sábado, 21 de março de 2020

A vida em tempos de coronavirus (1)


Opinião


Hoje completará 07 dias desde que configurei-me no modo “antiviral”. Sem estresse, nem paranoia, assumi um autoisolamento parcial. Caminho pela manhã ao ar livre no Aterro e, se muito necessário, faço alguma compra. No mais, fico em casa trocando zap, assistindo Youtube, Now e Netflix. Estudo alguns assuntos e tento fazer anotações (esse texto é um resultado desse exercício). Cancelei as atividades programadas e aulas na UFF também tiveram o início adiado. Faço um esforço para passar o dia ativo e sem cair na tentação de bebericar umas deliciosas cachaças do meu pequenino acervo. Atendendo às restrições de circulação, até a praia está proibida a partir de hoje, possivelmente interromperei a caminhada diária.

Apareceu uma doença que mata gente branca e de classe média, sem discriminação, e estamos todos apavorados. Enquanto só estava morrendo preto e pobre por causas diversas, o mundo não ligava muito, mas o bicho pegou. Ainda assim, as medidas que vêm sendo tomadas e noticiadas cuidam do “mundo visível”, expressão que tomei do professor Boaventura de Sousa Santos. Uma parte enorme da população que é “invisível”, no mundo e aqui no Brasil, está aos cuidados do azar. Eu não consigo pensar em nossa situação sem fazer essas vinculações

Em minha tribo familiar as coisas estão ainda – FELIZMENTE - sob controle, embora todos inseguros por conta das notícias, e bem atrapalhados com as aulas das crianças interrompidas. Na verdade, considerando o cenário, estamos privilegiados pelos recursos que ainda temos acesso. Durante a semana fizemos uma conversa em vídeo conferência pelo celular onde pude ver e brincar com os netinhos. Vamos levando.

Em torno de mim a cidade está vazia e o ambiente tenso. As notícias se tornam assustadoras na medida em que passam os dias e a contaminação progride ameaçando-nos mais de perto. Além de buscar me proteger, tento estar preparado emocionalmente para o que está por vir. Considerando as datas das primeiras contaminações no Brasil, estamos entrando nos prazos de notificações de óbitos e isso deverá afetar as nossas reações emocionais.

Enfim, vamos em frente. Hoje eu deveria estar no Mercado de Peixe bebendo umas cachaças e cervejas com amigos, mas estou aqui, escrevendo essa merda de registro.  Virusinho filho da puta!

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Um comentário :

  1. "Tamo junto"!
    Não pelo medo do vírus, que não é tão letal, mas solidário nessa atitude cidadã para não ser mais um multiplicador de doença.
    PS: Kuristo significa corredor em Esperanto.
    Um abraço.

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