Opinião
Recebi de um amigo as imagens abaixo. Elas resgatam
a similaridade das manifestações que se desdobraram na ditadura de 1964 com as
manifestações do último dia 13 de março de 2016. Fiz alguns comentários que compartilhei entre amigos e familiares e reproduzi aqui para registrar a minha opinião.
Parece que a história se repete como farsa. Farsa
no sentido de burlesco, de caricatura sem compromisso, como disse o velho Karl
no “18 de Brumário”1. E ainda recorrendo ao "velho": os homens
fazem a sua própria história, mas não fazem segundo a sua livre vontade porque
eles não determinam as circunstâncias. Elas lhe são dadas, transmitidas.
Eu não saberia reproduzir com exatidão sem recorrer
à estante de livros e copiar o texto, mas este não é o caso. A ideia está
correta.
E as circunstâncias estão aí, impondo-nos escolhas
que possivelmente teremos que fazer ainda que não queiramos. No caso, acho que
cada um de nós precisará escolher um lado.
Isto não seria um problema porque, afinal, política
é isto: escolha. Contudo, tomara que eu esteja errado, as coisas caminham
de uma forma em que não haverá vários os lados, mas talvez apenas dois. Nem
mesmo a abstenção será uma alternativa em si própria.
Minha escolha já fiz. Não farei parte dessa massa
que incorpora e que caminha lado a lado de uma elite minoritária brancosa e
fascista cujo projeto estratégico (e escroto) é a consolidação de uma sociedade
excludente e desigual disfarçado de um discurso de combate à corrupção.
Sei que os manifestantes não são todos fascistas,
que alguns querem efetivamente um país melhor etc. Mas, o fato é que estão
juntos e fortalecendo os fascistas, exploradores, vendilhões das riquezas
nacionais, além de outros atributos.
Então, Fodam-se! Se a distinção é necessária, eles que
a façam. Até lá, considero que todos formam um bando de Filhos das
Putas.
De meu lado, arco com o ônus de ser identificado
com grupos e práticas políticas que abomino e com os quais já me incompatibilizei
há muito tempo. Não será simples, mas é a parte que me caberá neste latifúndio.
Sempre fiz isto e continuarei fazendo.
Como já disse, tomara que eu esteja errado e não
precise realizar escolhas em conjunto tão restrito de alternativas. Especialmente
porque a consequência imediata possivelmente será a perda ou afastamento de
relações afetivas queridas.
Mas, se for necessário, assim será. Não sinto
vergonha, não disfarço os meus projetos, nem me mobilizo pelas chamadas à luta
convocadas pelos jornais da Globo.
Em hipótese nenhuma me confundirei com esta
burguesia coxinha e babaca que sente vergonha de ser brasileira, que abomina a
miscigenação característica da nossa sociedade, que odeia o pobre em vez de
odiar a pobreza. Esta versão verde-amarela de Ku Klux Klan. Aliás, como o meu
amigo bem observou, nada tão simbólico como estarem quase todos vestindo camisa
da insuspeita CBF.
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1.
O 18 de Brumário de Luis Bonaparte é considerado um dos textos mais
importantes de Karl Marx onde ele relata e analisa um golpe de Estado ocorrido
na França em dezembro de 1851 comandado por Luís Bonaparte que havia sido
eleito presidente três anos antes e impôs uma ditadura declarando-se imperador
Napoleão II. Luís Bonaparte era sobrinho do Napoleão Bonaparte que todos conhecem (aquele da
mão enfiada no casaco), também ditador, e que havia se
coroado como imperador da França em 1804.
Em 1789, na Revolução Francesa, os revolucionários mudaram o calendário
alterando a quantidade de dias da semana, a quantidade de semanas dos meses, os
nomes dos meses etc. Essa mudança durou até o ano de 1805. Quando Napoleão
Bonaparte (o da mão no casaco) foi
coroado era o dia 18 do mês de Brumário pelo calendário revolucionário. O livro
de Marx tem um título que ironiza a situação. O golpe de Luís Bonaparte foi dado no aniversário da coroação do seu tio, assim teria sido o 18 de Brumário do sobrinho, 47 anos após o
golpe do tio.
A primeira publicação do 18 de Brumário de Luís Bonaparte, escrito por Marx, foi em
1852. Atribui-se a sua relevância ao fato de ser um exemplo concreto de um método de análise que hoje se denomina análise marxista.
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Definido o "velho", só posso dizer que continuo admirando este "garoto" pela clareza como apresentou o que sinto e penso sobre o momento atual: um expectador impotente para mudar as circunstâncias que se avizinham.
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