Opinião
“Precisamos garantir a governabilidade do governo que
elegemos, e pagamos um preço por isso”. Com argumentos iguais ou similares,
essa tem sido uma justificativa recorrente de alguns militantes diante de
certas ações ou omissões do governo Lula quando pressionado pela direita
política.
Contudo, vale perguntar: devemos pagar qualquer preço? E
na sequência da pergunta: como saber se devemos pagar, qual é o critério?.
Tomemos como exemplo a atual investida da bancada de
estupradores do Congresso e a intimidada reação governo Lula. Felizmente a mobilização
popular arrefeceu o avanço dos parlamentares estupradores, embora sem calar
suas intenções porque a proposta está mantida, e também forçou o governo se
manifestar, embora tardiamente.
Parte do ministério governamental chegou a se manifestar, mas
não autorizados a falar em nome do presidente - como se isso fosse necessário
nesse tipo de questão. Lula, no exterior, inicialmente disse que teria que
tomar mais conhecimento do assunto – como se a questão fosse uma novidade para
ele. Quem não te conhece que te compre! Diria minha avó.
O seu representante na Câmara dos Deputados, quando
questionado respondeu que “essa não é uma questão de governo”. Enfim, Lula
atuou com as mesmas referências do comando de estupradores da direita que
apostou em passar a boiada sem mobilização popular e foi surpreendido. Lula
pisou na bola e pisou feio, outra vez teve uma reação de cagão.
Não há um consenso sobre o Lula cagão, nem eu trato essa questão
como um atributo ontológico do presidente. Para mim é circunstancial e uma
avaliação objetiva do governo deve decorrer de como ele responde às demandas
que lhes são colocadas pela conjuntura política e não por minhas simpatias,
empatias ou admirações por seus reconhecidos méritos. Dou mais valor à questão
inicial:
Devemos deixar de
reagir às questões dessa ordem em nome de uma suposta garantia de
governabilidade e de evitar um impeachment?
Qual deve ser o critério que determinará o sim ou não diante destas questões?.
A resposta é que só os fins justificam os meios, contudo
não se justificam os meios que contradizem os fins que eles visam alcançar Esse
é o critério!
Não dá para governar “esquecendo” os crimes da ditadura contra
a população com a justificativa da garantia de um governo progressista e de
representação popular. Assim como não dá para governar endossando o avanço de
uma bancada de estupradores contra crianças e meninas mulheres em nome da
garantia de um governo que teria como princípio justamente a defesa, a
liberdade e a garantia de direitos dessas mesmas meninas mulheres. Isso é um
contrassenso!
Essa prática contradiz o fim que ela diz querer alcançar. É um
absurdo lógico e político! Não dá para praticar um governo escroto com a
justificativa de garantir um governo que supostamente não seria assim.
Trata-se de um governo de alianças, então todas as questões terão
esse caráter? Certamente não! Possivelmente o governo será uma sequência de
concessões aos seus propósitos programáticos, mas há um limite, e esse limite
são princípios que nem precisam ser enunciados, eles afloram na dinâmica dos
embates. Não deverá haver contradições entre os meios e os fins.
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