domingo, 22 de março de 2020

A vida em tempos de coronavirus (3)


Opinião


O Aterro do Flamengo está estranhíssimo. As pistas de rolagem que sempre fecham aos domingos e feriados estão abertas, mas quase não tem trânsito. As pistas internas de pedestres e onde fazemos as nossas caminhadas estão praticamente vazias. A praia está vazia e monitorada por helicópteros do exercito ou marinha.

Engraçado é que aqui, nesse retiro espiritual, sinto-me como se estivesse fazendo as caminhadas matinais. Isso porque estamos ainda no início dessa crise e eu só penso no momento em que ela irá acabar, o mesmo sentimento que tenho quando dou os primeiros passos nas caminhadas que odeio fazer. Será que falta muito pra acabar essa merda?

A natureza vista da minha janela continua linda – e sem gente. Com tempo para pensar bobagem, reflito. A vida no planeta sem o ser humano é uma realidade já imaginada, já concebida. O ser humano em momento nenhum sequer ameaçou o planeta, mas sim a sua própria existência como espécie. De fato, a extinção planetária é um evento previsto astronomicamente, mas num prazo de tempo cuja escala escapa da nossa compreensão, e não decorrente da ação humana.

O inusitado, sem ser novidade para o ser humano, é que, apesar de todas as potencialidades de intervenção na natureza para o seu benefício, um atributo negado às demais espécies conhecidas, só nós  desenvolvemos ações que podem implicar em nossa autoextinção.

É irônico que os alertas sobre a necessidade de uma alteração radical no modo de ocupação humana do planeta tem sido divulgados pelos próprios seres humanos. Contudo, é uma outra espécie, uma porrinha dum vírus, quem está impondo uma alteração no comportamento de parte significativa das populações. É irônico também que a pausa para meditação provocada por essa merdinha de vírus se faça da maneira mais tosca, radical e imbecil: a morte de uma porrada de gente sem excluir, no limite, a possibilidade concreta de uma extinção em massa.

CARLOTA, LEVANTA E ME SERVE UM CAFÉ, QUE O MUNDO ACABOU!

Um amigo querido me lembrou dessa exclamação enviando para mim um vídeo do Eduardo Dussek cantando Nostradamus (1980). Obrigado amigo!

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