quinta-feira, 4 de março de 2021

Flanando

 Opinião

Vou ao centro da cidade quinzenalmente e pratico as cautelas que a situação atual exige. Não sei como estão outros bairros além do meu próprio, mas o cenário do centro da cidade está difícil de qualificar. Refiro-me à região que vai desde a altura da Central e Campo de Santana,  até a Praça XV, e desde a Lapa e Cinelândia, até a Praça Mauá. O cenário é decadente, deprimente, triste. Todos esses adjetivos se aplicam. 

Ressalvo que não tenho dados que justifiquem meus comentários, mas é como a situação aparece para mim. A quantidade de lojas comerciais que, visivelmente, foram fechadas no decorrer da pandemia é enorme. O entorno da Cinelândia e Largo da Carioca, incluindo os espaços que foram criados na Av. Rio Branco,  é um enorme camelódromo. 

Excluo a rua da Carioca que já sofria um esvaziamento desde antes da pandemia. Lá, felizmente, no número 10 da rua, ainda é possível o prazer de beber algumas branquinhas especiais no “_Café do Bom Cachaça da Boa_”. Sugiro a visita. 

Os transeuntes no centro são “_muitos_”, porém poucos para quem conhece o ritmo da cidade. Quase não se vê uma moçada flanando como era habitual. São trabalhadores que precisam circular por conta de seus afazeres, assim como são os ambulantes que enchem as ruas de gritos oferecendo seus produtos e até conversando entre si. 

O sujeito da carroça de salgadinhos relata aos berros para o vendedor de capas de celulares casos e situações (geralmente associadas à violência) do bairro onde ele mora. Essa cena se repete por todo o centro da cidade. A máscara é artefato de uso dos transeuntes, são poucos os ambulantes que a usam. Todos estão correndo atrás do prejuízo, tentando seguir com suas vidas apesar da pandemia, mas os olhares por trás das máscaras ou nos rostos descobertos irradiam decadência e desesperança. 

Sempre achei o Rio de Janeiro (refiro-me ao centro da cidade) uma cidade cotidianamente bagunçada, fato que nunca me agradou.  Mas, sempre vi uma bagunça misturada com manifestações de alegria e descontração. Injustificáveis a meu juízo, mas essa é uma característica da cidade,  a cara do Rio. Hoje não vejo assim, a cidade parece estar se desmantelando. 

Preciso acreditar que em algum momento a situação se reverterá, mas arrisco dizer que nem as cervejas, nem os rastapés de blocos das ofegantes epidemias de muitos carnavais serão suficientes para tal. Será necessário algo mais. 

As notícias informam que a cidade adotará um toque de recolher proibindo as atividades comerciais noturnas e a permanência das pessoas em vias e áreas públicas durante a madrugada. Não li o instrumento legal, apenas as notícias. Não vi como será tratada a multidão que todas as noites se amontoa em áreas públicas, nas calçadas em ambos os lados da Av. Presidente Vargas, além de outras ruas, tentando abrigar-se durante a madrugada até reiniciar suas batalhas no dia seguinte. Tomara que tenham previsto uma solução que considere as necessidades daquela galera.  

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