Opinião
Hoje foi um dia especial – 22 de novembro. Acordei lembrando
a Revolta da Chibata e João Cândido, talvez meu herói nacional preferido. Nunca
passo a data sem pensar no que ela representa.
Antes de ver as notícias, li uma mensagem sobre a prisão do
Bozo e não entendi de imediato. Achei que fosse só formalização das
condenações, até perceber que era prisão preventiva. Liguei a TV e confirmei.
A partir daí o dia virou um turbilhão de notícias,
comentários e memes sobre o enquadramento do ex-presidente fascista. Até o
encerramento da COP 30 ficou em segundo plano. A galera progressista comemorou
numa catarse cheia de simbolismos.
Mesmo assim, em minhas ingênuas elucubrações algumas coisas
não fecham. Apesar da alegria de ver o Bozo preso, achei estranha a violação
tosca da tornozeleira. Tenho ferros de solda, estanho, pasta e sugador em casa
e sei usar. Aquela maquininha cheia de marcas de solda, parecendo tentativa
infantil de abrir um brinquedo, não convence. Talvez expliquem depois, mas ali
tem algo errado que não está certo.
A propósito, o número da tornozeleira – 85916-5 – deverá
estar cotado nas apostas no jogo do bicho, essa contravenção ainda tolerada
pela ética nacional. A milhar deve bombar.
Lembraram também que hoje é aniversário da deputada Maria do
Rosário, aquela que o então deputado escroto, em 2014, disse que não estupraria
porque ela “não merecia”. Imagino que ela tenha recebido a notícia como
presente.
A festa para João Cândido pode passar despercebida, mas o 22
de novembro ganha agora novo significado. Assim funciona nossa história.
A canção de Aldir Blanc e João Bosco lembra que, nas águas da
Guanabara, o dragão do mar reapareceu na figura de um bravo marinheiro. Poucos
sabem que o “dragão do mar” é o jangadeiro cearense Francisco José do
Nascimento, o Chico da Matilde, que no fim do século XIX liderou os jangadeiros
contra o embarque de escravizados no Ceará.
Chico da Matilde iluminou João Cândido no século seguinte, e
acho que agora foi o Almirante Negro quem reapareceu para tornar este dia ainda
mais memorável com a prisão de um fascista escroto. Quem sabe para compensar
aquele almirante que aderiu ao golpe e ganhou 24 anos de cana por crime de
organização criminosa e golpe de Estado? Há motivos para celebrar!
Glória à farofa, à cachaça, às baleias e às lutas inglórias
que não esquecemos. Salve o Almirante Negro, cujo monumento são as pedras
pisadas do cais. ### (Jorge Santos – Rio, 22/11/2025)