terça-feira, 6 de agosto de 2024

Vera e Lili

 

Leituras para distrair

 

Uma das canções da ópera rock The Wall  do Pink Floyd chama-se “Vera” onde o personagem Pink pergunta sobre a cantora Vera Lynn cobrando dela a  promessa de uma de suas canções: um reencontro num dia ensolarado.

Vera Lynn foi uma cantora britânica que morreu velhinha, em 2020, com 103 anos. Ela foi uma referência durante a segunda guerra mundial quando a sua interpretação da canção We’ll meet again (Nós nos encontraremos outra vez), fez sucesso entre as tropas e se tornou um ícone da memória daqueles tempos.

Eu sei que nos encontraremos novamente em algum dia ensolarado. Sorria como você sempre faz.  Até que o céu afaste para longe as nuvens escuras. Nos encontraremos novamente. Não sei onde, não sei quando, mas eu sei que nos encontraremos novamente em algum dia ensolarado

## (tradução livre de trechos da canção We’ll meet again)

Acho interessante que nos caldos de tantas tragédias e estupidezes humanas ainda sobre esse tipo de lembrança, coisas tão bonitas.

Do mesmo período trágico ficou a lembrança de Lili Marlene. Uma poesia feita por um soldado alemão durante a primeira guerra (1915) que foi transformada em canção em 1938 e usada pelo ministério nazista da propaganda, já na segunda guerra mundial, para elevar o moral das tropas (transmissão via rádio e reprodução por alto-falantes).

O curioso é que a canção, captada e ouvida também pelos combatentes do outro lado das trincheiras, fez sucesso entre as tropas aliadas, a ponto dos nazistas suspenderem as transmissões e proibirem a reprodução da canção gravada originalmente pela cantora Lale Andersen. Mas, ela fez tanto sucesso que as tropas alemães questionaram a censura, e a propaganda aliada bancou uma gravação e passou a divulgar uma versão com Marlene Dietrich que arrebentou a boca do balão.

Nossas duas sombras pareciam uma só e todos percebiam nosso amor, toda a gente ficava a contemplar quando estávamos junto ao lampião, como outrora, Lili Marlene. O lampião reconhece teus passos, teu belo caminhar. Ele ilumina tudo na noite, mas há tempos esqueceu de mim. E se algo me acontecer, quem vai estar junto ao lampião com você Lili Marlene?

## (tradução livre de trechos da canção Lili Marleen)

Lili Marlene fez sucesso no mundo inteiro com várias versões, inclusive uma em português sob a óptica de um pracinha da FEB que é muito legal.

As várias gravações, versões, curiosidades, histórias e registros oficiais com nomes e datas podem ser encontradas na web. Para quem se interessar eu recomendo ouvir as gravações originais de We’ll meet again com a Vera Lynn e de  Lili Marlene com a Lale Andersen. Eu acho emocionantes. Claro, também sugiro a ópera The Wall – saber porque o personagem Pink buscava e cobrava a promessa da Vera Lynn.

Sobrará alguma coisa bonita nesses caldos fedorentos de Gaza, Ucrânia, Síria, Iêmen, Sudão, Etiópia, Somália, Mianmar entre outros? Consta que são mais de 30 conflitos armados no mundo, neste momento, em 2024. Sobrará alguém para ouvir e cantar?

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quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Futuro duvidoso, vejo grana, vejo dor.

 Leituras para distrair

O boteco próximo onde gosto de bebericar umas cachaças acolhe torcedores  de futebol e tem vários telões que são atrativos de clientes. Eu não tenho qualquer relação com esportes, mas gosto de observar a galera quando isso é possível. Apenas curiosidade.

Constato que houve uma mudança especial no comportamento dos expectadores.  Antes a galera se agrupava quase exclusivamente como torcida  que, em coro, gritava, xingava, comemorava ou lamentava os lances da partida. O interesse era pelo desempenho do seu clube ou por resultados de outros jogos que pudessem afetá-lo. Mas, isso mudou, e muito.

A tecnologia arrombou as porteiras das proibições existentes com a possibilidade das apostas virtuais – as BETs (do inglês “to bet” – apostar) - onde os banqueiros são corporações com centro de comando fora do país. Assim, se antes a galera ficava bestificada (meu juízo) diante das telas, agora ela fica BETficada.

As BETs tomaram conta das torcidas. Menos interessada no jogo em si, a assistência fica trocando informações (daí eu saber) sobre suas apostas. Quem apostou em “que”, “quem”, “quando”, “onde” ?

Nos botecos, além dos clientes, os garçons e garçonetes, a moçada dos balcões e até da cozinha, todos fazem paradinhas possíveis em frente a tela mais próxima na expectativa de faturar a aposta que fez. É de impressionar a quantidade de participantes. Afinal, no Brasil as apostas mobilizam um mercado que em 2023 foi estimado em mais de R$ 120 bilhões. Bilhões, com “Bi”.

Até onde observei, sou um dos poucos não apostadores. Nenhum mérito por isso. Apenas não tenho o hábito de apostar. Felizmente! Acho que sou um viciado potencial, então não participo de jogos, e nestes tempos de BETs já considero uma sorte enorme. ###  (Jorge Santos – Rio – 01/08/2024