Opinião
Hoje é dia
25 de março, e para o Brasil inteiro essa data remete à famosíssima rua de S.
Paulo, um centro comercial que em ocasiões especiais chega a receber 1 milhão
de visitantes em um único dia. O nome da rua refere-se à data em que D. Pedro I
impôs ao país a sua primeira constituição, em 1824.
Enquanto a constituição
de 1988 ficou conhecida como a “cidadã”, aquela imposta em 1824 foi a
constituição “mandioca”. Esse apelido decorreu do fato que ela instituiu um
tipo de eleição onde só votava quem tivesse terras e escravos – quem tivesse
mandioca.
O texto
original da “mandioca” foi elaborado por uns caras que o imperador designou
logo após declarar a independência, um arremedo de constituinte. O grupo
elaborou um projeto e levou para o imperador assinar, mas ele não gostou porque
mexia com seus poderes. Ficou puto da vida, chutou o pau da barraca, mandou
prender alguns dos constituintes, reuniu outra meia dúzia de caras e fez, ele
mesmo, a constituição que queria e empurrou-a goela a baixo do país, com
mandioca e tudo. Aliás, o imperador entubou bem a mandioca que já constava no
texto censurado.
Ontem, o
ex-capitão presidente em pronunciamento na TV fez lembrar a mandioca.. O boquirroto
deu um “foda-se!” para os trabalhos que a sua própria equipe vem elaborando e
divulgando. Chutou o pau da barraca. Vamos todos para as ruas! Mandem as
crianças para os colégios! Uns velhinhos podem se dar mal, a gente tenta cuidar
deles, tá okey? Sou atleta, sujeito homem, e pra mim esse tal de coronavírus é
só uma gripezinha!
A noite de 1824 em que o imperador
mandou os seus milicianos enfiarem a mandioca nos constituintes e prender
alguns deles ficou conhecida como a Noite da Agonia. Acho que os brasileiros não
infectados com o vírus Bozo e alguns que estão convalescendo dessa contaminação
foram dormir com a sensação de uma noite também de agonia. O ex-soldado
boquirroto é a própria expressão de um vírus, de uma doença. Uma doença social, anterior à Covid-19, que acometeu a nossa sociedade. Uma pandemia
nacional cuja contaminação foi bastante para se expressar eleitoralmente e
levá-lo ao poder. Ele e as suas circunstâncias.
A pandemia Bozo
naturalmente gerou uma crise. Seus eleitores não sabem o que fazer. Tal e qual
doentes depressivos estão conscientes do seu mal e de que cura está dentro de
cada um mas, não conseguem alcançá-la. Sentem pânico. Medo da “esquerda” e
“ódio ao PT”.
Os
apoiadores do projeto político Bozo estão cabreiros. Apostaram na astúcia de
levar um Chapolin ao poder, mas não contaram com tanta estultice. O sujeito é a
caricatura da caricatura. Não são apoiadores amadores. Orientam-se por uma
cartilha liberal de autoria internacional e vão empurrando para levar seu
projeto adiante. Manifestam-se aqui e acolá. Federações industriais,
representantes nas casas legislativas, no pode judiciário, nas corporações
financeiras, nas grandes mídias. Tentam constranger o boquirroto, mas sem
negá-lo porque ele ainda é útil para os seus propósitos.
Um grupo
especial de empresários faz coro direto de apoio ao Chapolin. Uma canalha que
ver a grana rápido e que se dirige aos
seus empregados: Saiam pra rua e venham trabalhar! Encher nossos bolsos! Venham queimar suas vidas em nossas fornalhas.
Contaminem-se, desde que não encostem em nós! Não podemos é deixar a máquina
capitalista parar!
Assim vamos
e outro dia de agonia passará. Meus planos furaram. Hoje seria data de
aniversário do meu falecido (e muito querido) pai. Eu e meu irmão bebericaríamos
umas cachaças nas praias da cidade onde ele mora. Ironicamente foi o vírus quem
isolou a humanidade revertendo a prática científica. Precisei cancelar nossa
programação. Se passarmos por essa celebraremos depois. Fica pra outra. No meu
caso, há vírus de diversos tipos para combater.
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