quinta-feira, 26 de março de 2020

A vida em tempos de coronavírus (7)


Opinião


Quando menino morávamos ao lado de um cemitério, e um comercio local típico eram as funerárias. A vizinhança toda se conhecia. O fulano, o beltrano, o sicrano donos dos comércios tal e qual, bem como os seus familiares. Uma organização social bem diferente dos dias de hoje quando vizinhos de portas em corredor de edifício são completamente estranhos.


Em uma das funerárias trabalhava o filho do proprietário, um moleque pouco mais velho que os da minha idade. A rapaziada local inventou que ele ficava na porta da funerária, na beira da rua principal, incentivando os idosos a atravessarem a rua cujo tráfego nem era intenso, mas não havia sinal (semáforo) naquele trecho.

 Dizia-se que ao ver idosos aguardando a oportunidade de atravessar a rua, mesmo vendo que vinha um veículo, o cara tapava a boca com uma das mãos e falava baixinho, mas alto o suficiente para o pedestre ouvir: “Pode ir que dá!” ou então “Aproveita, essa é a boa ... vão agora!”  Além de outras frases de estímulo que a galera criava. Segundo a rapaziada, ele fazia isso para turbinar o negócio do pai na venda de caixões e coroas de flores. Um atropelamento sempre seria uma oportunidade.

Essas conversas rolavam geralmente à noite, quando nos encontrávamos em uma das esquinas  e, naturalmente,  sempre com a presença do guia de velhinhos que ficava puto da vida, mas participava da gozação.

Eu nunca imaginei que um dia assistiria à representação trágica e real daquela invenção de moleques gonçalenses. Foi dela que lembrei ao ver o ex-capitão boquirroto estimulando os brasileiros a irem para as ruas e serem atropelados pelo coronavírus. Tudo para turbinar o negócio dos seus apoiadores.

Vão! É só uma gripezinha! Levem as crianças! Abram o comercio e as escolas! O ex-capitão incorporou o agente funerário que estimulava os velhinhos  a atravessarem a rua na frente dos carros. Mas, o fez  sem dissimulações. Bem alto e em pronunciamento nacional, ele exortou os brasileiros: Vão ... vão se fuder!

O ato do presidente funerário assustou até alguns que bancaram política e economicamente  sua marcha para o poder. O ato também provocou um efeito indesejado para esses apoiadores. Ele permitiu que a moçada que entregou o seu voto ao defensor  de torturadores veja a merda que fez.

Os seus  partidários espertos e ideológicos, na linha criminosa das fake news, até já forjaram vídeos para sustentar o pronunciamento do boquirroto.  Ao mesmo tempo, os seus partidários otários são usados como  buchas de canhão e tentam  divulgar os falsos vídeos. Mas, felizmente, esses buchas estão passando vergonha e constrangimentos porque são ridicularizados pelos destinatários que pensam e que refletem.

Por mim, quem achar que as medidas preventivas são indevidamente alarmantes deveria pegar a sua família e sair para as ruas. Há restaurantes abertos, até com promoções. Que vão às praias, estão vazias. Façam piqueniques.  Espirrem, tussam entre si, abracem-se. Façam-se de exemplo. Organizem-se em grupos e façam festas e encontros. Só não venham me visitar. Busquem alternativas. Atravessem  a rua, eu estimularei: Vão... vão  para a puta que os pariu!

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2 comentários :

  1. E exatamente o que vejo na atitude irresponsável e politiqueiro do asno. Estou aguardando o que vão dizer seus seguidores fiéis ( se e que existem) porque os oportunistas e estúpidos em geral já estão batendo panela contra ele.

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