quinta-feira, 13 de junho de 2024

Mísseis de Cuba e a inundação do Guaíba

Leituras para distrair


O colégio da minha neta, buscando integrar os alunos (crianças) aos eventos do RS, propôs como atividade que elas escrevessem cartas a um coleguinha imaginário riograndense. Os textos são emocionantes.

Guardadas as proporções e contextos, esse fato me fez pensar sobre como as crianças sentem ou percebem esses momentos de apreensões e angústias coletivas, e me fez lembrar da minha incompreensão e dos colegas, quando meninos, durante a crise dos misseis em Cuba e da ameaça de uma guerra atômica no ano de 1962.

Eu tinha 11 anos, iniciava o ginasial, e lembro do esforço de um determinado professor tentando explicar o significado das notícias que ocupavam todos os espaços da imprensa de então. A partir dessas lembranças, venho tentando imaginar como as crianças atuais do meu convívio estão absorvendo essas informações que anunciam um mundo sem perspectivas que não sejam tragédias.

Os fatos são trágicos e cotidianos e as versões são várias, umas consistentes outras com falsidades oportunistas. Gaza, Ucrânia, além de outros, e agora Rio Grande do Sul cujas inundações estão arrastando consigo o tema sombrio do aquecimento global e o esperado aumento da frequência das crises climáticas agudas. Sem contar a já quase banalizada tragédia das periferias brasileiras.

Alguém lembrará que enquanto as “minhas” ainda estão protegidas, há crianças que já estão sendo vítimas diretas desses acontecimentos. Replico: com toda razão! Não sei o que dizer.

No meu caso, por razões diversas não tenho conversado esses assuntos com os meus netos. São crianças de 8, 10 e 12 anos que independentemente das nossas vontades e apesar das blindagens que façamos são expectadores e ouvintes quase permanentes das notícias, além de potenciais personagens ou vítimas desse teatro dantesco. Não imagino como eles estão percebendo esses cenários.

Vivemos uma época em que a internet nos faz pensar que as crianças sabem tudo, e talvez saibam mesmo, no sentido de ter acesso a praticamente todas as informações – elas dominam aplicativos e navegam em redes de informações com mais desenvoltura que muitos de nós (do que eu, pelo menos). Contudo, como elas estarão introjetando essas informações? Quais serão suas dúvidas, angústias e inseguranças? Minha entrada na adolescência foi na Guerra Fria e eu tinha muito medo da tal bomba atômica.

Penso também que o ser humano tem certas defesas que são ativadas em situações extremas. Uma dessas defesas é a banalização dos eventos como forma de não sofrer com eles. Quem sabe, tais defesas sejam ativadas nas crianças que passam a ver as tragédias como fatos corriqueiros e que dispensam a solidariedade, aliás, o capitalismo cuida bem disso. A indústria do entretenimento cuida de misturar a ficção com a realidade de um futuro distópico. A nova temporada desta série eu não assistirei, a natureza cuidará disso.

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