Opinião
Toda
sociedade convive com elementos internos que trabalham contra as possibilidades
do seu desenvolvimento. São elementos da própria sociedade que a agridem e que trazem
consigo um potencial de auto-apodrecimento e de subsequente autodestruição. As
sociedades convivem com esses elementos, mas usualmente estão imunes, porque
também são portadoras de anticorpos que destroem ou isolam esses agentes
doentios impedindo sua propagação.
Quando por
alguma razão essa proteção falha, a podridão se espalha em proporção suficiente
para que a sociedade se apresente adoecida, fragilizada, com baixa imunidade e com
a contaminação expressa em partes diversas do corpo social. A nossa sociedade
está assim. Temos um gravíssimo problema de saúde, além do coronavírus e
anterior a ele.
Tudo indica
que esse processo de ruptura das barreiras de proteção social iniciou em 2013.
Sem ações políticas que a contivesse, a doença se espalhou liberando agentes
que já eram doentios, mas que estavam contidos, e criando outros por mecanismos
de contaminação. O resultado está aí, ou melhor, está aqui. Esse processo de
autodestruição do país e. consequentemente, da nossa sociedade, está sendo levado
a cabo por personagens a quem a própria sociedade entregou poderes através de
votos.
As
manifestações da doença ocorrem de formas diversas e distintas. As tentativas
do ex-capitão boquirroto de transformar o Brasil em uma “bozotown”, incitando
seus seguidores ao suicídio coletivo, é a ação de um indivíduo doente, mas também é manifestação de uma doença social quando seus prosélitos fazem carreatas de apoio, tal e qual os suicidas seguidores de Jim Jones há quase cinquenta anos na Guiana. Assim como como apoiar a entrega da soberania e das riquezas nacionais ao
capital privado, de todo e qualquer jeito, ou a destruição dos direitos trabalhistas e dos direitos
sociais. Levar o país ao caos e à morte, é desse jeito que essa doença evolui.
Assim, o
quadro circense que teve clímax ontem com a troca de fascista no ministério da
Saúde não deveria surpreender – estamos doentes. Outro fascista entrou no
cenário. Ele não precisa ter atributo
especial. Estar próximo politicamente, sustentar ou apoiar esse projeto já qualifica,
ou melhor, desqualifica o sujeito, entre eles o tal ministro que substitui o anterior.
Mas, a
sociedade estar adoecida não quer dizer que ela não possa reagir, e no caso da
sociedade brasileira ainda temos recursos para tal. Felizmente. Somos uma
quantidade relevante de agentes sadios, em número suficiente para varrer esse vírus
fascista do corpo social. Uma corja que precisa ser extinta e os seus remanescentes,
que sempre existirão, precisam estar isolados politicamente.
Buscamos
aqui e ali como fazer, mas ainda não encontramos o jeito. Já deveríamos ter
aprendido que essa transformação não ocorrerá através de eleições, mas alguns
ainda pensam assim. Naturalmente temos uma contradição para tratar – o isolamento
social imposto pelo coronavírus conflita com a necessidade de irmos para a rua
tratar dessa doença política. Um remédio prejudica o outro. Mas, isso não é
novidade na medicina e, muito menos, na política. Chegaremos lá.
Não temos uma
bozoquina milagrosa, feito aqueles remédios propagandeados em nome das bigfarmas
do patrão americano. Nada que nos salve desse mal que avança, além da nossa vontade de fazer um mundo
melhor. Claro que só a vontade não basta, mas será ela que nos empurrará para frente até derrubarmos essa canalha.
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