Opinião
Novidade mesmo nos eventos de 8 de fevereiro foram as
apreensões do passaporte do ex-presidente, a prisão de um coronel e um major do
Exército, além de outro coronel que ainda não foi preso por estar no
exterior, e as ações de busca, apreensão
e ações cautelares contra três generais do Exército e um almirante da Marinha. Afinal,
praticamente toda essa corja já se mostrou explicitamente golpista em outras
oportunidades.
Os investigadores parecem querer isolar o ex-presidente antes
de uma ação de maior porte contra ele, talvez sua prisão, certamente já existem
provas para tal. Mas, também salta aos olhos o cagaço em se avançar sobre o
campo militar - esse grupo armado que traz em sua gênese o golpismo e a
presunção de ser casta superior da
sociedade.
São eventos para comemorar, mas será otimismo infantil
ignorar o consistente apoio popular aos golpistas já manifesto em diversos
eventos promovidos pela extrema-direita, com ápice no 8 de janeiro de 2023
quando o gado fascista se autoimolou. Quem achar que as revelações de 8 de
fevereiro último provocarão um choque de assombro no comportamento dessa galera
estará bastante enganado.
O pau no cu da militância de esquerda é que a tal
“democracia” está em um nível de abstração diferente e distante do mundo real
da população e de suas necessidades. Grande quantidade dos habitantes no mundo
real sequer sabe se democracia é coisa de comer, de beber ou de passar no
cabelo. Afinal, o tal estado democrático de direitos não paga dívidas, não
abriga da chuva, não toma conta das crianças enquanto se trabalha e nem compra
nem manda trazer a felicidade. E a esquerda, infelizmente, ainda não conseguiu
demonstrar o vínculo entre a democracia e as necessidades sociais com a clareza
necessária para um engajamento popular. Falha nossa!
Na pratica, findo o Carnaval, a pergunta que precisa ser
respondida é: em que medida os eventos de 8 de fevereiro afetarão efetivamente
a vida dos tantos que estão fudidos, catando emprego e tendo que caçar um leão
por dia? Ou a vida daqueles que até têm emprego, mas com um salário de merda e
praticamente escravizados em seus compromissos e necessidades? E na vida de
outros que com suas famílias passam sufoco sob
jugos criminosos em alguma região, quando não estão numa fila implorando
por um atendimento de saúde?
Assim, o mote para as conversas de militância precisa partir
das necessidades e as desigualdades antes mesmo da defesa desse ilustre e estranho desconhecido “estado democrático
de direito”, tão estranho quanto foi o tal de Roque Enrow para o pai lírico da Rita Lee.
Fome, miséria, insegurança, desemprego, arrisco dizer -
desconhecidos por parte importante da militância - precisamos partir desses elementos comuns e óbvios da realidade
social e apontar, tentando convencer outros, que os ataques à tal democracia
são uma prática da classe dominante para manter o quadro de exploração. Essa é
a tarefa principal da militância da esquerda. Não é mole, mas ninguém disse que
seria. ###
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