Leituras para distrair
Aprendi que existe uma árvore chamada Cuieira cujo fruto é o(a)
coité, cabaça ou cuia. Nunca vi. Para mim foi um aprendizado tardio, fruto de
curiosidade e busca de refinamento de conceitos. Bem antes disso, aprendi que o(a)
coité também pode ser construída a partir de casca de coco verde, ressecada, após a extração do miolo e um subsequente
polimento.
Em minha casa de infância tinha coités. Eram feitas de cascas
de coco ressecadas, polidas e pintadas com algum adorno. Podem ser adquiridas
em casas de produtos para a religião umbanda.
Com um pouco de cachaça, e cumprindo os rituais seguidos
pelos meus pais, elas eram colocadas embaixo das nossas camas por falta de
espaço no pequenino quarto de dormir de 3 meninos onde um altar disputava
espaço com uma cama de solteiro e um beliche.
Para nós, as coités eram uma aporrinhação. Eu e meus irmãos
tínhamos como obrigação a limpeza da casa, e uma de nossas tarefas diárias era
varrer o chão interior, além da limpeza da poeira dos móveis.
Apesar da prática diária, ao passar a vassoura embaixo das
camas lá se ia uma vassourada na porra da coité que nunca era lembrada. Não
falhava uma. A bagunça nem era grande, a cachaça já havia evaporado, mas era um
inconveniente. Além de ganhar uma bronca pela falta de atenção, tínhamos que
refazer a obrigação religiosa interrompida com a vassourada descuidada.
A situação era recorrente, sem crises nem frescuras, fazia
parte da rotina. A bronca era pequena e carinhosa, quem fizesse a cagada tinha
que refazer. Casa de macumbeiros pobres, isso era comum.
Gosto dessas lembranças, e elas sempre retornam quando ouço
um samba/calango do Nei Lopes e Wilson Moreira. cuja audição eu recomendo. O
título é Coité, Cuia.
Na coité bebi cachaça
De cana caiana purinha
Comendo com a mão na cuia
Pirão no molho é de farinha
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