Opinião
Hoje o coronavírus levou um dos
maiores compositores da minha geração. Um amigo mandou mensagem pra mim “ É, esta manhã caiu como um viaduto!”.
Ao lado de Paulo Cesar Pinheiro e
Chico Buarque de Holanda, Aldir Blanc, falecido hoje, completava um trio de
gigantes da poesia musical. Sua obra será eternizada. As gerações mais novas
que não sabem quem foi o Aldir também o admirarão logo que ouvirem suas canções
e souberem que ele é o autor.
Para alguns de nós ficará a
lembrança feliz de ter compartilhado com ele o mesmo tempo, a mesma época.
Resposta ao Tempo (Aldir Blanc e Cristovão Bastos)
Batidas na porta da frente
É o tempo
Eu bebo um pouquinho
Pra ter argumento
Mas fico sem jeito
Calado, ele ri
Ele zomba
Do quanto eu chorei
Porque sabe passar
E eu não sei
Num dia azul de verão
Sinto o vento
Há folhas no meu coração
É o tempo
Recordo um amor que perdi
Ele ri
Diz que somos iguais
Se eu notei
Pois não sabe ficar
E eu também não sei
E gira em volta de mim
Sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro
Sozinhos
Respondo que ele aprisiona
Eu liberto
Que ele adormece as paixões
Eu desperto
E o tempo se rói
Com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor
Pra tentar reviver
No fundo é uma eterna criança
Que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder
Me esquecer
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NOTA
Essa poesia/canção é da autoria do Aldir com o Cristovão Bastos e já teve
várias interpretações lindas. A que mais gosto é a da Nana Caymmi. Mas, ela
pode ser ouvida numa interpretação emocionante do próprio Aldir, no link que acessei em 04/05/2020 <https://youtu.be/fgHfzDgOwtY>
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