Opinião
Insisto na avaliação que não se dará qualquer passo
importante no avanço das políticas progressistas sem uma manifestação explícita
do fim do capitalismo como meta. É verdade que aqui ou acolá aponta-se os males
do capitalismo, mas quase sempre sem negá-lo, como se houvesse a alternativa de
um capitalismo bom no lugar de um capitalismo ruim. Não há isso! Será o fim do
capitalismo ou a barbárie que, aliás, já se manifesta.
Os agrupamentos da esquerda hesitam em apontar com clareza
que o grande empecilho de uma evolução sociopolítica progressista é o
capitalismo e suas determinações, incluindo as atuais democracias liberais.
Suas manifestações sugerem a possibilidade de um capitalismo domesticado, e a
única expressão que aparece como proposta concreta e sem tergiversações é: "resistir". Isso é pouco, muito
pouco.
As populações mais carentes estão descrentes das propostas
políticas da esquerda. Já perceberam que elas não são alternativas para
modificar efetivamente suas situações e, assim, respondem equivocadamente ao
toque de chamada fascista que convoca para a derrubada de todas as estruturas sociais
embora elas, as populações carentes, sejam os verdadeiros alvos e principais
vítimas dessa escolha. Preferem arriscar.
Veja-se o caso do Brasil. O governo Lula empenhado em
realizar os seus compromissos de frente ampla, desdobra-se em malabarismos para
ajustar o inajustável, isto é, as desejadas metas sociais versus as insaciáveis
buscas de ganhos das organizações capitalistas e dos seus representantes
parlamentares.
O governo até tenta se justificar para a população, mas erra quando
cede às barganhas parlamentares sem denunciar e desnudar a farsa que se
desenrola no palco político. Pior do que isso, não aponta com clareza para a população
uma alternativa de transformação real do quadro atual. Quem propõe sem
constrangimentos mudanças revolucionárias é a direita fascista.
A maior parte das correntes de esquerda ou, genericamente, as
correntes progressistas confundem o apoio ao governo com a obediência acrítica
e quase religiosa às suas decisões. Negam
ao presidente a possibilidade de ouvir opiniões de fora de sua bolha de
apóstolos. Isso é messianismo puro, situação catalisada pelas características
pessoais e personalidade do presidente. Sem essa crítica, assim como em outras
partes do mundo, seguem perplexos diante do avanço da extrema direita. E não
nos iludamos com os resultados recentes na Inglaterra e França, positivos, sem
dúvidas, mas não revertem o avanço reacionário.
Genocídios. Guerras. Não estão ocorrendo por acasos,
coincidências ou idiossincrasias de dirigentes políticos caricatos ou de
líderes religiosos fanáticos. As determinações do capitalismo não incluem
carregar consigo uma massa humana que deixou de servir aos seus propósitos em
decorrência dos ganhos tecnológicos na produção. A solução é o descarte. E essa
é a função do fortalecimento e propagação da ideologia e dos agrupamentos de
extrema-direita. Esse movimento prosseguirá porque ele faz parte da lógica
capitalista cujas corporações sustentam financeiramente suas atividades. Ele crescerá
enquanto os movimentos progressistas, de esquerda ou quaisquer que sejam suas
designações, não assumirem que as soluções para os enfrentamentos passam
imperativamente pela explicitação da luta pelo fim e superação do capitalismo. Passam também por
se desavergonharem de falar em socialismo, comunismo ou revolução. Mas, cá pra
nós, nem todos querem isso, talvez ainda por medo ou, quem sabe, por convicção.
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