sábado, 3 de abril de 2021

Chance perdida

 Opinião

 A entrevista de Lula na TV Bandeirantes, no dia 01/04/2021, para desespero dos seus opositores, transformou-se em um fato político importante no Brasil e com repercussão até no exterior. Além dos noticiários locais, simpatizantes e antipatizantes de Lula ocuparam redes sociais com observações e, como era de se esperar, muitas das análises tratam das diferenças entre Lula e a maior autoridade política do país que é o presidente Bozo.

 As diferenças saltaram aos olhos. A desenvoltura e o tratamento dos temas por um líder político de importância internacional, em contraponto aos estertores de um chefete de milícia levado ao cargo de presidente da república como efeito de um golpe jurídico parlamentar. Um presidente que diante das questões políticas nacionais não faz ideia se elas são de comer, de beber ou para passar no cabelo.

 A comparação é impossível, apesar da gritante diferença. A aritmética não permite a divisão por zero. Quantas vezes algo é maior que a nulidade? A matemática trata como uma indeterminação.

 Os que vêm Lula como uma representação satânica do PT fazem acusações genéricas de crimes que ele teria cometido ou praticam replicações bobinhas de mensagens desprovidas de qualquer consistência política, quando não são fakenews sem qualquer crítica.

 Fariam melhor se, em vez desse esperneio infantil, encaminhassem as evidências das acusações que fazem para autoridades que certamente desejariam desesperadamente tê-las em mãos. Afinal, praticamente todos os instrumentos de Estado têm sido utilizados com o objetivo de incriminar o sapo barbudo, e o máximo que conseguiram foi montar a armação farsesca conduzida por um juiz ladrão e uma trupe de procuradores moleques que  afastou Lula da disputa eleitoral em 2018.

 Há os que tentam colocar Lula e o Bozo em posições extremas de oposição criando um falso dilema, como se fossem alternativas igualmente contraditórias e insatisfatórias. Essa é uma boa tática, tentar colocar Lula e Bozo no mesmo saco. Ela decorre da impossibilidade de qualquer defesa justificável do ex-capitão boquirroto e do efeito nefasto que seu mandato tem representado para o país. Colocar tudo no mesmo saco transforma uma briga em confusão. As responsabilidades não se distinguem, todo mundo é culpado.

 Ocorre que essa tentativa de polarização, abstraída de um debate sério das questões políticas, só se imporá se for suportada por intensa propaganda. Isso porque a realidade e as experiências dos governos são históricas e públicas, e  insistir nessa visão é negar os fatos que, aliás, se evidenciam com a presença de Lula no quadro político.

 A direita faz um papel correto quando, diante do “caos Bozo”, tenta deslocar Lula como alternativa eleitoral em troca de outras. E foi isso que representou o tal Manifesto pela Consciência Democrática assinado por seis potenciais candidatos à presidência em 2022.

 Esta sim, foi uma iniciativa efetivamente política, concorde-se ou não com os seus representantes. Bem distante do comportamento pecuário bozominion. Contudo, com a  perspicácia que lhe é peculiar, Lula rebateu , no ato:

 Todos eles tiveram a chance em 2018 de deixar a democracia garantida votando no Haddad. Essa gente preferiu votar no Bolsonaro".

 Lembrei-me dos carregadores de fubá em local onde trabalhei, e que em meio a árdua tarefa de carregar uma carreta com toneladas de derivados de milho, conseguiam brincar entre si, sem quaisquer escrúpulos ou restrições morais. Enquanto um sujeito estava ocupado equilibrando na cabeça pacotes de farinha que chegavam a 80 quilos, outro já livre da carga passava a mão na bunda do sujeito ocupado.

 O que estava ocupado, invariavelmente, questionava o “tarado”: Quando você nasceu passou pertinho de um cú, por que não aproveitou e comeu?

 A resposta de Lula caiu como uma luva. Faria inveja ao Brizola.  

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