Opinião
“Vamos
conseguir atravessar esse túnel e ver o outro lado! “
Esse foi o
comentário de um amigo querido em conversa telefônica. A um só tempo foi uma
brincadeira, uma manifestação de esperança e, especialmente, estava “botando
uma pilha”, preocupado com o meu estado de ânimo. Sigo embalado nesse incentivo
e tenho , sim, enorme curiosidade em ver o que virá depois. Uma curiosidade
esperançosa porque sequer conseguimos ver
a luz no fim desse túnel. Podemos até imaginá-la, mas ainda não podemos vê-la.
Contudo, não
devemos descuidar do caminho porque viver é o caminhar. A vida está aqui, não
está após o túnel. Descuidar do agora é não viver, e navegando no escuro temos
coisas importantíssimas para tratar e realizar. Um tropeço imprudente, um
degrau não percebido, mesmo que seja aquele último da portaria, poderá ser
apenas um inchaço no joelho ou se transformar em uma enorme cagada.
Mas, vale
também pensar em como será lá, na saída. A vida será outra. Como serão as
coisas mais simples? As relações familiares, os amigos, a vida social e a vida
afetiva? Outro companheiro observou: depois dessa, quem irá a um restaurante, a
um teatro ou cinema como ia antes?
As escolas e a vida escolar das crianças serão
diferentes. Também os encontros, os passeios, as viagens, até o futebol. A ida
a praia e aos cultos religiosos. A dinâmica dos grupos de cachaceiros dos quais
participo certamente será outra.
Nesses
poucos dias de coronavírus, as nossas
vidas, como eram, foram desarrumadas. Não foram destruídas, mas já estão desengonçadas,
e mesmo que queiramos rearrumá-las nos
padrões anteriores isso levará tempo. Quem ainda não se deu conta disso e
imagina que tudo estará ok daqui a pouco, no final do mês, está dando uma de
Barrichello.
Sem contar os
impactos em nossas vidas econômicas e financeiras (naturalmente refiro-me ao
grupo de minhas relações. Posso especular, mas não conheço nem tenho relações
com qualquer extrato da elite socioeconômica, tampouco com aqueles que já são,
hoje, indigentes sociais). Haverá
impacto em nossos empregos, nossos negócios e compromissos. Alguém publicou uma
brincadeira que gostei muito:
“Sobe para 9 os casos de boleto aqui
em casa que não serão pagos, já são: 6 confirmados e 3 suspeitos. O pico de
aumento vai ser agora do final de março a 15 de abril. “
Noam
Chomsky, linguista, filósofo e ativista
político norte-americano, uma das principais referências para mim, foi entrevistado
sobre a crise do coronavírus. Ele testemunhou e
vivenciou os mais importantes processos e eventos históricos do século XX, e o fez de uma forma crítica que o projetou
como um dos grandes historiadores e pensadores políticos contemporâneos.
Segundo
Chomsky, a ideia de que o destino dos
EUA e do mundo estão nas mãos de um palhaço sociopata é chocante. Para ele, o
coronavírus é sério, mas há horrores maiores se aproximando: a ameaça crescente da guerra nuclear, a ameaça
do aquecimento global, além da deterioração da democracia.
O
coronavírus é uma praga horrível e terá consequências terríveis, diz ele, mas poderá
ter uma recuperação. Para a guerra
nuclear e o aquecimento global a recuperação não existe. Mas, são ameaças que
podem ser tratadas, embora não haja muito tempo para isso, e no caso da democracia, ela é a única
esperança para superar as crises. Uma população informada, envolvida e
assumindo o controle do seu destino é fundamental. Se isso não acontecer
estaremos fudidos (esse termo é meu, não fiz tradução literal). E se deixarmos
nosso destino nas mãos de bufões sociopatas (aqui são palavras do Chomsky) será o nosso fim.
Governados por palhaços, bufões sociopatas? A
generalização do Chomsky foi perfeita!
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Nota:
Entrevista do Chomsky publicada pelo no site Youtube pelo site “acTVism Munich”em 28/03/2020 -
Trancrição em :< https://www.actvism.org/wp-content/uploads/2020/03/Noam-Chomsky-on-the-Coronavirus.pdf>
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