sexta-feira, 27 de março de 2020

A vida em tempos de coronavírus (8)


Opinião


Por cacoete de formação, passei a registrar os números oficiais de infectados e mortos pelo coronavírus e a construir meus gráficos e linhas de tendências. Sei que os números reais distanciam-se dos oficiais do ministério da saúde, mas contento-me com esses últimos. Algumas revistas e jornais têm publicado gráficos da evolução da pandemia através dos quais é possível comparar sua evolução no Brasil com a Itália e o mundo

Naturalmente quaisquer comparações precisam ser cuidadosas, relativizadas, contextualizadas, evitando-se conclusões falsas e até absurdas. Então, mesmo feitas todas essas ressalvas, os números assustam. Uma relativização não elaborada, mas simples, é analisar a evolução de casos em quantidade de dias a partir do primeiro dado registrado. Por exemplo, no Brasil, 25 dias após o primeiro caso de contaminação, são contabilizados 1128 casos. Na Itália, após 25 dias da primeira contaminação a quantidade de infectados era 59.138. Já a quantidade de mortos 9 dias após a primeira morte registrada, no Brasil são 77 casos e na Itália foram 79. Hoje, na Itália, passados 32 dias da primeira morte registrada, o número de óbitos é de 8.215 casos numa população de 80.589 infectados..

Esses números só não assustam os que forem insensíveis qualquer que seja o caso ou ignorantes que não conseguem elaborar um mínimo de projeção sobre as possibilidades (não certeza) de evolução da pandemia. Entre os primeiros estão alguns que compreendem o quadro, mas, insensíveis, atuam maliciosamente valorizando exclusivamente os seus interesses. Entre os últimos estão aqueles que potencialmente podem ser utilizados como massa de manobra pelos primeiros. Sem generalizações, quem quiser saber dos primeiros busquem os empresários que estão colados nas teses da trupe Bozo, além do próprio líder da trupe. Já a massa de manobra está entre aqueles que apesar, de tudo, seguem apoiando o presidente Bozo , ele próprio, um vírus social. .

Tentando elaborar um mínimo de crítica sobre o quadro geral, entre amigos temos trocado ideias em videoconferências, sem a pretensão de conclusões apressadas ou definitivas. Fazemos brincadeiras sobre a situação de cada um e sobre nossas dificuldades técnicas e intelectuais no uso das ferramentas teleinformáticas. Ontem conversamos sobre o impacto dos pronunciamentos do ex-capitão boquirroto. A esse propósito, comentamos sobre as repercussões no comportamento geral. Um desgaste na imagem do apoiador de torturadores ou uma adesão às suas teses?

O ídolo dos milicianos trouxe para a ordem do dia a manifestação de mais um preconceito discriminatório, ao lado dos tantos que tem sido a suas referências de valores sociais. Agora a discriminação dos idosos. Sem constrangimentos essa pústula com mandato presidencial faz aflorar mais uma doença social que até aqui era mantida controlada. Já tem velhinhos xingados e sofrendo constrangimentos nas ruas.

Também conversamos sobre a falta de protagonismo da esquerda. Essa avaliação é quase consensual, embora existam divergências sobre as causas dessa situação. Mas há concordância sobre a tomada do discurso pela direita política.   As dissidências, os conflitos, as referências dessa ou daquela posição que estão sendo divulgadas na mídia de massa são (oportunamente) referências da direita. Esse é, entre outros, mais um dos obstáculos que a esquerda precisa superar

Enfim, apesar das dificuldades, geralmente concentradas entre a cadeira e o computador ou celular, acho que deveríamos insistir nessa prática dos encontros virtuais. Sugiro que outros também o façam. Parece um bom exercício nesses tempos de coronavírus.

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