segunda-feira, 4 de maio de 2020

A vida em tempos de coronavírus (46)


Opinião


Hoje o coronavírus levou um dos maiores compositores da minha geração. Um amigo mandou mensagem pra mim “ É, esta manhã caiu como um viaduto!”.

Ao lado de Paulo Cesar Pinheiro e Chico Buarque de Holanda, Aldir Blanc, falecido hoje, completava um trio de gigantes da poesia musical. Sua obra será eternizada. As gerações mais novas que não sabem quem foi o Aldir também o admirarão logo que ouvirem suas canções e souberem que ele é o autor.

Para alguns de nós ficará a lembrança feliz de ter compartilhado com ele o mesmo tempo, a mesma época.

Resposta ao Tempo (Aldir Blanc e Cristovão Bastos)

Batidas na porta da frente
É o tempo
Eu bebo um pouquinho
Pra ter argumento

Mas fico sem jeito
Calado, ele ri
Ele zomba
Do quanto eu chorei
Porque sabe passar
E eu não sei

Num dia azul de verão
Sinto o vento
Há folhas no meu coração
É o tempo

Recordo um amor que perdi
Ele ri
Diz que somos iguais
Se eu notei
Pois não sabe ficar
E eu também não sei

E gira em volta de mim
Sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro
Sozinhos

Respondo que ele aprisiona
Eu liberto
Que ele adormece as paixões
Eu desperto

E o tempo se rói
Com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor
Pra tentar reviver

No fundo é uma eterna criança
Que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder
Me esquecer

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NOTA
Essa poesia/canção é da autoria do Aldir com o Cristovão Bastos e já teve várias interpretações lindas. A que mais gosto é a da Nana Caymmi. Mas, ela pode ser ouvida numa interpretação emocionante do próprio Aldir, no link que acessei em 04/05/2020 <https://youtu.be/fgHfzDgOwtY>

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