequena e carinhosa, quem fizesse a cagada tinha que refazer. Casa de macumbeiros pobres, isso era comum.

Gosto dessas lembranças, e elas sempre retornam quando ouço um samba/calango do Nei Lopes e Wilson Moreira. cuja audição eu recomendo. O título é Coité, Cuia.

 

Na coité bebi cachaça

De cana caiana purinha

Comendo com a mão na cuia

Pirão no molho é de farinha

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Segue um link:

<https://www.youtube.com/watch?v=zFOIyOPNoRw&t=9s> 

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Tarifaço e Concorrência

 Opinião

 

Acho um equívoco pensar que o Trump, ao amanhecer, dá uma espreguiçada e, enquanto jorra uma mijada matinal imperativa, resolve com os seus botões:

Hoje vou fazer um tarifaço e  aporrinhar o juízo do XI Jinping!

Certamente não é isso que ocorre, tenha sido, ou não, uma noite de festa na cama ao lado de dona Melania, embora as manchetes midiáticas e um jornalismo fajuto, que só sabe reforçar caricaturas, façam parecer assim.

O que assistimos e, por consequência, vivenciamos e sofremos,  é uma das mais importantes manifestações do modo de produção capitalista. O meio pelo qual as leis do capitalismo se manifestam e se impõem: *a concorrência,*

“A concorrência impõe a cada capitalista individual, como leis coercitivas externas, as leis imanentes do modo de produção capitalista. Obriga-o a ampliar continuamente seu capital a fim de conservá-lo, e ele não pode ampliá-lo senão por meio da acumulação progressiva” (Marx – O Capital – Livro I)

Naturalmente essas situações se manifestam no tempo com características conjunturais. Contudo, trata-se de um mesmo roteiro, embora agora desenvolvido em uma peça com representações insólitas: através de fantoches ou mamulengos, como é o caso do Trump.

Mas, nem por isso deixam de mostrar suas permanentes contradições. O sujeito quer sapecar tarifas nos produtos chineses, mas o americano, gado trumpista, ou não, não pode deixar de comprar celular nem computador. Então,  “revogue-se ou adapte-se a decisão!”

Mas, se esticar muito lá, o Musk, dono da Tesla, SpaceX, X  e novo secretário do Departamento de Eficiência perde dinheiro acolá. Novos ajustes são necessários.

O nome disso é “concorrência”. Segundo Max, são leis que decorrem do modo de produção e imperam sobre os capitalistas individuais independentemente de suas vontades.

Mark Zuckerberg, (Meta, Facebook, Instagram e WhatsApp); Jeff Bezos (Amazon); Tim Cook (Apple); Shou Zi Chew (TikTok); Sam Altman (Open AI); Sundar Pichai (Google) estavam todos lá, nas primeiras cadeiras durante a posse do ícone alaranjado. Todos resguardando seus interesses.

Esses são os caras que efetivamente estão provocando esse “pega pra capar” na ordem capitalista vigente. Fazem isso à moda Trump, desse jeito que parece atrapalhado. Em outros tempos seriam guerras com a população civil servindo de buchas de canhões.

O resultado, não tenhamos dúvidas, será pau no cu dos trabalhadores que sustentam essa canalha de filhos das putas. Desculpem-me as prostitutas, mas não abro mão do adjetivo. ### (Jorge Santos – Rio, 15/04/2025)

quarta-feira, 16 de abril de 2025

Conjecturas

 Opinião

 

Sempre olhei com espanto aquelas cenas de enormes mobilizações populares alemães ovacionando Hitler e o seu governo nazista. Adultos diversos, jovens e até crianças abraçadas num ufanismo de raça superior e endossando o projeto de conquista e domínio do mundo numa guerra de âmbito mundial que matou mais de 70 milhões de pessoas.

Ignorante e capturado pela propaganda americana e europeia,  a minha referência sempre foi o nazismo alemão. Nunca me ative muito ao nazifascismo japonês de Hirohito e sua canalha, quase todos perdoados por interesses não menos canalhas que se satisfizerem com os cerca de 200 mil cadáveres de Hiroshima e Nagasaki.

