quarta-feira, 25 de março de 2020

A vida em tempos de coronavírus (6)


Opinião

Hoje é dia 25 de março, e para o Brasil inteiro essa data remete à famosíssima rua de S. Paulo, um centro comercial que em ocasiões especiais chega a receber 1 milhão de visitantes em um único dia. O nome da rua refere-se à data em que D. Pedro I impôs ao país a sua primeira constituição, em 1824.

Enquanto a constituição de 1988 ficou conhecida como a “cidadã”, aquela imposta em 1824 foi a constituição “mandioca”. Esse apelido decorreu do fato que ela instituiu um tipo de eleição onde só votava quem tivesse terras e escravos – quem tivesse mandioca.

O texto original da “mandioca” foi elaborado por uns caras que o imperador designou logo após declarar a independência, um arremedo de constituinte. O grupo elaborou um projeto e levou para o imperador assinar, mas ele não gostou porque mexia com seus poderes. Ficou puto da vida, chutou o pau da barraca, mandou prender alguns dos constituintes, reuniu outra meia dúzia de caras e fez, ele mesmo, a constituição que queria e empurrou-a goela a baixo do país, com mandioca e tudo. Aliás, o imperador entubou bem a mandioca que já constava no texto censurado.

Ontem, o ex-capitão presidente em pronunciamento na TV fez lembrar a mandioca.. O boquirroto deu um “foda-se!” para os trabalhos que a sua própria equipe vem elaborando e divulgando. Chutou o pau da barraca. Vamos todos para as ruas! Mandem as crianças para os colégios! Uns velhinhos podem se dar mal, a gente tenta cuidar deles, tá okey? Sou atleta, sujeito homem, e pra mim esse tal de coronavírus é só uma gripezinha!

A noite de 1824 em que o imperador mandou os seus milicianos enfiarem a mandioca nos constituintes e prender alguns deles ficou conhecida como a Noite da Agonia. Acho que os brasileiros não infectados com o vírus Bozo e alguns que estão convalescendo dessa contaminação foram dormir com a sensação de uma noite também de agonia. O ex-soldado boquirroto é a própria expressão de um vírus, de uma doença. Uma  doença social, anterior à Covid-19,  que acometeu a nossa sociedade. Uma pandemia nacional cuja contaminação foi bastante para se expressar eleitoralmente e levá-lo ao poder. Ele e as suas circunstâncias.

A pandemia Bozo naturalmente gerou uma crise. Seus eleitores não sabem o que fazer. Tal e qual doentes depressivos estão conscientes do seu mal e de que cura está dentro de cada um mas, não conseguem alcançá-la. Sentem pânico. Medo da “esquerda” e “ódio ao PT”.

Os apoiadores do projeto político Bozo estão cabreiros. Apostaram na astúcia de levar um Chapolin ao poder, mas não contaram com tanta estultice. O sujeito é a caricatura da caricatura. Não são apoiadores amadores. Orientam-se por uma cartilha liberal de autoria internacional e vão empurrando para levar seu projeto adiante. Manifestam-se aqui e acolá. Federações industriais, representantes nas casas legislativas, no pode judiciário, nas corporações financeiras, nas grandes mídias. Tentam constranger o boquirroto, mas sem negá-lo porque  ele  ainda é útil para os seus propósitos.

Um grupo especial de empresários faz coro direto de apoio ao Chapolin. Uma canalha que ver a grana rápido e que se  dirige aos seus empregados: Saiam pra rua e venham trabalhar! Encher nossos bolsos!  Venham queimar suas vidas em nossas fornalhas. Contaminem-se, desde que não encostem em nós! Não podemos é deixar a máquina capitalista parar!

Assim vamos e outro dia de agonia passará. Meus planos furaram. Hoje seria data de aniversário do meu falecido (e muito querido) pai. Eu e meu irmão bebericaríamos umas cachaças nas praias da cidade onde ele mora. Ironicamente foi o vírus quem isolou a humanidade revertendo a prática científica. Precisei cancelar nossa programação. Se passarmos por essa celebraremos depois. Fica pra outra. No meu caso, há vírus de diversos tipos para combater.

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