Opinião
Para a galera historicamente engajada no projeto de democratização
das comunicações que se estruturou efetivamente no combate contra a
privatização das telecomunicações, a atualidade tem demonstrado o enorme
prejuízo da desmobilização sindical pós desmonte e venda do sistema Telebrás.
Ao lutar pelo monopólio e pela garantia de um sistema público
de telecom , tínhamos uma visão nítida e acertada sobre o valor estratégico das
redes, incluindo as tecnologias sem fio e de satélites - que eram o objeto de
disputa naquele momento.
Já fazíamos conjecturas sobre as possibilidades futuras dos
ainda infantis serviços de comunicações de dados, como eram chamados por nós,
embora naquelas décadas de 80 e 90 do século 20 ainda estivéssemos anos-luz
distantes e sem a noção do que viriam a ser as redes e serviços criados na
camada de aplicações da teleinformática, como a própria internet e, notadamente, as atuais redes sociais.
Infelizmente, a degradação da organização sindical arrastou
consigo os poucos núcleos então formados ou ainda em formação que agregavam às
suas opções ideológicas conhecimentos profissionais e capacitação técnica, certamente úteis na formulação e sugestão de
pautas de intervenções, de mobilizações e de lutas por políticas de
democratização das comunicações.
Não dá pra voltar a roda do tempo, nem cabe lamentar leite
derramado, mas a reflexão nunca será demais e sempre contribuirá para o nosso
aprendizado.
O estado da arte das tecnologias, a inclassificável
concentração de riquezas, e o surto neoliberal
das privatizações trouxeram-nos ao cenário atual: as big techs e suas redes, até mesmo um
indivíduo, caso notório da rede X, ameaçam e disputam o poder com os Estados
nacionais.
Aquilo que antes era tido como papo ininteligível de “ingênuos”
tecnicistas, hoje é um poder que se materializou na realidade cotidiana com
potencialidade e velocidade de transformações assustadoras.
Tal poder ameaça as estruturas das organizações sociais
quando não destrói ou suprime valores e direitos fundamentais para um projeto
de independência, emancipação e
libertação da humanidade.
A consigna “a luta continua” – desprestigiada - até parece
brincar ironicamente conosco, mas sem outra eu continuo com ela. (Jorge Santos
– Rio, 06/09/2024)
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