quarta-feira, 8 de abril de 2020

A vida em tempos de coronavírus (20)


Opinião


Não deixará de ser um comentário medíocre, sem imaginação, mas pagarei o preço:  Fazer 69 isolado é um paradoxo. Em qualquer sentido, literal ou metafórico. Talvez seja essa a verdadeira sacanagem!

Chegará o tempo em que o coronavírus será apenas um registro nos  históricos sanitários do nosso país, e o vírus Bozo estará  no lugar que lhe cabe: o lixo da história, parafraseando o companheiro Trotsky. Isolados, ou não, seguiremos combatendo um e outro. Enquanto isso, não tem jeito, a posição que me cabe nestes 69 é a do isolamento obsequioso.  

Compensa a felicidade de receber cumprimentos das minhas diversas tribos e com quem tenho compartilhado felicidade e experiências. Amigos de trabalhos, de escolas, de infância, de militâncias, de cachaças e familiares, entre outros. Quem me conhece sabe que não comemoro aniversários, simplesmente não gosto. Mas sinto-me feliz ao receber cumprimentos. Sinto-me lembrado e abraçado. Isso é muito bom e não há palavras para agradecer. Assumo a dívida.

Busquei uma forma, mínima que fosse, de compartilhar a alegria que sinto com tanto carinho que tenho recebido. Tentarei fazer isso, então, postando aqui um poema que gosto muito. Seu título é Canción e da autoria do poeta cubano Nicolás Guillén.  Lembrei do poema porque, além de ter um significado especial para mim, ele cita o mês de abril, embora associando-o à estação primavera. Estando no hemisfério norte, a primavera em Cuba estende-se no período de 20 de março até 21 de junho, período do lindo outono aqui, em nosso hemisfério.

O compositor Pablo Milanez musicou o poema, e a canção ficou muito famosa em minha geração sendo gravada por importantes artistas na época e conhecida por seu primeiro verso "De que calada maneira". Segue então, as referências do livro com o poema e um link para quem quiser ouvir a canção. Como nas festinhas de criança, um brinde de  lembrança de “cumpleaños”. Obrigado.


Canción   (Nicolás Guillén)

¡De que callada manera
se me adentra usted sonriendo,
como si fuera
la primavera!
(Yo, muriendo)

Y de que modo sutil
me derramó en la camisa
todas las flores de abril

¿Quién le dijo que yo era
risa siempre, nunca llanto,
como si fuera
la primavera?
(No soy tanto)

En cambio, ¡qué espiritual
que usted me brinde una rosa
de su rosal principal!

¡De que callada manera
se me adentra usted sonriendo,
como si fuera
la primavera!
(Yo, muriendo.)

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NOTAS
Guillén, Nicolás – Todas las flores de abril – Editorial Letras Cubanas – La Habana,  Cuba (1993)

Canción (1972) Nicolás Guillén CUBA – Recuperado em 08/04/2020 de <https://www.youtube.com/watch?v=LEZWKMv74XA>

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