Opinião
Penso nas coisas da vida como quase
todo mundo, e também sem a pretensão de serem indagações filosóficas. Minhas
especulações sobre o ser humano, a natureza, o planeta e o universo dividem
espaço (e geralmente perdem) com dúvidas abissais sobre o que vou preparar para comer. Isso
quando as questões sobre a manutenção da casa e
a lavagem da roupa já estão superadas.
Busco, então, fontes que conheço e
outras sugeridas por dicas, para refletir a partir delas. Vou catando aqui e
acolá tentando avaliar as
possibilidades de transformação do mundo e os desdobramentos sociais pós-crise coronavírus. As
avaliações de certas figuras são sempre educativas e nem sempre consensuais. Vão
desde os cenários pessimistas até os otimistas esperançosos.
Ao
mesmo tempo, e também por dicas de amigos, acompanho notícias sobre ações de
gerenciamento econômico da crise que são reveladoras tanto de interesses como
de interessados. As manchetes dessas notícias algumas vezes disfarçam a
realidade, e mesmo os seus conteúdos passam batidos quando as atenções estão
voltadas para a quantidade de contaminados e de mortos pelo coronavírus.
Recolhi,
então, algumas notícias recentes cujos títulos eu reproduzi na íntegra e em
caixa, alta entre aspas, seguidos da releitura dos seus conteúdos que fala por si e dispensa comentários adicionais:
“PARA
DEPUTADOS DO NOVO, GOVERNO PRECISA FAZER INTERVENÇÃO” [Valor Econômico – RJ – 20/03/2020]
Trata-se
de reivindicação do partido Novo, ultra neo liberal, pedindo
verba do governo para reforço do capital de giro das empresas. O mesmo
partido que prega o fim do Estado e dá suporte ao governo para o corte de verbas para a saúde,
educação, e transporte, além das ações para acabar com os funcionários públicos
e aposentados.
“GOVERNO ASSUME RISCO E BANCO DEVE
REATIVAR OFERTA DE CRÉDITO” [Valor Econômico – RJ
– 30/03/2020]
Essa notícia relata que os bancos
pararam de emprestar dinheiro alegando medo de quebradeira generalizada. “Isso
é problema do governo” disseram os bancos. O governo então está repassando
40 bilhões de reais para
os bancos que emprestarão às empresas cobrando juros. E o Tesouro arcará com 85% do risco. O
mais caricato é que os bancos fizeram propaganda junto aos micros e pequenos
empresários em nome do Bradesco, Itaú e Santander. Salários dos trabalhadores
garantidos por dois meses. “Tudo que a gente quer é que você cuide da
sua saúde sim, mas mantendo sua empresa viva” – diz o comunicado dos
bancos.
“CONSTRUÇÃO DE HOSPITAL DA FIOCRUZ
TERÁ APOIO DO ITAÚ” [Valor Econômico – RJ – 31/03/2020]
Quem ler essa notícia sem crítica não
valorizará como esse apoio “filantrópico” é operacionalizado. Na verdade, a
grana, R$ 10 milhões, é repassada para o hospital via o Instituto
Unibanco e a Fundação Itaú para a
Educação e Cultura, um mecanismo legal, ao qual as grandes corporações recorrem
para obter reduções no Imposto de Renda.
“DONOS DO GRUPO VOTORANTIM DOAM R$ 50 MILHÕES” [Valor
Econômico – RJ – 31/03/2020]
Ora, quem não te conhece que te
compre! A informação está no corpo da notícia. O dinheiro do grupo vai para uma
conta do Instituto Votorantim na
mesma linha do mecanismo utilizado pelo Itau.
Enquanto isso, outra notícia diz
assim: “VAREJO ACUSA BANCOS DE ELEVAR
JUROS” [Valor
Econômico – RJ – 30/03/2020]
A notícia refere-se a uma recorrência
das associações de grandes varejistas junto ao governo denunciando o aumento
expressivo da cobrança de taxas de juros pelos bancos após o início da crise que,
em certos casos, chegam a ser superiores
a 70 por cento.
Com essas e outras, recorro a uma
reflexão do sul coreano Byung-Chul Yang, um dos caras aos quais me referi no início desse texto:
“O vírus não vencerá o capitalismo
... Não podemos deixar a revolução nas mãos do vírus. Precisamos acreditar que
após o vírus virá uma revolução humana. Somos NÓS, PESSOAS dotadas de RAZÃO,
que precisamos repensar e restringir radicalmente o capitalismo destrutivo, e
nossa ilimitada e destrutiva mobilidade, para nos salvar, para salvar o clima e
nosso belo planeta” [ El País – Brasil – 22/03/2020]
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