domingo, 31 de maio de 2020

Em gaiola de porcos não se espera ver pássaros


Opinião


Conjecturo sobre a nossa situação política. Construímos caminhos por onde prosseguirão  pessoas que são nossas queridas. Gerações mais jovens, além de outras que estão por vir. Sequer estaremos com elas que deverão, a seu modo, construir seus atalhos e caminhos. Mas nem por isso deveríamos “deixar pra lá”.

Resgatei imagens do Amilton Krenak (link abaixo) - liderança indígena que hoje é uma referência política e que têm um papel importante na história do nosso país. Muitos da minha geração se emocionaram com a apresentação do Krenak em uma das audiências para a elaboração da Constituição de 1988. 

Divulgada até pela Globo, a apresentação do Krenak, em setembro de 1987, impactou decisões e contribuiu para o reconhecimento de direitos das nações indígenas, determinando compromissos para os atuais e futuros habitantes desse país que, afinal, resulta de uma ocupação violenta e do extermínio de povos que eram seus habitantes originais.

Hoje, mais de 30 anos após a apresentação de Krenak, a sociedade brasileira levou ao poder, como ministro da Educação, um infeliz que vomita e extravasa a sua discriminação preconceituosa, afirmando que “odeia o termo povos indígenas”.

Krenak foi questionado sobre a fala do ministro, e respondeu:

“ Não somos a humanidade que pensamos, não há uma qualidade “humana”. Se ela existisse, não estaríamos discutindo. Perturbou-me que alguém como essa figura tenha sido escolhida como ministro da Educação. Isso foi uma surpresa, mas dado que isso aconteceu ...”
“Nessa gaiola de porcos eu não esperava nenhum pássaro”

Busquei na internet e vi que a pústula, atual ocupante do Ministério a Educação, tinha cerca de 16 anos de idade quando Krenak, também jovem, ainda com seus 34 anos, impactou o Brasil discorrendo sobre os seus ancestrais e as pessoas de sua origem.

Naquela ocasião Krenak não reivindicou um direito de posse absoluta. Argumentou que suas reivindicações apoiavam-se nas relações dos povos indígenas com a natureza que os cercava. Sua apresentação na constituinte foi emocionante. Mas, vale a pena abster-se da dramatização que ele representou e concentrar-se no seu discurso.

Eu não cobraria de um adolescente de 16 anos a compreensão e  significado do conteúdo da defesa do Krenak na Constituinte. Contudo, independentemente de minha vontade, aquele jovem de 1987 hoje se aproxima dos 50 anos de idade e  assumiu uma  postura canalha com a qual não há como contemporizar.

A pústula adolescente em 1987 transformou-se nesse tumor horrível que infecta toda a sociedade. Contamina todos nós. Precisaria ser lancetado. Expurgado. Ele faz mal e nos putrefaz – mesmo os que não votamos nos fascistas e que não contribuímos para a formação dessa excrescência.

De qualquer forma, estamos falando de política, de escolhas. Não existem deuses nem certezas absolutas. Valores, interesses e intenções são distintos. Acho que vale buscar conhecer melhor e lembrar Krenak – e continuar firme em nossas lutas. Faria bem se essa merda fedorenta e insalubre que ocupa a posição de ministro da Educação fosse desfeita em descarga sanitária. Decomposta, filtrada pela natureza. Talvez, em situação futura, até possa voltar estrumando possibilidades saudáveis de vida. Por ora, é lixo.

Trecho do documentário “Índio Cidadão” – acesso em 31/05/2020 em <https://www.youtube.com/watch?v=kWMHiwdbM_Q>

Live promovida pela editora Companhia das Letras em 24/05/2020 - Mesa 6: Sonhos para adiar o fim do mundo, com Ailton Krenak e Sidarta Ribeiro – Acesso em 31/05/2020 em <https://www.youtube.com/watch?v=95tOtpk4Bnw>

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