domingo, 14 de junho de 2015

Carequinha

Leitura para distrair

Recebi a notícia através de um amigo. O Carequinha será enredo de uma escola de samba de São Gonçalo, a Unidos do Porto da Pedra (bairro onde nasci).  Nada mais justo. Tomara que não façam uma merda. Nem precisa ganhar nada, basta que seja uma homenagem bonita, à altura do símbolo representado pela figura do palhaço.

Já repeti essa história mil vezes e resolvi registrá-la. Quando criança morávamos nos fundos da casa dos meus padrinhos que ficava na principal rua da cidade, a rua Francisco Portela, em São Gonçalo. Na mesma calçada, mais adiante, morava o Carequinha. Na casa do Carequinha não tinha garagem, mas ele tinha um carro, parecia um Citroen, preto, porém não faço ideia qual era a marca. Na traseira do automóvel, em letras metálicas, estava escrito "CAREQUINHA". 

Carequinha usava a garagem de outro vizinho, em frente à nossa casa, no lado oposto da rua. Era usual ele chegar, à noite, para guardar o carro. Depois atravessava a rua, parava para um “alô” e seguia para casa. Era comum as pessoas se reunirem nos portões para conversar, e eram todos vizinhos antigos e amigos, primeiros moradores da área. Televisão praticamente não existia, era um privilégio de poucos.

As crianças, quando permitiam, ficavam em volta, e quando Carequinha chegava sempre tínhamos curiosidade. A figura dele nada tinha a ver com a do palhaço, nem mesmo era careca, ao contrário, tinha uma vasta cabeleira preta. Porém, a voz era inconfundível. Era o Carequinha! Eventualmente ganhávamos de brinde fotos e até uns cadernos pautados, de propaganda, com a imagem do Carequinha na capa. O nome do Carequinha era George, e custei a entender porque não era Jorge. Na verdade, nem sei se algum dia entendi.

Há duas semanas, na primeira semana de junho de 2015, passei em frente à casa do Carequinha. A casa dele e a dos meus padrinhos foram as últimas daquele trecho que se mantiveram como residências. A dos meus padrinhos já não é mais, e não sei sobre a casa do Carequinha, passei por lá, mas não deu para saber.

Já adulto, no período que voltei a morar em São Gonçalo, através de um vizinho, octogenário como o Carequinha, amigo dele e também um dos primeiros moradores, fui apresentado ao palhaço como uma das crianças da década de 50, filho de fulano, neto de sicrano etc. Cheguei a trocar palavras com ele umas poucas vezes e todo o tempo que tive consumi elogiando-o.

Até onde eu sei o Carequinha teve residência por lá até a sua morte. A casa dele nunca teve garagem.


Um comentário :

  1. chorei, apenas. carequinha marcou minha infância. talvez uma das únicas lembranças "leves" que tenho dela, da infância. carequinha...

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