segunda-feira, 26 de maio de 2025

Crescentia cujete

Leituras para distrair

 

Aprendi que existe uma árvore chamada Cuieira cujo fruto é o(a) coité, cabaça ou cuia. Nunca vi. Para mim foi um aprendizado tardio, fruto de curiosidade e busca de refinamento de conceitos. Bem antes disso, aprendi que o(a) coité também pode ser construída a partir de casca de coco verde, ressecada,  após a extração do miolo e um subsequente polimento.

Em minha casa de infância tinha coités. Eram feitas de cascas de coco ressecadas, polidas e pintadas com algum adorno. Podem ser adquiridas em casas de produtos para a religião umbanda.

Com um pouco de cachaça, e cumprindo os rituais seguidos pelos meus pais, elas eram colocadas embaixo das nossas camas por falta de espaço no pequenino quarto de dormir de 3 meninos onde um altar disputava espaço com uma cama de solteiro e um beliche.

Para nós, as coités eram uma aporrinhação. Eu e meus irmãos tínhamos como obrigação a limpeza da casa, e uma de nossas tarefas diárias era varrer o chão interior, além da limpeza da poeira dos móveis.

Apesar da prática diária, ao passar a vassoura embaixo das camas lá se ia uma vassourada na porra da coité que nunca era lembrada. Não falhava uma. A bagunça nem era grande, a cachaça já havia evaporado, mas era um inconveniente. Além de ganhar uma bronca pela falta de atenção, tínhamos que refazer a obrigação religiosa interrompida com a vassourada descuidada.

A situação era recorrente, sem crises nem frescuras, fazia parte da rotina. A bronca era pequena e carinhosa, quem fizesse a cagada tinha que refazer. Casa de macumbeiros pobres, isso era comum.

Gosto dessas lembranças, e elas sempre retornam quando ouço um samba/calango do Nei Lopes e Wilson Moreira. cuja audição eu recomendo. O título é Coité, Cuia.

 

Na coité bebi cachaça

De cana caiana purinha

Comendo com a mão na cuia

Pirão no molho é de farinha

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Segue um link:

<https://www.youtube.com/watch?v=zFOIyOPNoRw&t=9s>