sábado, 7 de setembro de 2024

Democracia e Comunicações

 Opinião

Para a galera historicamente engajada no projeto de democratização das comunicações que se estruturou efetivamente no combate contra a privatização das telecomunicações, a atualidade tem demonstrado o enorme prejuízo da desmobilização sindical pós desmonte e venda do sistema Telebrás.

Ao lutar pelo monopólio e pela garantia de um sistema público de telecom , tínhamos uma visão nítida e acertada sobre o valor estratégico das redes, incluindo as tecnologias sem fio e de satélites - que eram o objeto de disputa naquele momento.

Já fazíamos conjecturas sobre as possibilidades futuras dos ainda infantis serviços de comunicações de dados, como eram chamados por nós, embora naquelas décadas de 80 e 90 do século 20 ainda estivéssemos anos-luz distantes e sem a noção do que viriam a ser as redes e serviços criados na camada de aplicações da teleinformática, como a própria internet  e, notadamente, as atuais redes sociais.

Infelizmente, a degradação da organização sindical arrastou consigo os poucos núcleos então formados ou ainda em formação que agregavam às suas opções ideológicas conhecimentos profissionais e capacitação técnica,  certamente úteis na formulação e sugestão de pautas de intervenções, de mobilizações e de lutas por políticas de democratização das comunicações.

Não dá pra voltar a roda do tempo, nem cabe lamentar leite derramado, mas a reflexão nunca será demais e sempre contribuirá para o nosso aprendizado.

O estado da arte das tecnologias, a inclassificável concentração de riquezas, e o surto neoliberal  das privatizações trouxeram-nos ao cenário atual:  as big techs e suas redes, até mesmo um indivíduo, caso notório da rede X, ameaçam e disputam o poder com os Estados nacionais.

Aquilo que antes era tido como papo ininteligível de “ingênuos” tecnicistas, hoje é um poder que se materializou na realidade cotidiana com potencialidade e velocidade de transformações assustadoras.

Tal poder ameaça as estruturas das organizações sociais quando não destrói ou suprime valores e direitos fundamentais para um projeto de independência,  emancipação e libertação da humanidade.

A consigna “a luta continua” – desprestigiada - até parece brincar ironicamente conosco, mas sem outra eu continuo com ela. (Jorge Santos – Rio, 06/09/2024)

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