Opinião
Há uma
distinção entre as questões: o que se espera e o que se deseja do governo
Lula. Elas se relacionam, mas são
distintas. O eleitor cuja motivação foi além da vontade de escorraçar a
extrema-direita do governo talvez esteja refletindo sobre elas, e será bem
fácil cair na armadilha de confundi-las.
Cada um desses aspectos é um mundo de possibilidades analíticas, congruentes ou conflitantes, que até serão simplificadas pelo pragmatismo imposto pela realidade. Contudo, ainda assim, esse é um campo onde os conflitos decorrem de divergências de opiniões e não, necessariamente, de disputas.
Outra questão é o que se deseja do governo, e isso vai além dos princípios comuns que determinaram as alianças entre grupos distintos que se identificam exatamente por desejos distintos. Daí, pode ser até que ocorram convergências de propósitos, mas o natural e legítimo é que esses grupos disputem o governo que elegeram em aliança.
Mesmo que as circunstâncias que envolverem o governo em determinada situação política possam estar dentro de certas expectativas, cada grupo trabalhará (ou deveria) para que as respostas ou iniciativas governamentais apontem na direção de suas metas políticas. Esse é essencialmente um campo de disputas, e é aqui a porca torce o rabo e histórias se repetem.
Apesar da correção política do discurso de Lula que não existem dois brasis e da sua convocação para a união social, a realidade não é assim. Existem vários brasis, e os trabalhadores, as categorias, os grupos sociais buscarão se organizar e lutar embalados pelas palavras de ordens que sintetizam as suas reivindicações.
Um governo para todos não fará o país caminhar na direção da redução das desigualdades sociais, muito menos faze-lo saltar o enorme fosso de atraso e discriminação em que chafurdaram a nossa sociedade. Lula sabe disso, certamente bem melhor do que muitos de nós.
Revogação das reformas trabalhista e previdenciária; reforma agrária; redução de jornada de trabalho sem redução de salários; Fim da destruição ambiental; demarcação das terras indígenas; Educação, saúde, moradia e serviços públicos para todos; revisão de privatizações e do pagamento da dívida ao sistema financeiro; investigação e punição dos fascistas que destruíram o estado nacional e assassinaram lideranças de trabalhadores.
Eu estou no campo dos que desejam um governo que seja, antes de tudo, instrumento de avanço e progresso social, e entre os que acreditam que o principal, se não for único, suporte político com o qual o governo poderá contar será a mobilização social cuja chama deve ser mantida acesa.
Desde já, estou no lado oposto daqueles que acham que as mobilizações de reivindicações perturbam a governabilidade e, especialmente, repudio o discurso conservador, fácil, leviano, malicioso e recorrente que acusa os reivindicantes de estarem fazendo o jogo da direita e do fascismo. ##### (escrito em: 07/11/2022)
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