Opinião
Aparados os excessos ufanistas, as falsidades ou redações
maliciosas, além dos memes que são divertidíssimos, as notícias mostram a
robustez do monstro americano. Fera ferida, mas não de morte nem derrotada.
Trump é o que é. Um parafuso solto numa engrenagem complexa.
É tão caótico como um pêndulo duplo, mas ele é parte de uma engrenagem e
precisa obedecer a outras determinações. Pode até parecer e agir como doidão,
mas não vai queimar dinheiro nem comer merda.
A burguesia nacional, por sua vez, há muito fez sua escolha,
e não foi ontem. Uma escolha histórica de dependência e subordinação ao capital
internacional. A burguesia nacional nem mesmo tentou construir uma
independência. Desde os seus primórdios
optou por alinhar o país como nação dependente no contexto das nações
capitalistas.
Nesse momento vivemos uma crise que não é um ponto fora da
trajetória e que precisa ser corrigido para tudo voltar ao normal. Trata-se de
uma mudança da própria trajetória. Não é uma perturbação na relação bilateral
entre as economias dos EUA e a brasileira, mas uma mudança de trajetória para a
economia mundial. Essa é uma observação do professor Marcelo Carcanholo (UFF)
que assumo completamente.
Ao lado das corretas intervenções do governo que estão sendo
realizadas para a redução de danos provocados pelo tarifaço, e de outras
situações que possam vir, é hora de se pensar também em uma modificação radical
em nossa estratégia de desenvolvimento
Segundo o professor (em entrevistas e participações em fóruns
publicados na web), podemos não saber muito bem para onde as coisas caminham,
mas é justamente nesses momentos que precisamos considerar os custos e
benefícios dos cenários possíveis, e de colocar na mesa o debate de reformas
estruturais que repensem a inserção e a subordinação do país no comercio
internacional.
Outros pensadores, com observações que não divergem do
professor Carcanholo, advertem sobre a necessidade de também baixarmos o olhar
que mira distante, na direção de Trump. A necessidade de mirarmos a burguesia nacional, esse adversário interno
que sempre atuou como quinta-coluna das grandes corporações capitalistas, e
que, agora, revela-se sem pudores como aliado assumido das práticas
intervencionistas de Trump.
Sem perder de vista a conjuntura internacional, porém
buscando uma restauração e
fortalecimento de nossas energias, antes de tentativas provavelmente ineficazes
de longo alcance, deveríamos optar pelo combate
direto, exposição e, na medida do possível, a exclusão, desses inimigos
internos.
Os partidos políticos que se autoproclamam como partidos de
esquerda, bem como as organizações que se assumem como progressistas, deveriam
assumir essas diretrizes como orientadoras de suas atuações.
É infantilidade ignorar as atuais correlações de forças e o
que significa antagonizar o império americano. Contudo, nesse caso, não se
trata de escolhas, mas de circunstâncias. Também não se trata de assumir um
alinhamento político automático com o governo Lula ou seu partido, mas de
adotar práticas e propostas que signifiquem enfrentamentos concretos e
objetivos com esse inimigo próximo. Chega de tratar a burguesia nacional como
se algo positivo pudesse sair dali. Ela fede! ####