Leituras para distrair
O colégio da minha neta, buscando integrar os alunos
(crianças) aos eventos do RS, propôs como atividade que elas escrevessem cartas
a um coleguinha imaginário riograndense. Os textos são emocionantes.
Guardadas as proporções e contextos, esse fato me fez pensar
sobre como as crianças sentem ou percebem esses momentos de apreensões e
angústias coletivas, e me fez lembrar da minha incompreensão e dos colegas,
quando meninos, durante a crise dos misseis em Cuba e da ameaça de uma guerra
atômica no ano de 1962.
Eu tinha 11 anos, iniciava o ginasial, e lembro do esforço de
um determinado professor tentando explicar o significado das notícias que
ocupavam todos os espaços da imprensa de então. A partir dessas lembranças,
venho tentando imaginar como as crianças atuais do meu convívio estão
absorvendo essas informações que anunciam um mundo sem perspectivas que não
sejam tragédias.
Os fatos são trágicos e cotidianos e as versões são várias,
umas consistentes outras com falsidades oportunistas. Gaza, Ucrânia, além de
outros, e agora Rio Grande do Sul cujas inundações estão arrastando consigo o
tema sombrio do aquecimento global e o esperado aumento da frequência das
crises climáticas agudas. Sem contar a já quase banalizada tragédia das
periferias brasileiras.
Alguém lembrará que enquanto as “minhas” ainda estão
protegidas, há crianças que já estão sendo vítimas diretas desses
acontecimentos. Replico: com toda razão! Não sei o que dizer.
No meu caso, por razões diversas não tenho conversado esses assuntos
com os meus netos. São crianças de 8, 10 e 12 anos que independentemente das
nossas vontades e apesar das blindagens que façamos são expectadores e ouvintes
quase permanentes das notícias, além de potenciais personagens ou vítimas desse
teatro dantesco. Não imagino como eles estão percebendo esses cenários.
Vivemos uma época em que a internet nos faz pensar que as
crianças sabem tudo, e talvez saibam mesmo, no sentido de ter acesso a
praticamente todas as informações – elas dominam aplicativos e navegam em redes
de informações com mais desenvoltura que muitos de nós (do que eu, pelo menos).
Contudo, como elas estarão introjetando essas informações? Quais serão suas
dúvidas, angústias e inseguranças? Minha entrada na adolescência foi na Guerra
Fria e eu tinha muito medo da tal bomba atômica.
Penso também que o ser humano tem certas defesas que são
ativadas em situações extremas. Uma dessas defesas é a banalização dos eventos
como forma de não sofrer com eles. Quem sabe, tais defesas sejam ativadas nas
crianças que passam a ver as tragédias como fatos corriqueiros e que dispensam
a solidariedade, aliás, o capitalismo cuida bem disso. A indústria do
entretenimento cuida de misturar a ficção com a realidade de um futuro
distópico. A nova temporada desta série eu não assistirei, a natureza cuidará
disso.
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