terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Paquidermes e filhos drogados


Opinião
A essa altura do campeonato o crime da Vale já virou assunto antigo. Em nosso país onde as desgraças se atropelam e que, conforme uma amiga observou, parece ter chutado um despacho de encruzilhada, apenas as caricaturas sobrevivem como memória.

Cumpre-se, então, o desejo e as aspirações daqueles que elegeram o capitão Bozo e sua trupe. Suponho que estejam satisfeitos e contemplados com o resultado dos seus votos. A tropa de elite do capitão que elegeram, os seus ministros, está apresentando um espetáculo de gala na execução das suas promessas de campanha.

Confesso uma frustração. Não tenho qualquer surpresa com o desenrolar do governo Bozo, mas não imaginava  que esse era o tipo de país e de governo desejado por pessoas próximas e queridas. Pessoas lúcidas e capacitadas para fazerem comparações e escolhas. Não podem alegar que foram iludidas. Contudo, escolheram isso que está aí. Para mim essa foi a surpresa frustrante.

Voltando ao quase esquecido crime da Vale, chamo atenção para matéria publicada no Jornal do Brasil  de hoje, 12/02/2019 (cópia em seguida). Enquanto um ministro da trupe Bozo declara a vontade de privatização de todas as estatais comparando-as com “filhos drogados”, a matéria aponta um fato interessante e revelador.

Tanto as barragens de Mariana e Brumadinho, que romperam com danos materiais e centenas de mortos, além de outra, após Brumadinho, em Barão de Cocais, também em Minas, cuja segurança está sob suspeitas, foram todas barragens construídas por empresas privadas. Nenhuma construída pela Vale do Rio Doce. E todas foram adquiridas pela Vale após a sua privatização.

Também ofuscada pelos dramas mais recentes, passa quase batida uma matéria sobre a cidade de Saint-Prex, no cantão de Vaud, na Suíça (cantão é uma espécie de “estado” suíço). A sede da mineradora Vale no exterior é em Saint-Prex. Lá, a Vale recebeu totais isenções fiscais regionais, além de descontos em impostos federais por  um período de dez anos.  

A matéria desvela algo que não chega a ser novidade, mas que deve ser observado com atenção e crítica. Esses são movimentos societários feitos exclusivamente para economizar impostos e encher bolsos de  acionistas. Sem nenhuma preocupação com os empregados, meio ambiente ou condições de trabalho. Isso é a Vale.

Nunca é demais lembrar que “Vale” é a designação que foi dada a então rentável e eficiente  estatal Companhia Vale do Rio Doce – CVRD, após a sua privatização pelo então governo tucano.

Para os tucanos as estatais eram paquidermes que deveriam ser desmontados “osso por osso”. Para a trupe Bozo são “filhos drogados”. Aliás, um discurso alinhado com outros ministros. Desde aqueles que divulgam que pais holandeses são instruídos para masturbar bebês até os que dizem que brasileiros viajando são canibais. Esse é o espetáculo do circo Bozo.

Hoje tem marmelada? Tem sim, senhor!

E pensar que tem gente que votou nisso!
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É A LAMA, É A LAMA - Brumadinho provoca tenso debate político na Suíça
Por ​​​​​​​Jamil Chad - 07/02/2019 - Disponível em: 
SWI - swissinfo.ch – serviço internacional da Sociedade Suíça de Radiodifusão e Televisão  (SRG SSR).
Acessado em 12/02/2019 
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Um comentário :

  1. A pergunta que fica é: se fosse ainda estatal, não aconteceria? Sem fiscalização decente, é lógico que sim!

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