Opinião
Estou bastante
cismado. Hoje, segunda-feira, pela manhã, olhando da janela para as pistas do
Aterro (RJ) tem-se a impressão que a cidade está voltando ao seu cotidiano. Sei
que não passa de impressão, que essa não é essa a realidade, mas a impressão
decorre da observação da quantidade de veículos e pessoas transitando. Um
número muitíssimo abaixo do que costuma ser – daí eu saber que a normalidade é
falsa, que não passa de uma impressão. Porém, um número muito maior do que
deveria ser para uma cidade em estado de isolamento social.
Até a praia
que tem estado deserta nos últimos dias, hoje está com uma quantidade observável
de pessoas, tem gente para lá e pra cá,
em bicicletas na calçada e algumas na areia. Adultos sozinhos, não vejo
crianças e famílias.
Pelas notícias
que acompanhei, a quantidade de testes de contaminação que está sendo realizada
no Brasil é um número irrisório se comparado com as referências internacionais.
Isso não me surpreende considerando as características e o estado das coisas em
nosso país. Mas, como os casos oficiais de infectados e de óbitos são apenas aqueles
registrados por testes, a consequência
direta é que os números oficiais estão subestimados em relação à realidade. Esse
fato também não é uma novidade para quem tem acesso à informação e acompanhado
o noticiário. As próprias autoridades da saúde não escondem essa situação.
A questão
que surge daí, a meu ver, é o quanto esses números oficiais estão distantes da
realidade e o que representa desconsiderá-los sem, ao menos, divulgar as
estimativas.
Hoje, por
exemplo, há notícias (Estado de S. Paulo – 1ª. página) que a quantidade de óbitos por insuficiência
respiratória e pneumonia, em março 2020, no Brasil, foi de 2239 casos a mais do
que no mesmo período do ano passado. Esses óbitos não foram classificados como
coronavírus (Covid – 19) cuja quantidade oficial aponta 1223 casos até ontem. Sem intenção de banalizar a morte, trata-se de um número modesto no quadro da crise mundial. Ora, se as relações forem diretas
(ressalvo que é uma especulação, mas bem razoável), além dos 1223 casos oficiais haverá mais de
2000 casos não notificados.
Voltando à
questão do que significa desconsiderar a realidade, se esses 2000 óbitos
representam realmente uma subnotificação, desconsiderá-los é um crime, mesmo
com ressalvas que se trata de estimativas. Um crime porque certamente esses
rolézinhos de praia, de calçadas e de ruas seriam repensados se esses números
estivessem nas primeiras páginas dos jornais em vez de estarem em matérias colaterais
às manchetes.
É preciso
cobrar essa divulgação sob pena de cumplicidade com esse crime. Eu não estou
falando do fascista maior, nem dos seus seguidores. Desses não há o que esperar. Falo de cada um de nós que
estamos aflitos e impactados por essa pandemia. Falo dos grandes meios de
comunicação – que até tem sido elogiados por suas atividades nesses tempos de
coronavírus. Esse mundo paralelo, se ele realmente tem existência, precisa ser trazido para a frente das telas.
Mesmo
reconhecendo que não temos testes em quantidades suficientes ou que não
tenhamos condições de realizá-los para assegurar
com consistência a quantidade de contaminações e de óbitos, há recursos técnicos
para a realização de inferências e estimativas. Isso é possível.
Afinal,
está morrendo essa porrada de gente ou não?
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