Até certa época eu avaliava que os delírios absurdos e irracionais daquelas multidões resultavam tão somente da atuação de sujeitos com capacidades malignas excepcionais. Líderes políticos embusteiros, profetas do mal que convenciam populações oprimidas e desiludidas por não terem suas necessidades atendidas.

Com os aprendizados da vida e buscando o conhecimento de alguns pensadores do mundo, dei de cara com as indagações da filósofa Hannah Arendt sobre o que ela chamou de “banalidade do mal”.

Nos anos 60 do século 20, a filósofa alemã que vivia nos EUA, foi enviada por uma revista para cobrir o julgamento em Israel do carrasco nazista  Adolf Eichmann. Ela escreveu uma série de artigos que mais tarde foram reunidos em livro onde desenvolveu o conceito de banalidade do mal.

Em seus artigos, Arendt se contrapôs ao julgamento “espetáculo” que apontava o carrasco nazista como um super vilão. Arendt ressalvava que, em hipótese alguma, Eichmann deveria ser perdoado por suas atrocidades, mas em vez de apontá-lo como uma excepcionalidade humana e expressão encarnada do mal – como estava ocorrendo no julgamento – seria mais importante buscar saber porque indivíduos que eram “comuns” em suas práticas cotidianas, ao vestirem-se de oficiais nazistas incorporaram as atrocidades como fossem suas rotinas de trabalho e onde o mal era apenas uma tarefa a ser realizada como cumprimento de ordens.

Afinal, quais seriam as condições que levavam a esse tipo de situação? – Essa foi uma questão proposta pela Hannah Arendt.

Para Arendt, Eichmann era um criminoso que devia ser punido, porém o fenômeno a ser estudado não era a figura dos carrascos em si, mas quais as condições que levavam seres humanos comuns a praticarem os horrores nazifascistas até sob olhares da população civil que foram, no mínimo, tolerantes ou indiferentes.

As teses da Hannah Arendt, os contextos e circunstâncias de suas formulações são objetos de estudos de historiadores e pesquisadores, não desejo nem  tenho capacitação para tratá-los aqui. Mas, as leituras de suas observações mudaram o foco de minhas compreensões e avaliações de certas situações políticas, especialmente no momento atual onde figuras como Trump, Millei e Bozo chegam ao poder por vontade e voto de uma maioria da população.

Trump, em âmbito internacional, e seus dois macaquitos aqui, nos quintais dos EUA, são, de fato, figuras especialmente malévolas. Mas, o que dizer das multidões que os apoiam e que os levaram ao poder apesar de saberem sobre todos os valores que defendem e praticam?

Não se pode dizer que são casos de propaganda enganosa. Ainda assim, homens, mulheres, jovens, grupos familiares, religiosos, pessoas diariamente  engajadas em suas atividades de garantia de sustento, deslocam-se, reúnem-se, manifestam-se em apoio a esses líderes e suas bandeiras que incluem: discriminação, enganação, misoginia, violência, tortura e até assassinatos. Isso parece estar bem além de necessidades básicas insatisfeitas e inconformidade com as tratativas governamentais que estão sendo dadas.

Se o mal não é intrínseco da natureza humana, se não nascemos assim, então como criamos ou permitimos a criação das condições em que ele tem germinado e florescido com tanto vigor?

Não sei responder nem tenho a expectativa de respostas comprovadas, mas tento fazer conjecturas e gostaria de saber daquelas que outros tenham feito. ### (Jorge Santos – Rio, 12/04/2025)

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Ainda estamos aqui

 Opinião

Naturalmente prefiro que seja assim, não faria sentido optar pela  prática canalha e filha da puta de qualquer sujeito valorizando a sua coerência. Mas, não dá para ignorar os editoriais dos jornais enaltecendo o sucesso da atriz que encenou uma das tantas passagens trágicas, possivelmente uma das mais simbólicas da ditadura. Cúmplices dos golpes de 1964, do golpe de 2016 e da consequente  eleição de um fascista, no caso da Folha de São Paulo fornecedores de infraestrutura para perseguições, prisões, torturas e assassinatos da ditadura de 64, publicam hoje editoriais cínicos e fingidos. Disfarçados como a cara de quem peidou dentro do elevador. Melhor que seja assim, mas é nossa obrigação lembrar. Nosso jeito de dizer que também ainda estamos aqui. ###

