sábado, 25 de abril de 2020

A vida em tempos de coronavírus (37)


Opinião


Ontem foi dia da  Mãe das lives”. Talvez preocupado com os efeitos depressivos sobre a população provocados pelo isolamento social, o governo Bozo protagonizou uma encenação burlesca, rigorosamente uma Farsa (gênero dramático cômico que se utiliza de personagens caricatos e excêntricos) que deve ter concorrido e batido qualquer live recente das chamadas duplas sertanejas.

A apresentação se deu em dois atos e “mediocridade acima de tudo e de todos” deve ter sido a orientação dos diretores do espetáculo. No primeiro ato o juiz de primeiro piso, antes ministro, e no segundo ato o ex-capitão boquirroto acompanhado de parte da trupe. Uniram-se todos em atuação especial.

Bozo e o juiz de primeiro piso engalfinharam-se, arrancaram perucas e cabelos um do outro. Rasgaram roupas e desnudaram-se. É verdade que o que se viu não foi novidade. São conhecidos canastrões e suas fantasias não melhoram as suas representações. De qualquer forma, um arrancou do outro todos os disfarces e isto foi importante para quem ainda confunde ator com personagem e tem expectativa de que alguma coisa boa exista sob os seus costumeiros trajes e caretas circenses.

Oportunista, mentiroso, chantagista, criminoso. Crime de responsabilidade, obstrução de Justiça, interferência em investigações. Tentativas de acesso indevido a documentos sigilosos de inteligência, falsidade ideológica – esse foi o script das apresentações. Conversa de bandidos trocando acusações em delegacia de polícia. Só faltaram as algemas.

Até os governos do PT foram trazidos  à cena como referências de trato politicamente correto da coisa pública. Quem diria!

Há mais de trinta anos, uma novela global teve um enredo que se passava em um degradado reino de Avilan, onde os poderes eram ocupados por personagens caricatos e corrompidos. A novela ficou como uma fantasia satírica da situação nacional na época. Acho até que já foi reprisada como uma história distante. Porém  - a vida é uma caixinha de surpresas – esse era o bordão repetido pelo narrador da história do azarado Joseph Climber.  E aqui os azarados somos nós porque o reino de Avilan é aqui e hoje. E quem tiver dúvidas pergunte ao chefe da trupe Bozo. Ele já disse em alto e bom som: A constituição sou eu!



O rei e sua corte próxima já não posam para fotos. Hoje tem-se vídeos. E estavam todos lá. A ministra dos Direitos Humanos bem atrás, sem uma goiabeira na qual pudesse subir e se destacar. O ministro da Saúde tomou conta da festa. Como se estivesse dopado, fazia caras e bocas atrás do ministro da Educação. As chamadas  gifs com suas imagens ocuparam a web. Luizinho Mandetta foi substituído por Nelsinho Masturbação (ou rima que se aplique), essa era a legenda das gifs.

O ministro da Educação foi apontado pelo Bozo como exemplo. Reconhecimento justo. Nada mais coerente do que aquela figura como uma representação exemplar desse governo. O da Economia, de máscara, devia estar sorrindo e pensando em como incluir aquelas imagens num dos tantos pacotes que ele está fazendo para entregar o país e faturar uns trocadinhos a mais.

E os milicos? Altivos - era o que lhes cabia. Orgulhosos do papel que têm desempenhado de símbolos da ameaça permanente de uma ditadura militar e avalistas do ex-capitão boquirroto e de seus atos. Cúmplices da abertura de Alcântara para os EUA e da entrega da Embraer para a Boeing. Endossam sem constrangimentos as continências do ex-capitão à Star-Spangled Banner.

Certamente foi o dia mais divertido da quarentena. Será inesquecível. E quem perdeu poderá ver a síntese reproduzida em um dos quadros do vídeo com a imagem  do tradutor de Libras (que também viralizou na web, possivelmente até para fora do país - imagem abaixo). Comenta-se que outras apresentações desse tipo virão, focalizando outros personagens. Cada um em sua vez de ocupar o lugar na frigideira.

Enquanto isso, vamos por aí, buscando o que haverá de melhor para nós. Outros conseguiram, porque não haveríamos de conseguir. Certamente esqueceram uma semente em algum canto de jardim.

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Um comentário :

  1. Quero deixar registrado que adoro mergulhar nestas palavras tão satiricamente bem colocadas. Rir é o que nos resta diante dos palhaços que ocupam o Palácio (ou seria o circo?), ainda que não falte motivo para chorar.

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