Opinião
Ontem foi dia da “Mãe das lives”. Talvez preocupado com os
efeitos depressivos sobre a população provocados pelo isolamento social, o
governo Bozo protagonizou uma encenação burlesca, rigorosamente uma Farsa (gênero dramático cômico que se utiliza de personagens
caricatos e excêntricos) que deve ter concorrido e batido qualquer live recente das chamadas duplas
sertanejas.
A apresentação se deu em dois atos e “mediocridade acima de tudo e de todos” deve
ter sido a orientação dos diretores do espetáculo. No primeiro ato o juiz de primeiro
piso, antes ministro, e no segundo ato o ex-capitão boquirroto acompanhado de
parte da trupe. Uniram-se todos em atuação especial.
Bozo e o juiz de primeiro piso
engalfinharam-se, arrancaram perucas e cabelos um do outro. Rasgaram roupas e
desnudaram-se. É verdade que o que se viu não foi novidade. São conhecidos
canastrões e suas fantasias não melhoram as suas representações. De qualquer
forma, um arrancou do outro todos os disfarces e isto foi importante para quem
ainda confunde ator com personagem e tem expectativa de que alguma coisa boa exista
sob os seus costumeiros trajes e caretas circenses.
Oportunista, mentiroso, chantagista,
criminoso. Crime de responsabilidade, obstrução de Justiça, interferência
em investigações. Tentativas de acesso indevido a documentos sigilosos de
inteligência, falsidade ideológica – esse foi o script das apresentações. Conversa de bandidos
trocando acusações em delegacia de polícia. Só faltaram as algemas.
Até os governos do PT foram
trazidos à cena como referências de
trato politicamente correto da coisa pública. Quem diria!
Há mais de trinta anos, uma novela
global teve um enredo que se passava em um degradado reino de Avilan, onde os poderes
eram ocupados por personagens caricatos e corrompidos. A novela ficou como uma
fantasia satírica da situação nacional na época. Acho até que já foi reprisada
como uma história distante. Porém - a
vida é uma caixinha de surpresas – esse era o bordão repetido pelo narrador da
história do azarado Joseph Climber. E aqui
os azarados somos nós porque o reino de Avilan é aqui e hoje. E quem tiver
dúvidas pergunte ao chefe da trupe Bozo. Ele já disse em alto e bom som: A constituição sou eu!
O rei e sua
corte próxima já não posam para fotos. Hoje tem-se vídeos. E estavam todos lá. A
ministra dos Direitos Humanos bem atrás, sem uma goiabeira na qual pudesse subir
e se destacar. O ministro da Saúde tomou conta da festa. Como se estivesse
dopado, fazia caras e bocas atrás do ministro da Educação. As chamadas gifs com suas imagens ocuparam a web. Luizinho
Mandetta foi substituído por Nelsinho Masturbação (ou rima que se aplique),
essa era a legenda das gifs.
O ministro da
Educação foi apontado pelo Bozo como exemplo. Reconhecimento justo. Nada mais coerente
do que aquela figura como uma representação exemplar desse governo. O da
Economia, de máscara, devia estar sorrindo e pensando em como incluir aquelas
imagens num dos tantos pacotes que ele está fazendo para entregar o país e
faturar uns trocadinhos a mais.
E os milicos?
Altivos - era o que lhes cabia. Orgulhosos do papel que têm desempenhado de símbolos
da ameaça permanente de uma ditadura militar e avalistas do ex-capitão
boquirroto e de seus atos. Cúmplices da abertura de Alcântara para os EUA e da
entrega da Embraer para a Boeing. Endossam sem constrangimentos as continências do ex-capitão à Star-Spangled
Banner.
Certamente
foi o dia mais divertido da quarentena. Será inesquecível. E quem perdeu poderá
ver a síntese reproduzida em um dos quadros do vídeo com a imagem do tradutor de Libras (que também viralizou na
web, possivelmente até para fora do país - imagem abaixo).
Comenta-se que outras apresentações desse tipo virão, focalizando outros
personagens. Cada um em sua vez de ocupar o lugar na frigideira.
Enquanto
isso, vamos por aí, buscando o que haverá de melhor para nós. Outros
conseguiram, porque não haveríamos de conseguir. Certamente esqueceram uma
semente em algum canto de jardim.
Quero deixar registrado que adoro mergulhar nestas palavras tão satiricamente bem colocadas. Rir é o que nos resta diante dos palhaços que ocupam o Palácio (ou seria o circo?), ainda que não falte motivo para chorar.
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