sexta-feira, 1 de setembro de 2017

O muralha e a canalha

Opinião

Não gosto de futebol, embora carregue o meu quinhão da herança cultural de ter nascido no país que foi reconhecido internacionalmente pelo talento dos atletas e pelos resultados das seleções de clubes e das seleções nacionais nas competições desse esporte. Não torço por clube, não tenho saco para assistir jogos, nem mesmo da seleção brasileira, só participo de conversas para sacanear aficionados torcedores e nunca sei qual a competição do momento.

Aponto esse distanciamento para valorizar a minha indignação ao ver uma matéria estampada na primeira página do jornal carioca Extra, na edição de hoje, 01/09/2017. Em parte superior, com o título de “Comunicado” e a foto de um jogador, em duas colunas de sete linhas, o jornal informa aos seus leitores que, a partir de hoje, não mais publicará a palavra Muralha associada ao nome do goleiro do Flamengo, esse é o apelido do jogador, considerando as suas falhas recentes na atividade de goleiro. Verifiquei que o jogador, Alex Roberto Santana Rafael, o Muralha, tem sido o pivô de acirradas discussões em torno de sua contratação pelo Flamengo.

Não tenho qualquer simpatia pelo Flamengo, muito menos pelo Muralha cuja existência só tomei conhecimento hoje. Contudo, acho um absurdo a mobilização do jornal atacando a figura de um profissional que exerce a sua função, não importa o juízo que se faça dela. Se o jogador é bom ou mau goleiro, se o Flamengo fez ou não um bom negócio, se ele atende ou não às expectativas da torcida do clube, nada disso justifica uma empresa – o grupo Globo de jornalismo – expor e atacar individualmente o jogador como o fez com a matéria de hoje. É uma ação escrota, canalha, covarde e medíocre.

As relações no futebol são estabelecidas por interesses de empresas e de empresários. Não sei se é o caso, mas pode ser que os interesses de empresas e empresários associados ao clube de futebol e ao jornal estejam em conflito, contudo nada disso justifica o linchamento que o jornal está promovendo. Outro jornal, não sei o nome, publica a foto de um frango depenado com a cabeça do jogador, associando a imagem ao gol que ele tomou na última partida. É uma caricatura feia e ridícula, mas está publicada como matéria em jornal que trata cotidianamente dessa forma os assuntos do futebol. Não é novidade. É ofensiva, mas não é uma campanha direcionada. Trata-se de um deboche que instiga as torcidas e promove a venda do jornal. A matéria do jornal Extra, ao contrário, é especial, publicada como se fosse anúncio de matéria paga ou obrigatória. Por interesse ou falta de colhões dos editores do jornal, ela não ataca o clube nem outros empresários, o profissional que engoliu o frango é quem está pagando o pato. Uma covardia.

Com todas as distorções que se conhece no futebol, talvez uma das atividades mais honestas seja aquela realizada pelo jogador em campo nos minutos de duração da partida, fazendo ou tomando dribles, fazendo ou tomando gols. Não há como ignorar a matéria do Extra – até no relato do desempenho de um jogador de futebol essa “grande” mídia brasileira consegue se revelar como um lixo.

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