Leituras para distrair
“ Vem cá Brasil, deixa eu ler a sua mão, menino. Que
grande destino reservaram pra você. E o Brasil cresceu tanto que virou
interjeição. Lá lá lá lá lauê. Fala Martim Cererê
Martin Cererê é um poema ufanista (1928) que o Zé Katimba, em
1972, musicou em um lindo samba enredo para a Imperatriz Leopoldinense, e que foi tema de muitas controvérsias.
A letra do samba diz que a expressão “ Brasil! ” se
tornou uma interjeição de emoção positiva. As chamadas dos programas esportivos
da Globo confirmam isso.
Controvérsias à parte, são fenômenos da linguagem. Autores e
personagens literários deram origens a adjetivos. Termos como dantesco, maquiavélico, quixotesco, kafkiano,
orwelliano incorporaram-se ao nosso linguajar com maior ou menor popularização.
E um desses termos que já foi super popular
é “ balzaquiana ” . Um adjetivo feminino referido originalmente
às mulheres com idades em torno dos trinta anos ou passadas deles.
O francês Honoré de Balzac, lá pela metade do século 19, em
seu romance “ A mulher de trinta anos “ tornou públicas questões que
eram veladas pela moral de sua época. A inutilidade social e frustrações da
mulher que atingia os trinta anos, auge de sua maturidade, sem cumprir as
formalidades sociais obrigatórias de casamento e constituição de família.
Balzac expôs a opressão que sofriam as mulheres com a
interdição de expressarem suas emoções, sonhos e desejos. Infelizmente a
caricatura misógina prevaleceu no uso do termo.
Hoje a referência dos trinta anos das mulheres tornou-se
quase caricata e foi deslocada na escala etária, contudo são muitos os
interditos da época que permanecem e ainda obrigam e mobilizam a organização
política feminina.
A Confraria de Cachaça Copo Furado do Rio de Janeiro, em agosto de 2024, aos seus trinta anos, se faz
balzaquiana de maturidade e experiência.
Porém, diferente da personagem Julia d’Aiglemont de Balzac, a
Copo Furado celebra, manifesta e proclama seus sonhos e projetos. Ousadia! A
Copo Furado chega aos seus trinta anos exuberando vontades e possibilidades,
longe da personagem de Balzac.
A Confraria busca ser um centro convergente de pessoas com
projetos em torno da divulgação da cachaça de alambique em diversas dimensões, cachaceiros
assumidos que expressam suas preferências sem admitir constrangimentos que não sejam aqueles auto
impostos por suas finalidades.
Uma situação inusitada. Poucas áreas de interesse comercial
nesse universo capitalista contarão com
uma " confraria " que trabalha para o fortalecimento dessa
área sem outras motivações.
Tomara que continuemos assim. Até arrisco dizer que a Copo
Furado está criando um novo significado para a expressão Confraria de
Cachaça. Gosto disso. Beber unidos é um prazer enorme e sozinhos também!
### (Jorge Santos – Rio, 17/08/2024)
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