sexta-feira, 24 de abril de 2020

A vida em tempos de coronavírus (36)


Opinião


Hoje deve estar complicado lá, para o lado de São Jorge. Para nós, alguns dias santificados são de feriado e lazer, mas para os santos o “day after” deve ser uma complicação total. A moçada não alivia a barra e carrega nos pedidos de proteções e  graças apelando para os poderes que imaginam que os santos possam ter. Assim, lá no barracão ou escritório das santidades, hoje deve ser dia de separar os agradecimentos dos pedidos, de organizar esses últimos cuja quantidade certamente será infinitamente maior que os primeiros, de separar o válidos dos inválidos, enfim, uma trabalheira, sem falar na operacionalização.

Tudo bem que aqui, no Rio de Janeiro, o santo guerreiro poderá pedir uma ajuda a São Sebastião com quem divide o cargo de padroeiro. Porém, tem o caso da Inglaterra, Portugal e outros países onde ele também é padroeiro, tem mais de uma matrícula, e onde estão todos igualmente enfrentando pandemias de coronavírus. Não consta que os fiéis desses lugares sejam mais parcimoniosos que os daqui nesses assuntos de rezar por proteção.

Mas, tem assunto que nem São Jorge nem São Sebastião vão dar jeito. “É coisa dos home”, lembrando Aldir Blanc e João Bosco. “ ... A fome tem que ter raiva pra interromper, a raiva e a fome de interromper, e a  fome e a raiva é coisa dos home”. E parece que ainda não acumulamos fome e raiva bastante para interromper esse processo político maluco que estamos vivendo. Maluco, entenda-se bem,  no sentido figurado, nas suas manifestações caricatas. Porque seus efeitos e propósitos  obedecem a projetos elaborados, organizados e criteriosos para fazer do país uma nação de categoria inferior, com uma sociedade de porão, encolhida em quartinho de fundos e sem janelas para o futuro.

A trupe Bozo está dando o máximo de si para expressar sua mediocridade. Entreter a população, mostrar que há estágios da condição humana que podem ser mais miseráveis do que a contaminação viral, esse parece ser o seu papel nessa crise e, justiça seja feita, está desempenhando com afinco.

Parece que os ministros da trupe revezam-se na tarefa de se mostrarem imbecis. Em plena crise pandêmica um ministro faz piada com a morte da sogra de um médico equatoriano. “Morte suspeita” foi a piadinha do ministro. Mas, pasmem! Não foi conversa privada grampeada, foi em mensagem pública que ele mesmo divulgou.

Outro ministro não deixou por menos. Um filósofo de fama internacional apontou contradições expostas pela pandemia. Todas as ações de recuperação da ordem capitalista estão sendo  realizadas pelo Estado e com recursos públicos seguindo uma lógica que nega completamente os aclamados valores do pensamento neoliberal. Aliás, um fato de constatação obvia e irrefutável. Porém, como se disputasse um concurso de estultice, o ministro do governo Bozo fez artigo em blog intitulado “Chegou o comunavírus” acusando filósofo, professor da universidade de Londres , de usar a pandemia para "instaurar o comunismo, o mundo sem nações nem liberdade, um sistema feito para vigiar e punir".

Tá bão ou quer mais?

Volta e meia um desses idiotas da trupe entra em processo de fritura e conflito com o chefe, como está ocorrendo nesses dias. Mas essas defecções ministeriais, tanto as ocorridas como as anunciadas, não me parecem sinalizar ratos abandonando navio que afunda, Parecem mais baratas alvoroçadas por alguma perturbação em sua tranquilidade. A  barata da vez é juiz de primeiro piso.

Essas baratas que estão saindo buscarão e logo acharão agasalho em outro bueiro de restos e sujeira. É da natureza delas ziguezaguear de um bueiro para outro. Mas, o foco de onde saíram permanece  imundo, e para lá outras baratas  convergirão. É esse foco que precisa de uma limpeza e desinfecção em regra. Dessas que mesmo sendo realizada com o uso de luvas, obriga-nos a lavar, lavar e lavar as mãos ao terminar. Tal limpeza é realizada com muita mobilização política – nossa tarefa. E tem que ter raiva para interromper.

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