Opinião
O Aterro do Flamengo está estranhíssimo. As
pistas de rolagem que sempre fecham aos domingos e feriados estão abertas, mas
quase não tem trânsito. As pistas internas de pedestres e onde fazemos as
nossas caminhadas estão praticamente vazias. A praia está vazia e monitorada
por helicópteros do exercito ou marinha.
Engraçado é que aqui, nesse retiro
espiritual, sinto-me como se estivesse fazendo as caminhadas matinais. Isso
porque estamos ainda no início dessa crise e eu só penso no momento em que ela
irá acabar, o mesmo sentimento que tenho quando dou os primeiros passos nas
caminhadas que odeio fazer. Será que falta muito pra acabar essa merda?
A natureza vista da
minha janela continua linda – e sem gente. Com tempo para pensar bobagem,
reflito. A vida no planeta sem o ser humano é uma realidade já imaginada, já concebida.
O ser humano em momento nenhum sequer ameaçou o planeta, mas sim a sua própria
existência como espécie. De fato, a extinção planetária é um evento previsto
astronomicamente, mas num prazo de tempo cuja escala escapa da nossa
compreensão, e não decorrente da ação humana.
O inusitado, sem ser
novidade para o ser humano, é que, apesar de todas as potencialidades de
intervenção na natureza para o seu benefício, um atributo negado às demais
espécies conhecidas, só nós desenvolvemos ações que podem implicar em
nossa autoextinção.
É irônico que os
alertas sobre a necessidade de uma alteração radical no modo de ocupação humana
do planeta tem sido divulgados pelos próprios seres humanos. Contudo, é uma
outra espécie, uma porrinha dum vírus, quem está impondo uma alteração no comportamento
de parte significativa das populações. É irônico também que a pausa para
meditação provocada por essa merdinha de vírus se faça da maneira mais tosca, radical
e imbecil: a morte de uma porrada de gente sem excluir, no limite, a
possibilidade concreta de uma extinção em massa.
CARLOTA, LEVANTA E ME SERVE UM CAFÉ, QUE O
MUNDO ACABOU!
Um amigo querido me lembrou dessa exclamação
enviando para mim um vídeo do Eduardo Dussek cantando Nostradamus (1980).
Obrigado amigo!
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