sábado, 18 de abril de 2020

A vida em tempos de coronavírus (30)


Opinião


A Toponímia é uma área da ciência (Linguística) que  estuda os nomes dos lugares. O nome dado a uma rua, um acidente geográfico, um bairro, uma cidade ou local qualquer é genericamente um topônimo.

Usualmente os topônimos carregam consigo registros da cultura ou da história de uma sociedade, e podem ser uma fonte de informação e pesquisa, até por prazer ou simples curiosidade. Eu, por exemplo, tenho um livreto “Estudo dos Topônimos Gonçalenses de Origem Tupi” que é uma publicação da Academia Gonçalense de Letras, Artes e Ciências e cuja leitura acho bem interessante para quem conhece e guarda uma relação de carinho com a cidade, como é o meu caso.

Contudo, eu tenho implicância com os topônimos que homenageiam “vultos” históricos de qualquer natureza: políticos, artistas, atletas e por aí vai. Acho que o valor histórico do homenageado sempre estará sujeito a avaliações controversas e que podem variar até com a própria história. Por outro lado, não implico com os topônimos de fatos históricos. As avaliações sobre eles também podem variar, mas são fatos e pronto.

Por exemplo, o nome de um viaduto na cidade do Rio de Janeiro homenageia  o golpe de 64: “Viaduto 31 de Março”. Alguns pensarão no golpe com reverência e eu como uma indecência, mas o fato existiu e até acho que não deveria ser esquecido. Mas, não gosto das homenagens a golpistas escrotos como “Rodovia Castelo Branco” (SP) ou “Ponte Pres. Costa e Silva” (RJ). 

Também não endosso as iniciativas de nomeação de logradouros com nomes importantes da esquerda política. Um exemplo dos mais significativos é o nome “Marielle Franco” entre outros. Até tenho em casa uma réplica da placa que identifica a rua com o nome da Marielle, mas não curto a iniciativa.

Por mim não existiriam topônimos com nomes de pessoas físicas vivas ou mortas. Não contribui para nada e sugere a barganha de favores. É uma prática ruim, especialmente numa época e situação em que os locais que carecem de nomeação são, em geral, logradouros ou obras públicas, já que não existem muitos rios, mares ou montanhas, cidades a serem criados ou descobertos e nomeados.

Eu suponho que não faltarão puxa-sacos para nomear logradouros homenageando  membros dessa galera fascista está governando a nação. Mas, por coincidência, feliz ou infeliz, esse período será mais lembrado pelo coronavírus do que por essa corja que será logo esquecida. Os topônimos que porventura levarem os seus nomes não significarão absolutamente nada, e foi pensando nisso que me lembrei de uma situação aqui, no Rio de Janeiro.

No Rio de Janeiro, em algumas placas de identificação das ruas, embaixo do nome da rua costuma vir uma informação que auxilia a identificar a origem do topônimo, por exemplo: Rua Dois de Dezembro -  embaixo do nome da rua está escrito “ data de nascimento do imperador D. Pedro II”. Acompanhar essas leituras às vezes é bem interessante e outras vezes cômico.  

No bairro Flamengo, em duas ruas adjacentes, uma das placas identifica “Rua Barão de Icaraí” e embaixo vem a informação “1821 – 1896 – Constantino Pereira de Barros foi capitalista e proprietário de terras” , ou seja, não tem porra nenhuma que justifique a homenagem ao sujeito além do fato dele ser rico. Porém, mais interessante ainda, é a placa da rua seguinte: “Rua Honório de Barros” e, embaixo: “filho do Barão de Icaraí”. Contado é até difícil de acreditar, então eu fiz fotos.

Essas situações me fizeram pensar na trupe Bozo e na identificação sequencial dos pulhas: 01, 02 e 03 – como seriam as placas?

Deixo essa questão para quem tiver o saco de ler esse texto. Para mim, uma placa com o nome “coronavírus” seria bem mais simbólica e importante do que qualquer tipo de menção a passagem desses merdas pela história do país.

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