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

2025 - Ano Internacional da Ciência e da Tecnologia Quânticas

 Leituras para distrair

O ano de 2025 teve notoriedade despertada nos últimos dias de 2024 por memes divulgando um conjunto de propriedades aritméticas do número 2025 que o identificam como um “quadrado perfeito” (ver web). Mas, ele (ano 2025) também ganhou destaque por um aspecto de muito menor interesse popular. A Assembleia Geral da ONU de 07/06/2024 adotou uma Resolução (78/287) instituindo 2025 como “Ano Internacional da Ciência e da Tecnologia Quânticas” [1].

A instituição dos “anos internacionais” é uma prática da ONU visando orientar seus participantes  para a importância de ações relacionadas a temas que são ou parecem ser aderentes aos propósitos das políticas sociais da organização.

O ano de 2025 teria sido escolhido porque foi em 1925 que o físico Werner Heisenberg introduziu a aplicação da “mecânica matricial”, uma abordagem matemática diferente daquelas que sustentaram os avanços da física clássica. Heisenberg é considerado como o pai de uns dos mais importantes conceitos da física quântica, o Princípio da Incerteza, que afirma ser impossível medir com precisão a velocidade e a posição de uma partícula subatômica.

Ainda que os objetivos só venham a ser atendidos em parte, a busca por ampliar a divulgação do tema (ciência e tecnologia quânticas) é importante porque ao lado de uma ignorância social quase total do seu significado, trata-se de uma área do conhecimento científico que já cumpriu mais de 100 anos e que, queiramos, ou não, impacta de forma extraordinária a vida social contemporânea.

O número de aplicações desses conhecimentos  não para de crescer e vão desde sofisticados equipamentos dos mais diversos usos (industriais, médicos, bélicos etc.)  até corriqueiros produtos de usos cotidianos que podem ser comprados por merrecas e sem frete pela Shopee. Uma matéria da revista Scientific American estimou que no ano 2000 (lá se foram mais de 20 anos) cerca de 30% do PIB americano já dependia de invenções que só se tornaram possíveis graças à mecânica quântica. [2]

Com a facilidade atual de pesquisa na web, obviamente utilizando-se as filtragens necessárias para garantir consistências de conteúdos, encontraremos uma quantidade razoável de assertivas apontando a necessidade de ampliação crítica em assuntos e temas que por razões diversas ficam restritos aos considerados especialistas.

A economia, a política, a gestão, a educação, por exemplo, cada uma dessas áreas é importante demais para serem deixadas apenas nas mãos de economistas, políticos, gerentes ou família e escola. A sociedade precisa tomar consciência e se apropriar delas ditando os seus rumos.

Sem intenção de fazer juízo específico dessa ou aquela assertiva, um fato que chama a atenção é que parece haver um senso comum na importância de uma ampliação, sempre que for possível, no quadro de avaliadores de temas que implicações gerais, embora sequer tenhamos conhecimento de seus aspectos específicos.

A física quântica faz parte desse rol. É muito importante para ser deixada apenas nas mãos dos físicos, dos engenheiros e cientistas. ###

 

*Referências*

[1]

<https://documents.un.org/doc/undoc/gen/n24/175/79/pdf/n2417579.pdf>

78/287. International Year of Quantum Science and Technology, 2025 – acesso em 01/01/2025

 

[2]

< https://www.scientificamerican.com/issue/sa/2001/02-01/>

100 Years of Quantum Mysteries – acesso em 01/01/2025

 

 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Organização e Mobilização dos Trabalhadores

 Leituras para distrair

Em muitas e significativas áreas, a situação atual da organização da produção traz novas dificuldades e oportunidades para a organização dos trabalhadores. A comunicação com a classe e entre a classe é facilitada, mas ela também é disputada por fontes diversas com diversidades de informações.

As facilidades de comunicação e a pluralidade de informações, características de nossos dias, não levam necessariamente a uma relação grupal. Esse é um fenômeno constatado pelos analistas sociais. Ao contrário, verifica-se hoje um fenômeno de isolamento do indivíduo diante do mundo de contatos e oportunidades potenciais.

