quinta-feira, 11 de julho de 2024

Genocídio – Descarte de inservíveis para o capitalismo

 

Opinião

Insisto na avaliação que não se dará qualquer passo importante no avanço das políticas progressistas sem uma manifestação explícita do fim do capitalismo como meta. É verdade que aqui ou acolá aponta-se os males do capitalismo, mas quase sempre sem negá-lo, como se houvesse a alternativa de um capitalismo bom no lugar de um capitalismo ruim. Não há isso! Será o fim do capitalismo ou a barbárie que, aliás, já se manifesta.

Os agrupamentos da esquerda hesitam em apontar com clareza que o grande empecilho de uma evolução sociopolítica progressista é o capitalismo e suas determinações, incluindo as atuais democracias liberais. Suas manifestações sugerem a possibilidade de um capitalismo domesticado, e a única expressão que aparece como proposta concreta e sem tergiversações é:  "resistir". Isso é pouco, muito pouco.

As populações mais carentes estão descrentes das propostas políticas da esquerda. Já perceberam que elas não são alternativas para modificar efetivamente suas situações e, assim, respondem equivocadamente ao toque de chamada fascista que convoca para a derrubada de todas as estruturas sociais embora elas, as populações carentes, sejam os verdadeiros alvos e principais vítimas dessa escolha. Preferem arriscar.

Veja-se o caso do Brasil. O governo Lula empenhado em realizar os seus compromissos de frente ampla, desdobra-se em malabarismos para ajustar o inajustável, isto é, as desejadas metas sociais versus as insaciáveis buscas de ganhos das organizações capitalistas e dos seus representantes parlamentares.

O governo até tenta se justificar para a população, mas erra quando cede às barganhas parlamentares sem denunciar e desnudar a farsa que se desenrola no palco político. Pior do que isso, não aponta com clareza para a população uma alternativa de transformação real do quadro atual. Quem propõe sem constrangimentos mudanças revolucionárias é a direita fascista.

A maior parte das correntes de esquerda ou, genericamente, as correntes progressistas confundem o apoio ao governo com a obediência acrítica e quase religiosa  às suas decisões. Negam ao presidente a possibilidade de ouvir opiniões de fora de sua bolha de apóstolos. Isso é messianismo puro, situação catalisada pelas características pessoais e personalidade do presidente. Sem essa crítica, assim como em outras partes do mundo, seguem perplexos diante do avanço da extrema direita. E não nos iludamos com os resultados recentes na Inglaterra e França, positivos, sem dúvidas, mas não revertem o avanço reacionário.

Genocídios. Guerras. Não estão ocorrendo por acasos, coincidências ou idiossincrasias de dirigentes políticos caricatos ou de líderes religiosos fanáticos. As determinações do capitalismo não incluem carregar consigo uma massa humana que deixou de servir aos seus propósitos em decorrência dos ganhos tecnológicos na produção. A solução é o descarte. E essa é a função do fortalecimento e propagação da ideologia e dos agrupamentos de extrema-direita. Esse movimento prosseguirá porque ele faz parte da lógica capitalista cujas corporações sustentam financeiramente suas atividades. Ele crescerá enquanto os movimentos progressistas, de esquerda ou quaisquer que sejam suas designações, não assumirem que as soluções para os enfrentamentos passam imperativamente pela explicitação da luta pelo  fim e superação do capitalismo. Passam também por se desavergonharem de falar em socialismo, comunismo ou revolução. Mas, cá pra nós, nem todos querem isso, talvez ainda por medo ou, quem sabe, por convicção.

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