Leituras para distrair
Atenção! Se você se interessar por
ler esse texto, antes de iniciar faça uma careta para demonstrar que você é
você e que não é uma máquina.
Durante a 2ª.
Guerra Mundial, as forças aliadas conseguiram quebrar o código de mensagens criptografadas
dos seus inimigos alemães. O maior êxito foi obtido por um grupo de
especialistas trabalhando para o serviço de inteligência inglês, coordenados pelo jovem cientista Alan Turing,
um monstro da matemática e da lógica cuja memória ficou como sendo um dos pais
da ciência de computação. O grupo inglês criou uma máquina que decifrava as mensagens
em tempo hábil para a adoção de contra medidas aos ataques alemães, e há
registros que os trabalhos de Turing contribuíram efetivamente para encurtar o
período de guerra.
O comando
britânico não querendo que o inimigo soubesse que suas mensagens estavam sendo
decifradas, mesmo detendo a informação sobre todos os ataques e alvos, escolhia
quais alvos seriam protegidos e quais
seriam deixados a mercê dos ataques alemães. Na prática, decidia quem morreria e quem viveria. Por conta dessas controversas decisões, em nome do objetivo estratégico de ganhar a guerra, a participação (ou uso) de Turing e seu
grupo na guerra foi mantida em segredo, só vindo a público muito tempo depois.
Após a guerra Turing
seguiu trabalhando em suas especialidades, porém, por mais absurdo que se
imagine, ele foi perseguido por seu próprio governo e apontado como criminoso por ser homossexual. Ele
foi preso e condenado, e a sua prisão só foi comutada em troca da concordância de ser punido com castração química para continuar trabalhando. Assim, o jovem e brilhante cientista que
foi peça importantíssima na vitória contra o nazismo foi obrigado a tomar
injeções hormonais. A castração química levou-o à deterioração física e mental,
até o suicídio com ingestão de cianeto, em 1954.
Turing
morreu com apenas 41 anos, assassinado por uma ordem social escrota, onde
o sexo homossexual foi considerado crime até 1967. Um pedido de
desculpas do governo britânico só ocorreu em 2009, após uma campanha via
internet, e o perdão real concedido pela rainha Elizabeth II só veio em
2013.
Entre os
tantos trabalhos de Turing, um clássico ficou conhecido como “Teste de Turing”
ou “Jogo da Imitação”, título do primeiro parágrafo do seu trabalho. Nele
Turing aborda a questão: “Máquinas podem pensar?”. E discorre sobre um conjunto
de conceitos e abordagens para que alguém, tratando com um interlocutor, busque
identificar se está tratando com um ser humano ou com uma máquina. A gênese da
Inteligência Artificial.
Hoje em
dia, ao fazer transações na internet, por procedimentos de segurança temos que repetir
letrinhas confusas e quase invisíveis, devemos apontar se estamos vendo árvores
ou outros objetos em certas imagens ou, simplesmente, levados a fazer um tique
num quadradinho declarando que não somos um robô. O que
ocorre, de fato, é que alguém ou algo está nos submetendo a um tipo de teste de
Turing.
A maioria
de nós nem sabe que, às vezes, ao responder a esses testes, podemos estar sendo
usados como parte de uma enorme máquina virtual, e que quando identificamos
umas letrinhas, sem saber, podemos estar trabalhando para a tradução de uma
publicação antiga e que alguém está ganhando dinheiro com esse nosso trabalho involuntário. Assinalamos um pequeno tique num quadradinho sem saber
que com tal gesto disparamos processos que, à nossa revelia, resgatam o histórico de todos os movimentos que
fizemos através do teclado e com o mouse. Movimentos que geram conjuntos enormes
de informações sobre nós a título de nos identificarem como um ser humano – ou
não.
Quem quiser saber mais sobre como essas coisas
acontecem, eu sugiro assistir ao vídeo do link mais abaixo: “Não sou um robô! A verdade
sobre o reCAPTCHA”. Garanto que vale assistir.
Mas, também
convido a participar do time de admiradores de Alan Turing e a juntar forças na
luta contra essa maré reacionária que vem tomando conta da sociedade brasileira
e de outras pelo mundo. Alguns acham que se trata de uma fantasia ou bobagem. Faço lembrar que o perdão real concedido a Turing, condenado e punido como
devasso numa sociedade hipócrita, só aconteceu com campanha popular, ainda
assim, quase 60 anos após sua morte. #####
NOTA
“Não sou um robô! A verdade sobre o
reCAPTCHA” – Link para o canal Integrando Conhecimento – Acessado em 21/07/2020
em:
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Recorte do artigo original de Turing, disponível em - https://phil415.pbworks.com/f/TuringComputing.pdf
- acessado em 22/07/2020
The Imitaion Game - título do primeiro parágrafo do artigo de
Alan Turing, também foi o título de uma dramatização de sua biografia
para o cinema, em 2014, sob a direção de Morten Tyldum.
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Aprendi sobre Turing como matemático e cientista no primeiro semestre da faculdade de Engenharia. Falava-se somente sobre seu brilho científico. Sobre homossexualidade, nada ( eu estudei na PUC).Impressionante a Inglaterra "perdoa-lo em 2013 através da rainha. Ele e que devia ter de perdoar um país que humilhou até a morte um cientista que teve uma participação decisiva na vitória sobre a Alemanha e poupou vidas.
ResponderExcluirUau! Que texto interessante. Em todos os aspectos. Obrigada. Será útil para mim e amigos, pois viemos discutindo assuntos correlatos. Bjs.
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