Quando os sindicatos, que ainda são os agentes que promovem a organização dos trabalhadores, não se impõem nessa disputa de comunicação, a tendência é o trabalhador perder a consciência da sua posição de classe. Ele nem mesmo sabe o que isso significa.

O trabalhador não fica imobilizado. Ele precisa sobreviver. Então, ele busca  caminhos alternativos e disponíveis para resolver suas dificuldades, ainda que nem sempre escolha a melhor opção.

Esteja ele em sua casa, ou na sua sala, na sua “estação de trabalho”, ou na sua bicicleta, moto ou automóvel prestando o seu serviço, o trabalhador se vê sozinho. E um aspecto fundamental da sua organização como classe – a solidariedade – vai para o caralho!

Não há mais colegas de trabalho. Nem de empresa, nem de sala. Nem de prédio, nem de nada. Sozinho, seja qual for o seu local de trabalho, o sujeito, de qualquer gênero, tem que pensar alternativas para suas necessidades que geralmente não são apenas dele, mas de uma família sob sua responsabilidade.

O trabalhador, ele ou ela, precisa elaborar por si mesmo respostas de classe que estariam no seu repertório de alternativas se ele convivesse com companheiros que experimentam as mesmas necessidades, e se tivesse a oportunidade de saber sobre as respostas que foram dadas por outros trabalhadores que historicamente passaram por experiências similares. É como se o trabalhador tivesse que reinventar a roda.

Infelizmente, alguns acham que estão superando essas limitações. Acham que não só venceram, mas mudaram de classe. Tornaram-se empreendedores. O capital, objetivado na figura do capitalista, do patrão, para quem o estágio atual da organização da produção sorri favoravelmente, estimula essa ilusão do trabalhador, ao mesmo tempo em que retira os seus direitos trabalhistas.

Afinal, diz o patrão, agora corremos juntos! Já não tenho a obrigação com férias, carteira de trabalho, décimo terceiro salário, auxílios de saúde, de alimentação ou fundos de aposentadoria! Somos até concorrentes, vivemos as mesmas dificuldades! E muitos trabalhadores passam recibo de babacas acreditando nessa história.

Mas, o canto de sereia do capital não seduz apenas os trabalhadores. São muitos os dirigentes sindicais que por ignorância do contexto, por incompreensão do seu papel ou até por malícia, por peleguismos puro, acomodam-se na ideia de que não há o que fazer, em vez de avançarem nas tentativas de entendimento da situação e na busca de possibilidades de superar as dificuldades. Esse é o retrato de parte significativa da atual crise sindical.

Nos centros urbanos, nas grandes empresas e fábricas que permanecem como os pontos focais de organização dos trabalhadores,  já não existem as grandes movimentações de entrada e saída de seus expedientes ou nos seus intervalos refeições.

Deixaram de existir os pátios de concentração, e a própria presença no local está rareada com a possibilidade do home office. Mas, isso não quer dizer que os trabalhadores tenham desaparecido ou que deixaram de se constituir como classe. Há, sim, uma mudança na organização da produção que impõe mudanças nos mecanismos de organização dos trabalhadores, mas o mundo ainda é o resultado da força de trabalho.

Para reunir essa força não há receita de bolo, não tem mágica, e nunca teve. O capital mudou a forma de fazer valer sua ideologia, temos a responsabilidade de encontrar a nossa.

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domingo, 8 de dezembro de 2024

Força de Trabalho, Exploração e Lucro

Leituras para distrair

No modo de produção capitalista, o trabalhador não vende o seu trabalho. Ele vende a sua força de trabalho por um salário e por uma jornada acertada entre as partes, e o comprador, o patrão, se apropria da mercadoria que a força de trabalho produzir durante o tempo a que tem direito.

Essa relação salário x força de trabalho  que é legalmente aceita, faz parecer que o salário representa uma troca  de dinheiro por trabalho quando não é isso que ocorre, isso é uma ilusão.

Não se trata de uma compra do “trabalho” em troca de salário, mas a compra do direito de uso da “força de trabalho” por um determinado tempo, uma jornada. Cotidianamente tratamos o salário como se fosse o pagamento do trabalho quando o salário é o preço da venda da força de trabalho. Trabalho e força de trabalho são coisas distintas.

