segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Intercorrências na Disney (2)

Opinião

 Redigido em 08/11/2020

A vitória de Biden, talvez mais do que outros eventos da conjuntura, exige uma análise dialética. A lógica formal, instrumento útil  em muitas situações, não consegue dar conta desse fato que explode em contradições.

 

A derrota do Donald, ainda está longe, muito, muito longe de representar uma derrota do que há de pior do imperialismo mundial capitaneado pelo imperialismo americano. Ao mesmo tempo significa, de fato, a derrota de um dos pilares de sustentação do nosso governo Pateta e, talvez, a derrota dos piores valores socioculturais da sociedade americana. Fato positivo.

 

Contudo, a candidatura (e vitória) Biden foi promovida, apoiada, divulgada e sustentada pelo que há mais opressor do domínio capitalista mundial, desde o seu nascimento como candidato, uma vitória da ala mais à direita  do partido Democrata.

 

Em torno da candidatura Biden estão os representantes principais do poderio econômico-financeiro e bélico dos EUA, incluindo conglomerados de imprensa e as gigantes  empresas de redes sociais da internet.

 

Praticamente todos os setores que promoveram a política internacional dos EUA como xerife do mundo nas últimas décadas, incluindo a promoção de golpes, guerras, derrubadas de governos e invasões de países aglutinam-se em torno da candidatura Biden e direcionarão suas políticas de governo. Os Bush, Obama, FBI, CIA, Pentágono – todo mundo lá.

 

Trump foi, e o trumpismo é um câncer político. Célula desordenada e descontrolada gerada dentro do próprio sistema que, felizmente, parece estar numa enorme crise política que seria muito bom se fosse aprofundada. Nosso papel deveria ser divulgar e apregoar essa crise americana, uma secessão política dentro do núcleo do capitalismo, como oportunidade de avanço político.

 

Em vez disso, estamos apregoando a vitória do Biden como uma vitória da democracia. Nada mais equivocado. Teve gente que bateu palmas quando as redes de imprensa em conluio cassaram as denúncias de suposta fraude feitas pelo Trump. Acredito que o Trump estava armando, mas quem deu à imprensa o direito daquele tipo de intervenção? E se fosse o Biden? Isso é democracia?

 

Valorizar a vitória do Biden sobre o Trump como uma vitória do bem sobre o mal, nos termos em que está ocorrendo, é contribuir para a reorganização do  sistema e do regime de composição de forças que tem mantido o mundo ocidental, particularmente o latino-americano,  sob opressão permanente.

 

A derrota do Trump foi um fato positivo e a vitória do Biden é uma merda! Vamos encarar essa contradição de frente. Formalmente parece um beco sem saída, mas dialeticamente a saída é pela superação da contradição e isso teria chances de ocorrer com  um agravamento dos conflitos no núcleo capitalista que precisaria ser estimulado e promovido.

 

Os  arremedos de contestações recentes aqui, na America Latina, são superimportantes, mas não contarão com qualquer condescendência do governo Biden que não passe pela submissão às suas imposições.

 

E no Brasil, não tenhamos dúvidas, se Trump não avançou sobre a America Latina, Biden não deixará passar essa oportunidade, especialmente porque as iniciativas foram do nosso próprio governo Pateta e das forças armadas vassalas nacionais. Arreganharam as portas para o uso militar do território e fronteiras brasileiras para os interesses imperialistas contra nossos vizinhos.

 

Isso não é uma teoria da conspiração, mas porque são fatos concretos, e essa é a história política do Biden e das forças que o apoiam. Essa é a denúncia que precisaria ser feita ao mesmo tempo em que se falar da derrota de Trump. Essa é a contradição.

 

O conjunto político Biden/Trump foi participante e promotor ativo do golpe de 2016 que gerou o câncer Bozo. Assim – aderindo a opinião de outros analistas – concordo que a burguesia nacional está a busca de um Biden tupiniquim para 2022. Assim como nos EUA o câncer Donald, aqui o câncer Pateta tem atrapalhado a dinâmica de desenvolvimento do sistema que o criou. Os avanços contra as proteções sociais não foram suficientes, as privatizações estão mal das pernas.

 

O aplauso das classes dominantes nacionais para a vitória Baiden nada tem a ver com democracia. Ela busca um substituto do Pateta extraído do próprio grupo que promoveu o golpe de 2016. Um candidato de consenso e ungido até pela esquerda. Nem sequer Lula e PT estarão dentro dessas confabulações, muito menos qualquer representação popular efetivamente transformadora e de esquerda. 

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