Opinião
Nas
primeiras linhas, do primeiro capítulo, da primeira seção do primeiro volume da
sua obra O Capital, há mais de um século e meio, Karl Marx escreveu assim:
“A riqueza das sociedades onde reina o modo de produção capitalista aparece como uma “enorme coleção de mercadorias”, e a mercadoria individual como sua forma elementar”
O sacana do Marx
compreendeu, definiu e ensinou sobre o núcleo do modo de produção em que ele
vivia: o modo capitalista ou capitalismo. Surpreendentemente para muitos em
suas primeiras leituras, o tal núcleo não é o trabalho, nem o homem, nem a
exploração, muito menos a revolução. O núcleo é a mercadoria.
No
capitalismo tudo é tomado como mercadoria, se não for, não tem vez no sistema.
Quem tiver alguma mercadoria pode ir ao mercado
e tentar trocá-la por outras que poderá consumir para sua sobrevivência. Quem
não tiver está fora. É descartável.
E prosseguiu
Marx:
“A mercadoria é, antes de tudo, um objeto externo, uma coisa
que, por meio de suas propriedades, satisfaz necessidades humanas de um tipo
qualquer. A natureza dessas necessidades – se, por exemplo, elas provêm do
estômago ou da imaginação – não altera em nada a questão. Tampouco se trata
aqui de como a coisa satisfaz a necessidade humana, se diretamente, como meio de
subsistência, isto é, como objeto de fruição, ou indiretamente, como meio de
produção”
(Nota: Essas traduções foram copiadas das edições de O Capital da Editora. Boitempo)
O velho
Mouro viu muito além do seu tempo. Mas, não cometamos o equívoco de imaginar
que ele profetizou ou idealizou os dias de hoje. Não! Ele não era mágico e nem fazer idealizações
era a sua praia. Materialista, ele
pensava no mundo a partir das suas experiências e das realidades que
conhecia e, ainda assim, ele viu o coração do sistema – a mercadoria. Aliás,
esse é o título do Capítulo 1 de O Capital. Ovo em pé. Depois que alguém mostra
a solução ela parece óbvia.
Hoje os
jornais informam que o estádio de
futebol Morumbi será, a partir de janeiro de 2024 e durante os próximos três
anos chamado de MorumBis – uma referência à marca de chocolate Bis. Um negócio de 75 milhões de reais. Alguém
vendeu e outro alguém comprou o nome do estádio!
O tipo do
negócio chama-se “naming rights” e a mercadoria é o “nome” do estádio. A
mercadoria atende às necessidades humanas. Se elas provêm do estômago ou da
imaginação – não altera em nada a questão. Essa assertiva foi estabelecida pelo
Mouro há mais de 150 anos.
São muitos
os exemplos de “naming rights”. Negociações similares já foram feitas pelos
clubes Palmeiras e Corinthians. Em 2021 os jornais anunciaram uma crise no
Metro RJ que vendeu o nome da estação Botafogo que passou a se chamar:
Botafogo/Coca Cola.
Muitos comentarão
com indiferença que capitalismo é isso mesmo, vida que segue, mas sem
compreender ou considerar a abrangência desse modo de produção que entende tudo
como potencial mercadoria.
Marx foi
além. Apontou que o futuro do capitalismo é a extinção da nossa espécie, na
medida em que até mesmo a natureza que viabiliza a vida humana no planeta será
consumida como “mercadoria”. E tem gente que acha que a bandeira de fim do
capitalismo é coisa de comunista e de sonhador inconsequente.
Superar o
capitalismo é imperativo se o ser humano não quiser ser o seu próprio algoz.
Tarefa de quem ainda está ou estiver por aqui. Que venha 2024!
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