O capitalista, patrão, comprador da força de trabalho, pode também comprar diversas outras mercadorias e armazena-las (materiais, ferramentas, máquinas, instalações etc.). Não faria sentido, mas deixadas por si, elas ficarão alocadas onde estiverem e do jeito que estiverem, pelo tempo que forem deixadas lá, e sujeitas ao desgaste natural dos materiais de sua composição.

Podem até serem valorizadas no mercado de trocas se houver escassez de algumas,  mas a tendência e probabilidade maior é o desgaste e desvalorização. Elas não produzirão nenhum outro valor.

Contudo, se o tal comprador, capitalista, reunir certas mercadorias com a mercadoria força de trabalho que ele também tenha comprado, outras mercadorias poderão ser produzidas, e o capitalista poderá levar essas novas mercadorias ao mercado de trocas para vende-las.

A nova mercadoria, produto do uso da força de trabalho, é trocada ou vendida a por um preço maior – geralmente bem maior - do que aquele que o trabalhador recebeu pela venda do uso de sua força de trabalho (esse é o objetivo).

O capitalista então faz a compensação de todos os seus gastos, incluindo os salários que pagou, e se apropria do excedente chamando-o “lucro” que ele sempre buscará aumentar (a rigor, a busca do capital é sempre maximizar uma relação chamada “taxa de lucro”).

A criação de uma nova mercadoria que pode ser vendida por valor maior que o empenhado pelo capitalista na aquisição de meios de produção e de força de trabalho, só é possível pela característica especial da força de trabalho. Só ela – a força de trabalho - é capaz de fazer um novo valor acontecer.

Contudo,  esse mecanismo não é tão evidente. Geralmente, nem o próprio trabalhador ao se deparar com a mercadoria que produziu reconhece nela o seu trabalho. E essa alienação é tão significativa que, em geral, olhamos em volta para as coisas do mundo sem refletir que cada uma delas, sem exceção, salvo os elementos da natureza, só existe porque há na sua composição o trabalho humano, o produto da força de trabalho de alguém ou de muitos.

Essa distância, essa alienação,  entre o trabalhador e o produto da sua força de trabalho, ou seja, o seu trabalho efetivado, passa a impressão que o mundo material existiria sem o esforço do trabalho humano. E uma impressão que, apesar de falsa, é cada vez mais forte nesses tempos de internet, redes sociais, plataformas de trabalho e inteligência artificial.

O programa computacional mais bem elaborado, a máquina mais sofisticada e inteligente ou a cachaça mais saborosa não existiriam sem a força de trabalho humano.

Essa ilusão ignorante interessa a um dos lados da luta de classes: o capital. A aparência que o lucro surge por si só, do nada, com vida própria, como um parto virginal, sem cópula, é conveniente na medida em que esconde o mecanismo de exploração da força de trabalho.

Sob outro olhar (o “nosso”), na medida em que o trabalhador nada recebe desse excedente que só a sua força de trabalho é capaz de produzir e produziu, aquilo  que o capitalista chama de lucro, trata-se de fato de um mecanismo de exploração. É a parte do produto do seu trabalho que o trabalhador não recebe, embora, vale insistir, ele tenha negociado legalmente a venda da sua força de trabalho ao preço de um salário.

Na história da economia (economia capitalista seria um pleonasmo), até hoje, há mais de 150 anos, apesar das várias tentativas, nenhum teórico conseguiu apresentar outra justificativa para a origem do lucro.

Karl Marx, que dedicou parte significativa de sua vida ao estudo dessas relações, desvelou esse mistério, tão conveniente para os capitalistas, e registrou seus estudos e anotações que se desdobraram em 3 volumes sob o título geral “O Capital - Crítica da Economia Política”.

Não é por outro motivo que os economistas clássicos odeiam o velho Mouro e tentam disfarçar suas formulações e excluir suas análises e conclusões, embora nunca tenham conseguido.

A pergunta “de onde vem o lucro?” deixa economistas e capitalistas apavorados. Por isso, fogem do Mouro como o diabo da cruz. ###