quinta-feira, 7 de junho de 2018

Não estava escrito no parachoque

Opinião

A paralisação recente dos caminhoneiros trouxe consigo uma reafirmação importante, tão velha quanto o próprio modo de produção capitalista:

A GREVE É A ARMA DO TRABALHADOR.

Nas relações de produção capitalista e, especialmente, nas condições de superexploração às quais os trabalhadores brasileiros estão submetidos, negar a forca de trabalho e interromper a produção  de bens e serviços é o único recurso eficaz de avançar em conquistas no enfrentamento com a classe patronal e, consequentemente, alterar para melhor as condições de vida da sociedade brasileira. O patrão sabe muito bem disso e, ele mesmo, lança mão desse recurso provocando o locaute como pressão sobre o governo para alcançar seus objetivos. Infelizmente, porém, entre os trabalhadores muitos ainda hesitam.

O locaute dos caminhoneiros, em maio de 2018, deveria ser visto como didático. Sua principal lição foi mostrar que é possível, sim, alterar situações que, a primeira vista, parecem imutáveis. No caso em pauta, os ganhos  até foram além das reivindicações que o motivaram.

Em segundo lugar, saltou aos olhos a diferença no tratamento recebido pelo movimento dos caminhoneiros se comparado com as dificuldades de outras categorias. A complacência governamental e a propaganda favorável dos meios de comunicação para com o locaute contrastaram com o tratamento de outras mobilizações que mal Iniciadas já são criminalizadas e reprimidas na base da porrada.

Para não ir muito longe, enquanto o governo esperou concluir a negociações para vir a público declarar que agiria contra a parcela de caminhoneiros insatisfeita com os termos negociados, no caso dos petroleiros as repressões contra os grevistas ocorreram com utilização de bombas de gás nos primeiros minutos das manifestações, com a AGU e o TST declarando antecipadamente a ilegalidade da greve e ameaçando os trabalhadores com multas milionárias. Mais exemplos são desnecessários, qualquer leitor que refletir será capaz de resgatá-los em sua memória.

Outra lição, que não é nova, foi o papel  da imprensa que estimulou uma simpatia da sociedade para com o movimento, ainda que ela (a sociedade) estivesse refém e sofrendo diretamente os efeitos do locaute disfarçado de greve. A sociedade e os trabalhadores em geral demonstraram uma empatia para com o movimento dos caminhoneiros embora esse último, em momento nenhum, tenha dado qualquer amostra de solidariedade de classe.

Em momento nenhum as empresas ou os donos de caminhões que terceirizam a condução dos mesmos foram cobrados para melhoria nos valores de fretes que são pagos aos caminhoneiros empregados. Nem mesmo foram cobradas melhorias embora nas imagens das TVs o movimento fizesse questão de mostrar as difíceis condições de trabalho, usando-as para angariar simpatias da população.

O movimento dos caminhoneiros sequer questionou a política governamental que submete o nosso país a subalternidade. As criticas ficaram por conta de outros personagens de fora do movimento. Os caminhoneiros reivindicaram e conseguiram a redução dos preços a qualquer custo. Foda-se o resto!  

Segundo os jornais, entre outras fontes de financiamento, o  governo retirou grana contingenciada do  Fundo de Universalização das Telecomunicações (Fust)  e do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações no valor de mais de 700 milhões  para subsidiar o acordo com os “caminhoneiros”.

O que se constata é que as oportunidades que surgiram foram todas aproveitadas em prol de ganhos que beneficiaram basicamente as empresas de transportes.

Essas observações não visam desqualificar o movimento dos caminhoneiros, ao contrário, visam qualificá-lo com mais precisão do que uma genérica “categoria em luta” e, principalmente, extrair aprendizados. As relações sociais são dinâmicas e os trabalhadores em suas várias categorias continuam com a necessidade de enfrentamentos com a classe patronal e o governo, independentemente do locaute que as empresas de transportes de cargas rodoviárias promoveram.

Nós, trabalhadores brasileiros,  precisamos efetivamente de uma greve, uma greve geral, forte, bem mais forte que a de abril de 2017 que, embora forte, foi insuficiente em seus propósitos.

A luta de classes não é uma invenção sindicalista, socialista ou comunista. Ela decorre naturalmente de um modo de produção onde uma classe minoritária patronal explora o trabalho da classe trabalhadora que é a maioria, onde os chamados lucros patronais se fazem exclusivamente a custa dessa exploração, logo são classes com interesses conflitantes, antagônicos, em luta.

Nessa diferença de classes forma-se uma elite econômica que acumula e detém uma concentração absurda da riqueza produzida pelos trabalhadores. Com esse poder econômico a classe patronal se apropria e domina completamente os poderes estatais que deveriam ser públicos - legislativos, executivos e  judiciários e, com tal domínio, objetivando naturalmente conservar sua posição, ela utiliza tais poderes contra a mobilização dos trabalhadores, inclusive com instrumentos de repressão violenta, com a polícia e, se necessário, as demais forcas armadas.

Reverter esse  quadro não e fácil, mas não é impossível. Parece uma contradição, mas o  locaute dos donos dos transportes de carga, um movimento dentro da própria estrutura de poder, nos mostrou isso. Deu-nos lição e exemplos.

Precisamos de uma greve, mas de uma greve de trabalhadores. E os pontos nevrálgicos também estão identificados. A paralisação do transporte de cargas rodoviário é um deles, outro que já conhecemos e que são de fortalezas difíceis de serem tomadas, é o transporte público de passageiros, especialmente os serviços de ônibus, trens metro e similares.

A paralisação dos transportes públicos precisa ser o piquete especial da greve geral, e devemos tratar isso com clareza. O piquete é uma proteção do trabalhador contra os constrangimentos aos quais ele é submetido para ir trabalhar a qualquer custo.

Durante o locaute dos caminhoneiros alguns transportes públicos foram prejudicados e os trabalhadores foram constrangidos a buscarem soluções para chegar ao trabalho, mas o cenário de fundo foi uma compreensão das dificuldades nos deslocamentos provocadas pela paralisação dos caminhoneiros que funcionou como piquete protegendo o empregado faltante. Essa foi mais uma lição. Nos principais centros urbanos não existirá greve se os ônibus circularem. A paralisação desse setor é fundamental. No mais, é Greve Geral neles!

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